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"Está longe de ser um automatismo potências atômicas encurraladas apertarem o botão vermelho"Diante do sucesso militar ucraniano e das armas fornecidas pelo Ocidente, em breve o líder russo só terá uma opção: a bomba atômica, dizem observadores. Uma narrativa equivocada e perigosa, opina Joscha Weber.O medo paralisa, debilita, impede de ver as coisas claramente. E não há nada de que tenhamos mais medo do que de uma guerra nuclear, com que o presidente russo, Vladimir Putin, nos ameaça mais uma vez. Pois ela poderia signifcar nossa exterminação, o apocalipse, o fim.

Pode-se expressar em números o temor pela existência do planeta e da humanidade: segundo consultas recentes, 58% dos americanos temem que a Rùssia esteja se movendo em direção a uma guerra atômica; entre os alemães, a porcentagem é de 49%.

Há muito o medo também se apodera de políticos, militares e analistas. Um exemplo: o politólogo e especialista em Putin Gerhard Mangott, da Universidade de Innsbruck advertiu na rádio Deutschlandfunk que, caso a Ucrânia siga recuperando terreno, e o Ocidente, fornecendo-lhe armamentos modernos, só restará a Putin a "escalada nuclear", a qual se tornará "cada vez mais provável", caso a Rússia parta para a defensiva.

O que resta, senão evitar o pior, se preciso for até fazendo concessões ao chefe do Kremlin? Essa seria a pior de todas as opções, pois se o Ocidente ceder à chantagem atômica, estará derrotado em toda a linha. A Ucrânia seria obrigada que aceitar consideráveis perdas territoriais; as nações do Leste Europeu teriam todo o direito de duvidar do apoio da União Europeia e dos Estados Unidos; e a Otan poderia tranquilamente jogar no lixo sua própria estratégia de dissuasão.

Falta de determinação encorajou Putin

Resumindo: Putin teria vencido. E poderia empregar novamente a mesma tática, deduz o historiador americano Timothy Snyder, da Universidade de Yale, num ensaio que despertou grande atenção: "Ceder diante da chantagem nuclear não daria fim à guerra convencional na Ucrânia, mas antes tornaria mais prováveis futuras guerras nucleares."

O medo é sempre um mau conselheiro, sobretudo em situações como esta. É necessário firmeza, unidade e fortaleza para resistir à chantagem da bomba, se necessário também mencionando o próprio arsenal.

A dissuasão tem que ser versossímil e consequente, tudo mais só vai encorajar Putin. Como ocorreu em 2013, quando o então presidente dos EUA; Barack Obama, traçou no emprego de armas químicas na Síria uma "linha vermelha" – a qual foi logo ultrapassada pelo ditador Bashar al Assad, apoiado pela Rússia, sem que o Ocidente interviesse diretamente na guerra.

Foi o que também ocorreu em 2014, quando, em violação do direito internacional, Moscou anexou a península da Crimeia, e o Ocidente ficou só olhando. Ambos esses episódios talvez tenham encorajado Putin a ousar sua ofensiva contra a Ucrânia.

Um agressor nuclear é um perdedor

Medo é precisamente o que Putin quer gerar com sua guerra híbrida de força militar, energia e desinformação. Mesmo considerando a justificada ansiedade quanto a uma catástrofe nuclear, é importante manter a cabeça fria. E esta nos diz, por exemplo, que já no início da guerra na Ucrânia ele nos ameaçava com a bomba atômica, sem ter tomado outras medidas de mobilização de forças de combate nuclear.

E está longe de ser um automatismo potências atômicas encurraladas apertarem o botão vermelho, nem a União Soviética nem os EUA fizeram isso em suas vergonhosas operações no Afeganistão ou no Vietnam. E isso por um motivo que se costuma esquecer: um agressor atômico é automaticamente um perdedor.

Ele nem poderá se aproveitar do território contaminado com radiação, nem terá posteriormente um grande número aliados com que contar. A China, a Índia e outras nações se distanciariam da Rússia – uma tendência, aliás, que se faz notar desde já.

Internamente, tal ofensiva contra o povo irmão ucraniano, que supostamente se queria liberar, deverá custar toda legitimidade e respaldo ao presidente russo. Portanto, nada de medo: o próprio Putin tem muito a perder.

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Joscha Weber é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.