Fundação Padre Anchieta

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Seja por traição da memória ou por malandragem deliberada, uma pessoa pode errar informações ao relatar um evento para um repórter. Ao contar a história que ouviu em matéria jornalística, o profissional de comunicação acaba por legitimar o erro involuntariamente, fazendo parecer verdade algo que fora inventado por sua fonte. Não por acaso, métodos menos subjetivos são cada vez mais demandados na produção de conteúdo noticioso, com considerável ajuda das tecnologias da informação e comunicação (TICs).

A fragilidade de se fundamentar uma narração a partir das palavras de terceiros é motivadora da existência de princípios elementares do bom jornalismo, como a recomendação de consulta a mais de uma fonte e a necessidade de dar voz a todas as partes envolvidas no fato a ser noticiado. A não observância desta última regra, por exemplo, colocou a mídia no banco dos réus no famoso caso Escola Base, ocorrido nos anos 1990, em São Paulo.

É na apuração jornalística que reside o principal aliado da sempre desejável credibilidade. E quanto mais objetiva for a investigação, mais chances de êxito terá, deixando pouco espaço para questionamentos. No entanto, exigir pragmatismo de algo que se origina em contar causos pode soar um tanto abstrato.

Já na década de 1960, o norte-americano Philip Meyer vislumbrou uma maneira de aproximar o jornalismo da ciência durante um curso de métodos quantitativos em ciências sociais, em Harvard. A partir de questionários que o próprio Meyer tabulou foi possível identificar autoria e motivação para os protestos violentos que assustaram a cidade de Detroit, nos EUA, em 1967. Nascia ali o chamado jornalismo de precisão, mais tarde rebatizado como reportagem auxiliada por computador (RAC), na medida em que o uso de tecnologias crescia na sociedade americana da época.

A partir da conexão em rede que a internet possibilitou, nos anos 1990, o processo de investigação jornalística ganhou tração e amplitude. Agora, não só é possível utilizar computadores para processar informações obtidas em arquivos públicos - como fez Meyer em 1967 e que lhe rendeu um prêmio Pulitzer – como os próprios bancos de dados podem estar bem ali na tela dos repórteres, prontos para serem explorados. A este novo momento da produção de notícias dá-se o nome de jornalismo de dados.

É por causa dessa habilidade desenvolvida nas redações nos últimos anos que há hoje um acompanhamento detalhado da imprensa sobre a evolução da pandemia do coronavírus no país, por exemplo, sem a dependência de uma fonte oficial. A partir do acesso aos dados públicos de casos, internações, óbitos e outras informações relevantes obtidas nos sistemas das secretarias estaduais de saúde, pode-se estabelecer relações e tendências e, finalmente, gerar noticiário de interesse público.

É evidente que esses processos de maior ou menor complexidade tecnológica demandam alguma familiaridade com sistemas, lógica e programação computacional, o que não é trivial para gerações de jornalistas pré-internet. Mas jovens profissionais, que já nasceram com acesso a banda larga, trazem consigo o DNA do clássico “nerd” do tempo de Philip Meyer e que virou pop na era do videogame.

Essa nova leva de jornalistas conta com ferramental e ambiente favoráveis para revolucionar a tradição jornalística do sujeito “de humanas” e tornar a produção de notícias algo um pouco mais “de exatas”. A quebra de paradigmas pode se dar não apenas pela apuração sem intermediários em bancos de dados ou pela produção de informações inéditas e sofisticadas a partir de outras em estado bruto, mas também pela metodologia, que ao ser explicitada nas reportagens aquece o coração do cidadão que não quer se informar por ficção.

Pode estar aí a objetividade contada em verso e prosa nas faculdades de jornalismo e que muitos julgam ser uma falácia. Talvez seja, de fato, se mensurada pela régua típica do século 20. Mas há essa nova maneira de se fazer o trabalho e que pode ser menos suscetível a invencionices. Obviamente, saber programação, tabulação em planilhas e seguir uma metodologia não livra repórteres de vexames, como o da Escola Base. Mas ajuda a isolar e vigiar o sensacionalismo.

Ricardo Fotios é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação e da cibercultura. É autor de Reportagem Orientada pelo Clique (Appris, 2018).