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Homenagem às vítimas de covid-19 no país
EPA
Homenagem às vítimas de covid-19 no país; estimativa de cientistas para mortes em 2020 aumenta número de 206.624 para 243.787

Os números oficiais de mortes por covid-19 no Brasil já colocam o país no segundo lugar mundial daqueles com maior número de vítimas no planeta, atrás apenas dos Estados Unidos.

Mas, de acordo com uma pesquisa recém-publicada, esse número na realidade é provavelmente maior, já que há evidências de muitas subnotificações.

Pesquisadores brasileiros estimaram que, em 2020, primeiro ano da pandemia, o número de mortes no país foi pelo menos 18% maior do que o registrado oficialmente — segundo os cálculos deles, os óbitos naquele ano passariam dos 206.624 contabilizados para 243.787, uma diferença de mais 37.163 vidas perdidas.

Os resultados foram publicados nesta quinta-feira (5/5) na revista científica internacional PLOS Global Public Health.

Esse número foi estimado para todo o país a partir de uma pesquisa detalhada que os cientistas fizeram sobre 1.365 mortes ocorridas entre fevereiro e junho de 2020 em Belo Horizonte (MG), Natal (RN) e Salvador (BA).

Nas declarações de óbitos destes casos, constava como causa da morte a síndrome respiratória aguda grave (SRAG); pneumonia; sepse; insuficiência respiratória; ou óbito a esclarecer (ou seja, não foi possível definir uma causa).

São quadros de saúde típicos do desenrolar de uma covid-19 grave, mas a citação à covid-19 não constava nessas declarações de óbito.

A desconfiança era a de que esses casos pudessem ter sido decorrentes da covid-19, embora não tenham sido declarados como tal.

Médicos, então, investigaram informações sobre essas mortes em bancos de dados de saúde, prontuários, laudos periciais, entre outros. Eles concluíram, então, que 23,4% dos 1.365 óbitos investigados eram, na verdade, de covid-19 — apesar da doença não estar nas declarações de óbito em questão.

Considerando diferentes faixas etárias, a subnotificação se mostrou maior entre os idosos: dos casos de pessoas que morreram com 0 a 59 anos, 17,3% foram reclassificados pela equipe como covid-19; daquelas com mais de 60 anos, 25,5%.

As declarações de óbitos, preenchidas por médicos, abastecem os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

Esta é, segundo os autores do estudo, a melhor fonte de dados no país para investigar causas específicas de mortes, mas foi impactada pela pandemia — sobretudo pela falta de testes no país e pelo excesso de trabalho para os profissionais de saúde, como os médicos que preenchem as declarações de óbitos.

"Às vezes, o paciente teve covid, mas o médico não recebeu os exames laboratoriais de confirmação a tempo, então declara somente a pneumonia, a síndrome respiratória aguda grave ou insuficiência respiratória", exemplifica Elisabeth França, médica epidemiologista, líder do estudo e professora convidada do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Profissional de saúde olha pra paciente em leito
Getty Images
Responsáveis pelo preenchimento de declarações de óbito, médicos estiveram sobrecarregados na pandemia de coronavírus

Qualidade das informações

A partir da investigação nos três municípios, a equipe estimou os dados da subnotificação de covid-19 no país todo considerando os registros para cada Estado de óbitos documentados como causados por SRAG, pneumonia, sepse, insuficiência respiratória ou óbito a esclarecer. Ou seja, a proporção de casos subnotificados de covid-19 encontrados em Belo Horizonte, Natal e Salvador foi replicada para todo o país.

A subnotificação detectada no país foi maior entre os mais idosos e nas cidades do interior, na comparação com capitais.

Segundo a equipe, o percentual de 18% mortes adicionais por covid-19 em 2020 é conservador, e na realidade deve ser maior.

Um dos motivos para isso é que os cientistas não investigaram outras causas que também podem ser decorrentes da infecção causada pelo coronavírus, como a doença pulmonar obstrutiva crônica.

Além disso, foram considerados óbitos registrados no SIM, ou seja, aqueles que podem ter ficado de fora do sistema não foram investigados.

Elisabeth França explica que o SIM é um bom sistema, com cobertura satisfatória. — ou seja, grande parte das mortes que ocorrem no país de fato são incluídas lá. Entretanto, de acordo com a epidemiologista, é preciso aperfeiçoar a qualidade dos dados, como a especificidade da causa da morte.

O artigo publicado chama a atenção também para a necessidade de treinar os médicos para o preenchimento adequado das declarações de óbito. Essas lacunas já existiam no Brasil antes da covid-19, e foram acentuadas na pandemia.

"Se você tem uma melhor qualidade das informações sobre causas de morte, é possível direcionar melhor as intervenções na saúde pública", explica a médica.

O artigo científico publicado nesta quinta-feira é assinado por pesquisadores de Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Bahia, e teve financiamento da organização internacional Vital Strategies, vinculada à iniciativa para dados em saúde da Bloomberg Philanthropies.


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