Jornais da Alemanha destacam a CPI da Pandemia e as críticas ao acordo entre UE e Mercosul, que não decola devido à oposição europeia ao governo Bolsonaro.FAZ – "A fúria dos brasileiros" (29/04)
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pode se tornar um problema para o presidente Jair Bolsonaro. A comissão investigará a forma como seu governo lidou com a pandemia, que até agora ceifou a vida de quase 400 mil pessoas no Brasil e mantém o país numa situação de estrangulamento. O inquérito, apelidado de "painel da morte" pelos críticos do governo, analisará questões como: por que o governo promoveu tratamentos com medicamentos ineficazes, por que três ministros da Saúde foram destituídos durante a pandemia e como o sistema de saúde no Amazonas entrou em colapso em janeiro, quando hospitais ficaram sem oxigênio. O senador Renan Calheiros, que relator da comissão, foi claro: "Há culpados, e eles serão responsabilizados".
[...] Observadores suspeitam que [o ex-ministro e general do Exército Eduardo] Pazuello poderia se tornar o bode expiatório do governo, também para tirar Bolsonaro da linha de tiro, pois não há dúvidas de que a CPI é dirigida principalmente contra o presidente e poderia diminuir suas chances de reeleição no próximo ano. A raiva sobre os fracassos do governo tem aumentado nas últimas semanas, e a comissão provavelmente vai expor outros detalhes desagradáveis. Bolsonaro e seus aliados haviam tentado, grande parte sem sucesso, primeiro impedir a instalação da CPI, depois influenciar seu propósito e composição. Agora eles querem desacreditar a comissão como um espetáculo puramente político.
Um dos temas potencialmente mais prejudiciais para o governo diz respeito à compra de vacinas. O Ministério da Saúde rejeitou pelo menos 11 propostas de fornecimento de imunizantes, incluindo uma para 70 milhões de vacinas da Pfizer, em agosto. Os críticos acusam o governo de ter agido com base na crença da imunidade de rebanho e, portanto, de aceitar milhares de mortes. No Brasil, quase 20% dos adultos agora estão vacinados com pelo menos uma dose, graças em grande parte aos esforços do estado de São Paulo. Cinco vacinas estão atualmente autorizadas.
TAZ – "UE quer melhorar o acordo com Mercosul" (03/05)
Apesar de todas as críticas, a Comissão Europeia mantém o acordo de livre-comércio planejado com os países do Mercosul. O comissário de Comércio [da UE], Valdis Dombrovskis, propôs uma emenda ao "acordo pioneiro" para conter o desmatamento, especialmente na região amazônica. Mas isso não é suficiente, de acordo com um parecer jurídico apresentado pelas organizações Misereor e Greenpeace.
"O estudo prova que a proteção efetiva dos direitos humanos e das normas ambientais só pode ser alcançada através da renegociação [do acordo]", diz Armin Paasch, especialista em comércio da Misereor. Um protocolo adicional, afirma ele, "não faria sentido". Ao mesmo tempo, ele alerta para um acordo com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. "A UE não deve apoiar um presidente populista de direita que desrespeita o clima e os direitos humanos."
Dombrovskis já havia abordado Bolsonaro e outros políticos do Mercosul em dezembro passado para melhorar o controverso acordo. "Eles se mostraram prontos para adicionar outro instrumento que afete principalmente o desmatamento", afirmou Dombrovskis na sexta-feira passada num discurso para a associação empresarial Business Europe, em Bruxelas. Trata-se de medidas adicionais contra o desmatamento na Amazônia, e os detalhes ainda estão sendo acertados.
SZ – "Problemas com os protocolos" (02/05)
Este acordo comercial [entre Mercosul e União Europeia] eliminaria 4 bilhões de euros em tarifas por ano – mais do que qualquer outro acordo da UE. E, ainda assim, o acordo com o Mercosul é altamente polêmico. Os Estados-membros, o Parlamento da UE e os parlamentos nacionais teriam que aprovar o tratado, mas a oposição é enorme. Acima de tudo, os críticos temem consequências prejudiciais para a floresta tropical e para o clima global. Valdis Dombrovskis, o vice-presidente executivo da Comissão Europeia, pretende agora salvar o acordo com compromissos adicionais. No entanto, um parecer jurídico alerta contra essa medida.
O Greenpeace e a organização Misereor publicarão o estudo nesta segunda-feira. O Süddeutsche Zeitung pôde ver o documento de 46 páginas com antecedência. Sua conclusão: "A única opção para melhorar este acordo seria renegociá-lo." Um compromisso adicional, entretanto, "não faria sentido".
[...] Os opositores do tratado reclamam que o capítulo sobre meio ambiente e questões sociais é muito frouxo e que não há sanções severas, como a reintrodução de tarifas aduaneiras, em caso de violações. Os críticos também reclamam que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro está fazendo muito pouco para combater as queimadas na Amazônia e temem que o acordo agrave o problema. Afinal de contas, ele prevê uma maior importação de carne bovina dos países do Mercosul – e o rebanho precisa de pasto. O Parlamento Europeu e alguns governos da UE, como o austríaco, decidiram, portanto, não aprovar o acordo nesta forma.
Para salvar o tratado, o vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Dombrovskis, quer celebrar acordos adicionais com os Estados do Mercosul – especialmente o Brasil – que atendam às preocupações dos ambientalistas. "A forma exata do documento ainda está sendo discutida, mas se trata de compromissos para proteger o meio ambiente, respeitar o Acordo de Paris e medidas tangíveis contra o desmatamento na Amazônia", afirmou ele ao SZ.
REDES SOCIAIS