Escrevi, no início de 2022, duas colunas (esta e esta também) que, somadas, traziam dez quadrinhos que eu adoraria que fossem publicados no Brasil. Uma espécie de listinha de Papai Noel fora de época, digamos assim.
Para minha surpresa, fui uma boa criança e Papai Noel me atendeu: 4 dos 10 foram publicados ou estão em vias de ser: “Starman”, de James Robinson, “Lore Olympus”, de Rachel Smyth e os mangás “Ashita no Joe”, de Ikki Kajiwara e Tetsuya Chiba e “Fênix”, de Osamu Tezuka.
Já que a fórmula deu certo no ano passado, por que não repetir agora? Abaixo, cinco quadrinhos que adoraria ver em edições nacionais - temos um menu eclético com aventura, fantasia, drama, romance histórico e humor inspirado em super-heróis.
"As Cidades Obscuras", de Benoît Peeters e François Schuiten
Este não é exatamente um quadrinho, mas uma série de álbuns. O roteirista francês Peeters e o ilustrador belga Schuiten (criador de uma arte de cair o queixo, acredite) narram aventuras ambientadas uma Terra paralela. Lá, a humanidade se dividiu em cidades-estados autônomas. Elas são civilizações bem distintas, e isso é notável, sobretudo, na arquitetura. Schuiten, oriundo de uma família com três arquitetos, levou para esta realidade paralela sua experiência pessoal, a Art Nouveau da arquitetura belga, René Magritte, M. C. Escher, Gustave Doré e… criou algo próprio, um estilo inconfundível.
"Dream of the Rarebit Fiend", de Winsor McCay
O norte-americano Winsor McCay criou, em 1905, um dos mais incríveis quadrinhos de sua época (e francamente, para mim, de todos os tempos): "Little Nemo", uma obra focada nos sonhos (e pesadelos) de um menino com imaginação fértil. Mas esta não foi sua primeira aventura no universo onírico: em 1904, criou "Dream of the Rarebit Fiend" ("Sonhos do diabólico molho galês", em tradução livre), histórias que retratavam, com muita imaginação, os pesadelos de um azarado homem que comeu demais. Um deleite visual e criativo.
"Otoyomegatari", de Kaoru Mori
O britânico Paul Gravett é uma das maiores autoridades do Ocidente sobre quadrinhos asiáticos, e quando ele publica uma lista sobre as dez melhores HQs de lá, eu presto bastante atenção: certeza, de que vai ter muita obra boa que eu ainda não li. E, em sua lista, me deparei com "Otoyomegatari" ("História de uma noiva", em tradução livre), da mangaká Kaoru Mori. Trata-se de um romance histórico ambientado na Ásia Central do século 19 e focado em uma jovem que viaja de sua aldeia para se casar com um rapaz oito anos mais moço. Romance histórico de alta qualidade.
"Quinteto Inferior", de E. Nelson Bridwell, Joe Orlando e Mike Esposito
Rir de si mesmo é bom demais, é a DC Comics fez isso muito bem com Inferior Five (Quinteto Inferior), uma série lançada nos anos 60 e que satirizava os principais heróis da editora. O Quinteto Inferior é uma versão ridícula da Liga da Justiça liderada pelo Feliz (um franzino herói de óculos) e formada por Coelhinha Burra, Pena Branca, Dirigível e Homem-Estranho. Dúvida sincera: será que essas histórias envelheceram mal? Muito do humor daquela década ficou péssimo aos olhos de hoje, mas eu gostaria de ter acesso a este trabalho - sem contar que os autores eram tão despachados que criaram suas próprias versões de heróis da concorrência, como Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e X-Men, com mesmos poderes e uniformes, mas leves alterações nos nomes e codinomes. Ousado - e, até onde vi, bem divertido.
"Thomas no Shinzō", de Moto Hagio
Tenho de confessar minha ignorância aqui: só me interessei por Moto Hagio após descobrir, no site Shoujo Café, que o governo japonês reconhece até hoje sua importância dentro das Artes do país. Em 2012, ela recebeu a Fita Púrpura, uma comenda dada pelo governo japonês para indivíduos destacados; em 2019, foi a vez do prêmio de Mérito Cultural do Ministério da Educação, Cultura, Esportes Ciência e Tecnologia; e em novembro do ano passado, a Ordem do Sol Nascente, Raios Dourados com Fita no Pescoço. Sua obra mais famosa é "Thomas no Shinzō" ("O coração de Thomas", em tradução livre), mangá lançado entre 1974 e 75 - um drama que começa com o suicídio de um aluno de um internato e da carta que deixa para o colega por quem era apaixonado.
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