Coluna Hábito de Quadrinhos

A história do quadrinista que aprendeu a usar os olhos para desenhar


17/05/2021 15h55

“Eu fui diagnosticado com ELA (esclerose lateral amiotrófica). Isto me deixa furioso e desolado. Afetou minha voz por meses e agora está se movendo para minha respiração. Está descendo pelo meu corpo e vai inutilizar tudo para sempre.

Mas ainda há muitas coisas que quero fazer. Tenho muitas ideias de quadrinhos que escrevi e quero desenhar. (...) Eu não estou enfrentando isto sozinho. Minha incansável mulher está fazendo o que pode para me ajudar. Minha filha e meu filho me trazem uma alegria imensurável. (...)

E hoje eu não estou morto. Eu vou caminhar, desenhar, amar e respirar até eu não poder mais. Mas, por enquanto: eu estou vivo.”

Tirei as frases acima de uma história autobiográfica de três páginas do quadrinista norte-americano Patrick Dean, que morreu na semana passada. Soube da morte dele na sempre ótima coluna Enquanto isso..., do Érico Assis. E fui atrás do Patrick Dean para me informar mais sobre sua vida.

Dean nasceu em uma cidade dos Estados Unidos com nome de europeia e estudou em outra. Ele é de Rome, de 35 mil habitantes, e cursou design gráfico em Athens, um pouco maior: cerca de 115 mil moradores, ambas no estado da Geórgia.

O quadrinista virou uma referência na arte local nos anos 90, criando obras independentes e autorais e publicando em fanzines e na revista alternativa “Flagpole”. Entre suas referências, citava o italiano Hugo Pratt, criador do Corto Maltese; o francês Tomi Ungerer, cujo trabalho ia de livros infantis a obras eróticas; o prolífico americano Jim Flora; e o também americano Jack Davis, um dos pilares da hilária revista “Mad”.

O período inaugural de sua carreira foi marcado por histórias bem diferentes, flertando com o surreal e o humor, misturando gângsteres com fantasmas, monstros com detetives. E polvos.

Dean recebeu o diagnóstico de ELA em 2018 e continuou usando as mãos para desenhar enquanto pôde. Aí, passou a trabalhar com os olhos, graças a uma incrível tecnologia chamada eyegaze. Todas as artes que ilustram essa coluna foram feitas com os olhos. É impressionante.

Dean é, infelizmente, inédito no Brasil. Teria um prazer enorme em ler as obras dele em português. Para quem é fluente em inglês, é possível acessar o trabalho de Dean em seu blog.

Tenho certeza de que alguém há de escrever um livro sobre Dean, o homem que nunca desistiu. Seu amor pelos amigos, pela família, pelos Quadrinhos, pela Arte, pela Vida, o mantiveram ativo até os últimos dias – publicou em sua conta no Instagram uma arte inédita (“Arizona Vampire”) apenas duas semanas antes de morrer.

Acho que não tenho muito além a acrescentar sobre Dean que ele próprio já não nos tenha dito, por meio do seu exemplo, sobre Amor, Arte e Vida. Que você seja feliz onde estiver, Dean. Nós, seus fãs que aqui ficamos, agradecemos por todo seu trabalho.

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