Fundação Padre Anchieta

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O sucesso da série da Netflix me lembra uma história da minha adolescência, quando “Sandman” ainda não era lá muito conhecido.

Eu comprava poucos quadrinhos por mês (um, na verdade) quando encontrei aquele título pela primeira vez. Era publicado pela Globo, e não pela Abril, que então praticamente monopolizava todas as HQs americanas que saiam por aqui. O formato era diferente e era mais caro, então “Sandman” nunca esteve em uma lista de compras.

Mas (tem sempre um mas) um dia fui estudar na casa de um amigo. Ele sabia que eu gostava de quadrinhos e quis me apresentar a uma coleção que um amigo havia lhe emprestado: os 28 primeiros números de “Sandman”. Li quase tudo naquela tarde, conversando com ele e arregalando os olhos... Uau, o que era aquilo?

Fui atrás da obra-prima de Neil Gaiman apenas para descobrir que minha fama de pé-frio era merecida (havia quem me chamasse de Geladeira, pois eu era tão azarado que não era só meu pé que era gelado). Estávamos no meio de 1993, e a publicação de “Sandman” havia sido interrompida no Brasil. O número 38 fora publicado em janeiro e não havia previsão do 39.

Mas (tem sempre um mas) eu fiquei sabendo que havia uma loja onde eu poderia encontrar todos os números: a Devir, na Aclimação. Poupei por meses meu rico dinheirinho e fui lá comprar do 29 ao 38 (os primeiros eu já havia lido e, de qualquer maneira, meu dinheiro não daria para tanto). Fiquei cerca de uma hora no ônibus até descer na altura do número 1.000 da avenida Lins de Vasconcelos, caminhei algumas quadras e cheguei lá.

Infelizmente, não podia ficar muito tempo. Peguei os números que me interessavam – eles só não tinham o 30 – e fui pagar. Um homem que estava no caixa viu o que eu comprava e puxou assunto. Primeiro, me deu parabéns por, naquela idade, comprar “Sandman” (o que eu achei engraçado). Depois, me fez perguntas: como eu conheci a série? Por que havia me interessado? O que eu achava que encontraria dali em diante?

Conversamos por mais de uma hora. Sobre “Sandman”, claro, mas não só. Aquele homem, bem mais velho do que eu, já havia lido as HQs que eu comprara e parecia ser muito erudito. Ele praticamente me deu aulas sobre Roma Antiga e os Estados Unidos do século 19. Também falamos sobre Arte em geral e quadrinhos em particular.

Na hora em que fui pagar, ele lamentou que eles não tinham o número 30 à venda. Disse que, se houvesse um número que fosse, ele me daria, para eu ler a série na ordem correta. Agradeci a cortesia, a conversa e tudo o mais e fui embora. Quando estava caminhando as quadras de volta para a Lins de Vasconcelos, avistei uma banca de jornais velha e pequena. Pensei... vai que?

Sim, a banca tinha “Sandman” nº 30 – sei lá como... Não era uma revista fácil de ser encontrada. Comprei e voltei correndo para a Devir, mostrei para o homem, comemoramos e finalmente fui embora.

Hoje tenho “Sandman” completa, vi a série da Netflix e a empresto para qualquer amigo meu interessado – só um se interessou nestas três décadas. E nunca soube o nome daquele homem. Entendi que era um dos sócios da Devir, mas não tenho certeza. Mas, graças a ele, meu prazer por ler não só “Sandman”, mas quadrinhos, aumentou ainda mais. É muito bom poder conversar a respeito de algo que você admira, que mexe contigo, que te estimula. Ele nunca soube, mas me ajudou a ser um leitor mais feliz – e, por extensão, uma pessoa mais feliz.

Não sei se algum vez na vida eu consegui, emprestando livros ou quadrinhos ou escrevendo a respeito, fazer a uma pessoa o bem que este desconhecido me fez. Espero que sim. Gostaria muito ajudar esta corrente de simpatia e Arte ir adiante.