Cada vez mais conhecido, principalmente entre o público feminino, o lipedema atinge cerca de 10% das mulheres em todo o mundo, com mais de 10 milhões de brasileiras possivelmente desconhecendo a existência da condição, segundo dados do Instituto Lipedema Brasil.
O assunto se torna cada vez mais debatido na internet, em círculos de amigas ou familiares, com mais casos sendo descobertos ao longo dos anos. Além disso, famosas, como, por exemplo, a modelo Yasmin Brunet, vem falando abertamente sobre seu diagnóstico em busca de ajudar outras pessoas.
Mauro Figueiredo Carvalho de Andrade, cirurgião vascular e membro da Comissão de Doenças Linfáticas da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV-SP) salienta que o acúmulo anormal de gordura na região das nádegas, coxa, pernas e braços é a principal característica da doença, descrita pela primeira vez em 1940.
Comumente confundida com a obesidade, apesar dos riscos e da distribuição de gordura serem distintos, vem acompanhada de sintomas, como cansaço devido ao peso das pernas, sensação de inchaço, dores a toques até mesmo superficiais, além da facilidade de hematomas ocasionados por mínimos traumas.
“O paciente com lipedema ainda apresenta um desempenho físico pior do que uma pessoa que tem só a obesidade e conta com o mesmo índice de massa corporal, porque o lipedema, além de pontos clínicos, também apresenta algumas coisas específicas, como a função muscular diferente e uma tendência a ter um aumento das lesões articulares. Se trata de uma coisa bem maior do que só a gordura”, esclarece.
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O diagnóstico precoce é definido como de extrema importância, já que conforme o lipedema evolui, a gordura apresenta mais modificações, que, por sua vez, podem dificultar o tratamento: “Quanto mais precoce o diagnóstico menor o tempo em que essa alteração da gordura levará a mudanças que possam ser reversíveis, porque essa é uma doença crônica, como a diabetes, então tem que estar sempre tratando”.
Diagnóstico e tratamento
Por ser uma doença que frequentemente envolve membros inferiores e ocasionalmente gera alterações neles, o especialista mais indicado para se procurar ao surgirem dúvidas sobre a possibilidade de se ter ou não lipedema é o cirurgião vascular.
Com diagnóstico clínico, a doença apresenta maior suscetibilidade para se desencadear em épocas com variações dos hormônios, como a primeira menstruação ou gravidez.
Como ainda não há uma cura definitiva, a principal linha de tratamento foca em comida 'de verdade' — alimentos menos processados — e atividade física, buscando reduzir a inflamação. Drenagens linfáticas e uso de meias de compressão podem ajudar a reduzir o inchaço e a sensação de peso nas pernas.
“O lipedema se acompanha de alterações do sistema arterial, venoso e linfático, que também são vistos pelo cirurgião vascular, mas isso não implica que o tratamento seja exclusivamente vascular, o tratamento é multidisciplinar, então na fase inicial vai precisar dele, do nutrólogo e nutricionista, educador físico e psicólogo”, destaca o especialista.
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Já em fases mais avançadas, quando o resultado completo e necessário não é obtido apenas com o tratamento não-cirúrgico, o cirurgião plástico também é importante: “Mesmo assim, a cirurgia plástica não é o fim e nem a resposta. Mesmo com isso o paciente não pode deixar de se tratar”.
A gravidade de cada caso é dividida em estágios, então, quanto maior a deformidade e a presença de alterações da gordura, mais pobre é a resposta de um tratamento conservador.
De acordo com a SBACV, o lipedema caracteriza-se em cinco tipos distintos:
Tipo I, que afeta a região que vai do umbigo até os quadris;
Tipo II, que atinge a área até os joelhos, com o acúmulo de tecido gorduroso nas partes lateral e inferior dos joelhos;
Tipo III, que estende-se até os tornozelos, formando uma espécie de “manguito” de gordura logo acima dos pés;
Tipo IV, que impacta os braços, frequentemente associado aos tipos II e III;
Tipo V, que limita-se à região abaixo dos joelhos.
“Parece que são dois corpos diferentes, um do umbigo para cima e outro do umbigo para baixo, porque só perder peso não é a resposta, é diferente da obesidade, onde se perde mais ou menos de uma maneira uniforme, mas no lipedema não, se perde mais na área centrada”, finaliza o cirurgião vascular.
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