Divulgação de vídeo de ex-chefe do GSI em atos golpistas selou mudança de postura da base governista no Congresso, que já avaliava como inevitável abertura do colegiado após oposição garantir apoio no Senado e na Câmara.O governo federal decidiu mudar de estratégia e passou a apoiar a abertura da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que visa investigar os ataques às sedes dos três Poderes durante os atos golpistas de 8 de janeiro.
A crise gerada pela divulgação de imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto, que mostravam o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Gonçalves Dias, interagindo com os golpistas que invadiram a sede da Presidência, foi decisiva para a mudança no posicionamento dos governistas, anunciada nesta quarta-feira (19/04).
As imagens divulgadas pela emissora CNN Brasil aumentaram a pressão sobre Dias, que pediu demissão do cargo. O papel do GSI nos atos de 8 de janeiro vinha sendo amplamente questionado, tanto pelo governo quanto pela oposição.
O general será substituído interinamente por Ricardo Capelli, que atuava como secretário-executivo do Ministério da Justiça. Ele já havia exercido a função de interventor na área de segurança pública do Distrito Federal logo após os atos golpistas.
Os parlamentares da base do governo vinham tentando adiar a criação da CPMI, temendo uma forte influência de congressistas bolsonaristas sobre as futuras investigações.
"Não fomos algozes, somos as vítimas"
Lideranças do governo avaliam que a oposição vinha conseguindo impor uma narrativa diferente sobre os atos de vandalismo, ao tentar jogar a culpa sobre integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os governistas já avaliavam que a criação da CPMI seria inevitável, depois de a oposição conseguir o apoio de 194 deputados e 37 senadores.
"Vamos para essa investigação e vamos com força. De investigação e comissão de inquérito, nós entendemos. Estamos com vontade de ir para lá, estamos com desejo de ter essa investigação. Se estão obstruindo por essa CPMI, ouçam bem claramente: queremos a investigação", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso.
"Não fomos os algozes do 8 de janeiro, nós somos as vítimas", disse Rodrigues, no plenário do Senado.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que o governo anseia por uma investigação "ampla e irrestrita". "Ninguém brinca com a democracia. Portanto, se o Congresso quiser instalar a CPI, nós estamos prontos para ajudar, inclusive, para investigar", assegurou.
"Foi o governo que agiu, pediu celeridade, uniu o país e os Poderes para enfrentar a tentativa de golpe. Foi sim uma tentativa de golpe patrocinada", declarou o petista. Ele acusou os bolsonaristas de serem os responsáveis pelos atos antidemocráticos. "O vídeo [de Dias nos atos golpistas] não encobre nada do que já está na consciência democrática no Brasil."
Guimarães se reuniu com as lideranças dos partidos da base do governo e de legendas consideradas independentes para definir a nova estratégia.
"Tiro no pé dos bolsonaristas"
"Essa CPI não amedronta o governo em nada", afirmou o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). "É claro que o governo no começo, eu volto a argumentar, queria estar focado na aprovação das propostas, dos projetos. Nós temos discussão de reforma tributária, nós temos discussão do arcabouço, mas a partir do que aconteceu agora, o que a gente tem que fazer é preparar e ir para ofensiva.”
O deputado disse que a abertura do colegiado "vai ser o maior tiro no pé dessa base bolsonarista, vai ter deputado bolsonarista aqui dentro sendo cassado, porque financiaram, porque incitaram, porque organizaram caravanas e isso pode chegar no próprio [ex-presidente Jair] Bolsonaro".
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deve autorizar a abertura da CPMI em sessão do Congresso na próxima semana.
rc (ots)
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