Tragédias como a do Rio Grande do Sul acontecem de tempos em tempos e resultam na perda de lares e vidas em todo o mundo.
As fortes chuvas no estado afetaram 2.398.255 gaúchos e deixaram 178 mortos. Ademais, 806 cidadãos ficaram feridos, enquanto outros 34 continuam desaparecidos, segundo o boletim divulgado pela Defesa Civil nessa segunda-feira (24).
Para serem encontradas, muitas vezes, as vítimas fatais ou com vida carecem da ajuda de profissionais para serem localizadas em meio aos destroços.
O serviço, prestado com zelo e cuidado, atualmente conta com o apoio de cães de resgate, que desempenham um papel fundamental em desastres, na qual, na maior parte das vezes, apenas eles podem achar o indivíduo.
Juntos há cinco anos, Moana e Thiago Evandro Amorim formam um binómio, uma das diversas duplas que prestam essa função no Corpo de Bombeiros do Brasil.
Cabo do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina e residente do município de Penha (SC), ele conta ao site da TV Cultura a rotina de trabalho que efetua ao lado da companheira de quatro patas, que também integra a sua família.
Preparação física e mental
Cedida a Amorim para que ele exercesse seu trabalho, com 45 dias de vida, Moana, assim como outros animais, passou por uma seleção para que fosse retirada da ninhada e colaborasse nos resgates após passar por treinamentos. Uma função que persiste até a aposentadoria.
De maneira geral, a dispensa da função não leva em consideração a idade, mas o vigor físico e a disposição que apresenta durante as atividades propostas. “O que observamos é que as fêmeas costumam trabalhar menos, até os oito anos, enquanto os machos um pouco mais, até os nove ou 10”, revela.
Para que os salvamentos ocorram de forma positiva, os animais, assim como os humanos, exercitam o corpo e a mente semanalmente, com exercícios planejados mensalmente e realizados semanalmente.
“Realizamos dessa forma para que a cada dia o cão exercite uma atividade, para que não sejam promovidas de uma única vez, além de se exercitar, memorizar e fazer tudo com prazer”, explica Amorim.
Assim como para outros cães, a manutenção de uma alimentação balanceada se mostra de grande importância para que o papel seja desempenhado positivamente, inclusive, para os labradores (raça de Moana), que apresentam disposição para ter displasia, doença de grande impacto na mobilidade e que afeta diretamente a qualidade de vida deles.
Além disso, para atuarem nas ocorrências, todos devem estar certificados, em restos mortais e em busca de vivos, tanto para área urbana quanto rural, além de demonstrarem destreza e obediência.
Desde que estão juntos, das cinco maiores catástrofes que o país enfrentou, a dupla esteve em duas, uma delas em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e para Thiago, cada uma representa um aprendizado diferente.
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Segundo ele, até que todas as vítimas que continuam desaparecidas sejam encontradas no Rio Grande do Sul, o trabalho desempenhado pela equipe que integram continua, com revezamentos: dois cães e dois condutores ficam uma semana, depois retornam para casa e em seguida vão outros, dando sequência nas intercalações.
Em uma dessas idas ao estado, inclusive, obtiveram uma grande vitória ao se dirigirem a Cruzeiro do Sul para localizar pessoas em óbito e encontrarem uma criança que estava desaparecida há dias com vida.
“Atuamos em situações onde é quase impossível localizar, então somente o cão pode fazer esse encontro. Então quando eu vou para uma ocorrência e fico por sete dias, localizar uma vítima é algo muito vitorioso [...] é um trabalho muito minucioso e que leva tempo”, ressalta Thiago.
Em todas as operações, para que desempenhem essa função, contam com o apoio de toda uma equipe por trás para dar condição e segurança de trabalho, com a presença de veterinários no local: “O cão não é colocado em um solo onde vai prejudicar qualquer parte dele, que ofereça risco para ele e para o condutor, pois ambos trabalham na mesma área, então há um cuidado gigantesco”, aponta.
Agora, o profissional se prepara para receber um novo cão em sua vida, em 2025, com o objetivo de treiná-lo enquanto Moana ainda está em atividade.
“A Moana é o meu primeiro cão de busca e resgate [...] é algo muito especial, temos uma relação afetiva muito próxima e nos entendemos apenas no olhar [...] Não estou preparado para chegar em casa com a viatura, pegar o meu outro cão e vê-lá ficar em casa, não sei como vai ser, mas é a sequência do meu trabalho e ela vai continuar tendo uma vida muito boa em casa com a minha família”, finaliza.
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