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Na semana passada, publiquei uma coluna sobre quadrinhos que adoraria que fossem publicados por aqui. A lista ia de “Djarabane”, do artista Adjim Danngar, nascido no Chade, à fase do supergrupo Patrulha do Destino, da DC Comics, criada pela escritora Rachel Pollack.

Na coluna desta semana, amplio minha “wishlist” para 2024, novamente tentando abarcar diferentes tipos de HQs – conquanto, claro, que o resultado final seja ótimo.

Ambush Bug”, de Keith Giffen, com Paul Kupperberg e Robert Loren Fleming

Keith Giffen (1952-2023) era uma espécie de “Super Trunfo” dos quadrinhos de super-heróis: escrevia muito bem, desenhava idem. E transitava nos gêneros: aventuras (como “Sugar & Spike: Metahuman Investigations”), sagas épicas (suas passagens pela Legião dos Super-Heróis), super-heróis com humor (Liga da Justiça Internacional)... Mas nada tão anárquico, engraçado, metalinguístico e imprevisível quanto Ambush Bug, personagem conhecido no Brasil como Besouro Bisonho. As poucas aparições dele por aqui foram como coadjuvante (em uma ou duas páginas, se tanto), e valeria muito a pena termos acesso às histórias em que ele aparece como protagonista.

Gaston”, de André Franquin

A escola franco-belga de quadrinhos já nos brindou com personagens inesquecíveis como Asterix, Lucky Luke, Tintim e Smurfs. Se você não conhece Gaston Lagaffe, a culpa não é sua: ele não teve a chance devida por aqui. Por que será? Distraído, atrapalhado, aparentemente preguiçoso e definitivamente hilário, Gaston protagonizou 22 livros (todos publicados em Portugal, mas inéditos por aqui), sempre com a participação de seu criador, o belga André Franquin. Fico curioso por ver uma edição brasileira bem feita do personagem.

Nancy”, de Ernie Bushmiller

Este é um clássico tão grande dos quadrinhos americanos que é de se estranhar que não seja famoso por aqui. Não chega a ser inédito: segundo o site Guia dos Quadrinhos, ótimo catálogo das publicações no Brasil, Nancy saiu por aqui 17 vezes... entre 1947 e 52. E depois uma em 1980. Muito pouco, e há muito tempo, e nunca em um título próprio.

Ernie Bushmiller (1905-82) criou Nancy em 1933. Trata-se de uma menina de oito anos, peralta e divertida como as crianças de sua idade. Suas histórias giram em torno de seu universo infantil e de seu amigo Sluggo. O grande mérito de Bushmiller foi algo que, dito em voz alta, pode parecer simples, mas não é: fazer humor. Com traços intencionalmente simples e chistes certeiros, ele alcançou os públicos infantil e adulto.

A tira continua até hoje, claro que sem o autor original – aliás, Olivia James, que assumiu a HQ em 2018, é a primeira mulher a criar as histórias da personagem (Olivia James é pseudônimo, não sabemos o nome real dela).

Ōoku”, de Fumi Yoshinaga

Diferentemente dos três anteriores, este é um quadrinho recente e foi publicado pela mangaká Fumi Yoshinaga entre 2004 e 2020 – ganhou muitos prêmios no período, como o Prêmio Osamu Tezuka (2009) e o Shogakukan (2011, categoria shoujo - voltado para leitoras pré-adolescentes e adolescentes). A premissa é ótima: uma praga misteriosa dizima 80% da população masculina no século 17 – como fica a sociedade japonesa diante de tamanha tragédia?

O mangá é inédito no Brasil, mas o animê que o adapta está disponível na Netflix com o nome de “Ōoku: Por Dentro do Castelo”.

T’Zée”, de Apollo e Brüno

O tunisiano Apollo (roteiro) e o alemão Brüno (desenho) trazem uma drama contemporâneo ambientado em um país não identificado da África (mas que lembra a República Democrática do Congo): um presidente despótico está prestes a deixar se governo e se preso. Como essa guinada no comando do governo vai impactar na sociedade local?

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.