Lancha em que jornalista e indigenista assassinados viajavam foi localizada a 20 metros de profundidade no rio Itaquaí, no extremo oeste do Amazonas, com sacos de areia para dificultar a flutuação, segundo a polícia.A Polícia Federal (PF) informou na noite deste domingo (20/06) que militares da Marinha e bombeiros encontraram o barco em que viajavam o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips quando desapareceram em 5 de junho na região remota do Vale do Javari, no Amazonas, onde foram mortos.
A Polícia Civil do Amazonas detalhou que a embarcação foi achada a 20 metros de profundidade no Rio Itaquaí, nas proximidades da comunidade de Cachoeira, no extremo oeste do Amazonas. A polícia informou que na lancha havia seis sacos de areia para dificultar a flutuação.
"Além do casco da lancha, também foram encontrados um motor Yamaha 40 hp, quatro tambores que eram de propriedade do Bruno, sendo três em terra firme e um submerso", disse a Polícia Civil em nota.
Segundo a PF, "a embarcação será submetida nos próximos dias aos exames periciais necessários, de modo a contribuir com a completa elucidação dos fatos".
O local onde o barco estava foi indicado por Jeferson da Silva Lima, conhecido como "Pelado da Dinha", preso no último sábado. Ele é um dos oito suspeitos de ter assassinado Pereira e Phillips.
Pereira e Phillips foram assassinados enquanto visitavam comunidades ribeirinhas da região do Vale do Javari, segunda maior reserva indígena do país. A área é palco de conflitos entre indígenas e invasores ligados à pesca, à caça e ao garimpo ilegais.
No sábado, a PF informou ter identificado o corpo de Pereira, por meio de exame da arcada dentária por peritos do Instituto Nacional de Criminalística em Brasília. Os restos mortais do jornalista britânico Dom Phillips já haviam sido identificados na sexta-feira, também por meio de exame da arcada dentária.
Em nota, a PF afirmou que Pereira e Phillips foram mortos a tiros. O indigenista foi atingido três vezes, na cabeça e no tórax, e o jornalista uma vez, no tórax. Em ambos os casos, foi utilizada munição típica de caça, segundo a PF.
Novos suspeitos
A PF afirmou neste domingo ter identificado mais cinco suspeitos de terem participado do crime. Além deles, três pessoas já foram presas: "Pelado da Dinha"; o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como "Pelado", que confessou ter cometido o crime e acompanhou agentes até o local onde os corpos foram encontrados; e o irmão dele, Oseney de Oliveira, conhecido como "Dos Santos".
A Polícia Civil de Atalaia do Norte, cidade ribeirinha onde Pereira e Phillips iniciaram sua última viagem pela Amazônia, afirmou que os cinco novos suspeitos são investigados pelo suposto envolvimento no transporte e ocultação dos corpos no dia seguinte ao assassinato.
Também neste domingo, o procurador-geral da República, Augusto Aras, viajou para Tabatinga, no Amazonas, para acompanhar os desdobramentos do caso. Os procuradores lotados naquela unidade são responsáveis pela área de Atalaia do Norte e região.
Investigação
Na sexta-feira, a PF informou que a investigação sobre os assassinatos não encontrou indícios de ter havido um mandante ou organização criminosa por trás das mortes, mas que as diligências continuavam.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) discordou da conclusão da PF. Segundo a entidade, foram repassadas à polícia informações sobre organizações criminosas que estariam atuando na região e que poderiam estar ligadas às mortes. No documento, a Univaja solicita que as investigações continuem e que nenhuma hipótese seja descartada.
"Exigimos a continuidade e o aprofundamento das investigações. Exigimos que a PF considere as informações qualificadas que já repassamos a eles em nossos ofícios. Só assim teremos a oportunidade de viver em paz novamente em nosso território, o Vale do Javari", afirmou a entidade.
Bruno Pereira fazia parte da Univaja e, segundo a entidade, era alvo de ameaças constantes de madeireiros, garimpeiros e pescadores da região.
Phillips e Pereira
Jornalista veterano e colaborador do The Guardian, Phillips tinha 57 anos e vivia no Brasil há 15 anos. Ao longo da sua carreira, ele também escreveu para vários outros veículos internacionais, incluindo Financial Times, New York Times e Washington Post, além de ter produzido reportagens para o serviço em inglês da Deutsche Welle (DW).
Antes de desaparecer, Phillips trabalhava num livro sobre preservação da Amazônia, com apoio da Fundação Alicia Patterson, que lhe concedeu uma bolsa de um ano para reportagens ambientais, que durou até janeiro. Phillips deixa uma viúva, Alessandra, que nos últimos dias divulgou diversos apelos para que as autoridades se empenhassem mais pela busca dos desaparecidos.
Pereira era considerado por organizações ambientais e indígenas um dos funcionários mais experientes da Fundação Nacional do Índio (Funai) que atuava na região do Vale do Javari. Em 2018, ele se tornou o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados da Funai, mas acabou exonerado do cargo em outubro de 2019, após pressão de setores ruralistas.
lf (ots)
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