Nada contra o Papai Noel, mas minha listinha de desejos vem beeem depois do Natal – quase 20 dias.... Toda vez que o ano vira, escrevo aqui na coluna uma listinha com os quadrinhos que eu gostaria que fossem publicados no Brasil. Às vezes, dá certo e os Deuses das HQs me atendem: casos do mangá “Ashita no Joe – Em Busca do Amanhã”, de Asao Takamori e Tetsuya Chiba, ou, pegando um exemplo do mundo dos super-heróis da DC Comics, a fase da Patrulha do Destino escrita por Rachel Pollack.
Felizmente, tem muito mais quadrinhos inédito louquinho para ser traduzido para o português com sotaque brasileiro. Abaixo, minha humilde lista de desejos:
“El Cuerpo de Cristo”, de Bea Lema
Esta multipremiada obra recente (é de 2023) me atrai tanto pelo tema quanto pela forma. A espanhola Bea Lema criou uma HQ autobiográfica sobre saúde mental (o que por si só já é importante) e a apresenta com uma inovadora mistura entre ilustrações e bordados. Lindo demais de ver.
“Justice League 3000”, de J.M. DeMatteis, Keith Giffen e Howard Porter
A dupla J.M. DeMatteis e Keith Giffen nos brindou com uma das melhores fases da Liga da Justiça, não só pelo humor, mas por apresentar o lado humano dos heróis. Anos depois, os dois se juntaram novamente para uma abordagem diferente: em um futuro distante, cientistas tentam recriar a Liga para enfrentar vilões com poderes divinos. A clonagem é imperfeita, e temos heróis emocionalmente incompletos. Sai de cena o humor e entra ação de perder o fôlego...
“Les Pieds Nickéles”, de René Pellos
Sempre que leio sobre a história dos quadrinhos franceses, este nome aparece com enorme respeito: René Pellos (1900-98). Sua obra “Futuropolis”, lançada em 1937, é tida como a primeira HQ de ficção científica de seu país, o que já me desperta curiosidade. Mas se tivesse que escolher HQ sua para sair por aqui, seria o humor dos “Les Pieds Nickéles”, uma série que não foi criada por ele (Louis Forton a inventou em 1908), mas que Pellos publicou incansavelmente entre 1948 e 1981.
“Yawara!”, de Naoki Urasawa
O mangaká Urasawa não é desconhecido por aqui. Os tensos e envolventes “Pluto”, “20th Century Boys” e “Monster” foram publicados até o fim, mostrando um artista exímio na arte de criar suspense. Maaas... e se este mesmo Urasawa se debruçar sobre um mangá de esportes? A resposta está em “Yawara!”, que retrata uma menina criada secretamente pelo avô para se tornar uma grande judoca.
“Yes, I'm Hot in This: The Hilarious Truth about Life in a Hijab”, de Huda Fahmy
Artista contemporânea, Huda Fahmy é americana, filha de um egípcio e de uma síria que cresceu falando árabe em casa e traz uma perspectiva pessoal para os quadrinhos que é rara de ser visto por aqui. Seu livro de estreia é este “Sim, está quente aqui: a verdade hilária sobre a vida no hijab” (tradução livre), em que aborda o cotidiano de uma mulher muçulmana nos Estados Unidos – como sua cabeça está coberta pelo hijab, sabe quantas vezes por dia perguntam se ela tem cabelo?
Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.
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