Fundação Padre Anchieta

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Neste Slime, quero falar de uma coisa que povoa nosso imaginário de forma direta ou indireta: os bonecos manipulados. Desde o berço, tem sempre alguém pegando um bichinho de pelúcia ou mesmo uma fralda, manipulando e inventando voz para nos distrair. Nas escolas, muitas professoras utilizam os fantoches de forma pedagógica, para nos entreter, instruir ou explicar. Hoje em dia, até as propagandas de televisão usam bonecos para vender seus produtos, como as campanhas da Ford com seus animais, por exemplo.

Mas, o que há de tão mágico nisso? Por que é que, mesmo quando adultos, nos pegamos encantados por bonecos que sabemos serem manipulados por uma pessoa? Talvez eu mesmo termine este Slime sem saber a resposta. Mas isso não importa. O fato é: nos permitimos acreditar por algum motivo.

A manipulação de bonecos no teatro é uma forma de representação muito antiga, utilizada por culturas do mundo todo. A pessoa que manipula o boneco é um ator ou uma atriz e as técnicas e mecanismos podem ser variados. Vou te apresentar algumas delas:

Fantoche ou boneco de luva – o manipulador calça na mão o “boneco”, que normalmente possui corpo de tecido. O dedo indicador manipula a cabeça e os dedos polegar e médio manipulam os braços.

Boneco de Vara - A manipulação é feita por varas, hastes de um objeto acoplado às varas ou bonecos projetados com mecanismos de boca e olhos. Bonecos de figura humana, normalmente, possuem uma vara como eixo central e outras duas para os braços. A manipulação permite tanto movimentos rápidos e bruscos quanto movimentos suaves e delicados. Dependendo da complexidade dos bonecos, é necessário mais de um manipulador para todos os mecanismos.

Marionete - Do francês “marionette”, é um tipo de boneco manipulado por fios ou cabos conectados a uma estrutura de madeira em cruz. Uma característica da marionete é a coordenação do boneco com apenas uma mão que manipula a cruz, deixando livre a outra mão para manipular outros fios e mecanismos. As marionetes são capazes de representar praticamente todos os movimentos humanos ou de animais, além de diversas outras possibilidades de articulações específicas a cada boneco.

Boneco de Manipulação Direta – A manipulação, inspirada no Bunraku, é uma técnica tradicional de Teatro Japonês na qual o boneco é manipulado de forma direta, à vista da platéia e sincronicamente por três pessoas: um manipulador controla e direciona a cabeça e seus mecanismos enquanto sustenta o peso do boneco pelo quadril, um segundo manipulador manipula os braços e o terceiro os pés.

Boneco de Balcão

O boneco de balcão é uma variação da manipulação direta em que os manipuladores não tocam diretamente no boneco. Ele é manipulado em uma mesa, bancada ou balcão e, normalmente, possui um mecanismo central em suas costas ou cabeça, o que possibilita a coordenação de peso e eixo em apenas uma mão. Mãos e braços do boneco podem ter mecanismos que são articulados pelo cotovelo. Uma das grandes vantagens do boneco de balcão é a possibilidade de manipular os mecanismos da cabeça e do pescoço no interior do boneco, além da manipulação por apenas um ou dois manipuladores.

Boneco de Sombra – É a manipulação de figuras em focos de luz, projetando suas silhuetas em uma tela. As figuras de sombras são chamadas bonecos de sombra e podem ser silhuetas chapadas ou tridimensionais, articuláveis ou não. Além da criação de sombras com o próprio corpo humano, o sombrista pode utilizar máscaras e outros aparatos em seu próprio corpo para a projeção de formas, volumes e silhuetas.

Teatro de Fundo Negro - Nesta técnica de manipulação, os manipuladores não ficam visíveis para o público. O fundo do cenário e os manipuladores estão de preto, causando a ilusão de que os objetos se movimentam sozinhos. Diversas técnicas e mecanismos podem ser usadas em conformidade com o Teatro Negro, principalmente no que se refere às écnicas de trabalho com luz negra, à exemplo do Teatro Negro de Praga.

Bem, este apanhado geral foi só pra familiarizar você com o tema. Existem ainda outras técnicas de manipulação de bonecos, mas meu objetivo aqui é falar dos bonecos na televisão, sobretudo na televisão brasileira.

Na história recente da nossa TV, temos os bonecos do Bambalalão, do Castelo Rá-Tim-Bum, do X-Tudo e muitos outros. Você lembra deles? Ainda está fresquinho em nossas memórias o excelente programa infantil Cocoricó, cujos personagens são parte animais e parte gente, como o menino Júlio (que tem até um canal no YouTube).

Hoje, temos também o programa infantil Quintal da Cultura, onde vivem o jabuti Quelônio e a minhoca Minhoquias, bonecos manipulados pelo mesmo ator – no caso eu, que vos escrevo. Aos domingos, temos os cavalinhos do Fantástico e, dentre outros programas que utilizam o aspecto lúdico dos bonecos para atingir de crianças a adultos, eu preciso, por um momento, pedir licença para abrir outro parágrafo e homenagear o excelente artista Tom Veiga, manipulador do divertido Louro José, do programa Mais Você, da TV Globo, falecido esta semana vítima de um AVC.

Tom Veiga conquistou respeito e notoriedade para toda classe de manipuladores de bonecos com seu Louro José. Ele preferia não aparecer diante das câmeras para não “atrapalhar” a imagem do seu personagem. Com técnica, inteligência, humor e muita improvisação, dividia a apresentação do programa com a apresentadora Ana Maria Braga, da qual era, sem dúvida nenhuma, o braço direito no programa.

Tom, sua alma continuará reverberando através da sua arte, porque o Louro, esse papagaio piadista e bem humorado, é seu eterno legado e permanecerá em nossas lembranças. A você, o meu (o nosso) obrigado! Até breve!

Para chegarem até o presente momento da televisão brasileira, o Júlio do Cocoricó, o Gato Pintado da biblioteca do Castelo, o Louro José, o X do X-Tudo, o Quelônio, a Minhoquias e demais bonecos da nossa televisão foram antecedidos por antepassados:

A manipulação de bonecos na televisão, segundo minha pesquisa, se popularizou nos Estados Unidos com a série Sam and Friends, que foi ao ar de 1955 a 1961, na qual os Muppets criados por Jim Henson conviviam com humanos. Depois, a partir de 1969, os Muppets começaram a aparecer na série Sesame Street e, finalmente, em 1976, alcançaram status de celebridade com o Muppet Show.

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No Brasil, tudo começou com a chegada da série infantil Vila Sésamo no dia 12 de outubro de 1972. A parceria da TV Globo com a TV Cultura era uma adaptação do programa norte-americano Sesame Street. A ideia partiu de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que oferecia o elenco global, e Claudio Petraglia, diretor da TV Cultura, que oferecia os estúdios para gravação. O programa foi exibido por ambas as emissoras de 1972 a 1974 e depois seguiu sendo exibida apenas pela Rede Globo até 1977. O cenário era uma vila operária onde conviviam adultos, crianças e bonecos.

A partir de 1973, Vila Sésamo foi ficando mais brazuca – os bonecos Garibaldo, Gugu e Funga-Funga ganharam versões brasileiras. Porém, foram mantidas as cenas originais americanas com os bonecos criados por Jim Henson sendo dublados por atores brasileiros.

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Para dar vida aos personagens humanos tipicamente brasileiros, nomes como Armando Bógus (Juca), Sônia Braga (professora Ana Maria), Aracy Balabanian (Gabriela) e Flávio Galvão (Antônio) foram chamados. Já para dar vida aos bonecos, o elenco contava com Laerte Morrone (Garibaldo), Roberto Orosco (Gugu), Marcos Miranda (Funga-Funga), Alexandre Moreno (Elmo), Tereza Cristina (Pipoca), Elany Del Vecchio (Jujuba), Sônia Guedes (Marocas), Antônio Petrin (Marinheiro), Henrique Lisboa (Sabichão), Aziz Bajur (Bidu).

Foi um grande sucesso infantil na TV brasileira, mesclando educação, diversão e humor com desenhos animados e canções. E, claro, inspirou todos os outros programas infantis que conhecemos: Bambalalão, X-Tudo, Castelo Rá-Tim-Bum, Quintal da Cultura, Tá Certo?, e vários outros! Me desculpe se não relacionei o seu programa preferido aqui, temos a sorte de ter uma lista gigante de produções de qualidade com bonecos!

O mesmo programa Vila Sésamo teve uma segunda versão brasileira produzida pela TV Cultura que estreou em outubro de 2007, com apenas dois personagens gravados no Brasil : o Garibaldo, vivido por Fernando Gomes, e a bonequinha Bel, criada especialmente para o nosso país, vivida por Magda Crudelli, e uma maior quantidade de cenas do seriado norte-americano. Nesta nova versão brasileira, o Garibaldo tem penas amarelas, como na versão original, e não azul como o Garibaldo brasileiro dos anos 1970. Depois de um tempo, a TV Cultura lançou, recentemente, uma nova temporada da atração, chamada apenas Sésamo, protagonizada por Elmo. Na versão mais atual, várias celebridades visitam a vila para participações especiais.

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Não poderia deixar de registrar aqui alguns dos “bonequeiros e bonequeiras” (termo utilizado pelos profissionais do teatro para designar aqueles que atuam manipulando bonecos) que dão voz e vida a diversos personagens na TV: Kelly Guidotti, Neusa de Souza, Leo Abel, Enrique Serrano, Álvaro Petersen Jr., Eduardo Alvez, Rubinho Louzada, Falcon Mantovani, Nilton Marques, Carlota Joaquina, Sandro Gattone, Magda Crudelli, Hugo Picchi, Debora Vivan, Cláudio Chakmati, Marcos Bertoni, Clayton Bonardi e muitos outros. Se quiser saber mais sobre a arte da manipulação de bonecos, você pode pesquisar sobre o trabalho de qualquer um deles e só irá encontrar referências fantásticas!

E, para finalizar este Slime com chave de ouro e tentar responder à pergunta lá de cima – o que há de magia por trás desses bonecos? –, entrevistei nada mais nada menos do que ele, que bebeu na fonte ao se inspirar em Jim Hanson; ele, que teve a responsa de dar vida ao segundo Garibaldo brasileiro; ele, que é a alma do Júlio, do Cocoricó; ele, que me ensinou a manipular bonecos e a atuar em televisão... Com vocês: o ator, diretor, bonequeiro e artista plástico Fernando Gomes! Se liga no vídeo e até o próximo Slime!