"Pegue um grande reservatório transparente com tampa e, sem muita cerimônia, encha-o com um pepino inteiro ralado em fatias e um pouco de cream cheese. Acrescente uma lâmina de salmão defumado, cortada miudinho com a ajuda de uma tesoura, e cebola roxa ralada em fatias. Depois, tasque molho de salada e despeje uma colher de alcaparras, suco de limão, sementes e bastante glutamato monossódico para realçar o sabor.
Antes que a mistura transborde, tampe o recipiente e sacoleje-o como um barman preparando uma caipirinha – e voilà, está pronta a sua refeição!"
O resultado parece ser tão bom quanto sugere, entre uma garfada e outra, um entusiasmado e suspirante Logan Moffitt.
Ele é canadense – e uma estrela do TikTok com quase 6 milhões de seguidores. Seus vídeos com diferentes receitas de pepino já foram vistos mais de 30 milhões de vezes. No mundo digital, ele é conhecido pelo apelido "The Cucumber Guy": o cara do pepino.
Hype bateu forte na Islândia
A cerca de quatro mil quilômetros e mais de oito horas de voo dali, na Islândia, os vídeos de Moffitt se transformaram em um problema.
Até então, gargalos de abastecimento não pareciam fazer parte da vida no pequeno país insular europeu no norte do Atlântico, com seus quase 400 mil habitantes.
Também não se sabia que a Islândia, conhecida principalmente por seus vulcões, clima impetuoso e paisagens ancestrais, tivesse alguma obsessão especial por pepinos – vegetal cuja produção doméstica em estufas é de seis milhões de unidades, uma média anual de mais ou menos 15 pepinos por habitante.
Só que desde que as receitas de saladas de pepino de Moffitt caíram no gosto de alguns islandeses no início de agosto, a demanda pelo vegetal explodiu e fez ele sumir dos supermercados.
Com isso, a Islândia passou a importar pepinos da Holanda.
Uma outra receita de salada de pepino de Moffitt – que leva óleo de gergelim, vinagre de arroz e alho – ficou tão popular entre os islandeses que fez esgotar também esses outros ingredientes no país, segundo noticiou a BBC.
Modas que surgem tão rápido quanto desaparecem
Não é nem de longe a primeira vez que influenciadores nas redes sociais desencadeiam uma corrida por alimentos específicos – ainda que na maioria das vezes esse hype não afete países inteiros.
Em julho de 2023, um blogueiro de comida postou no TikTok imagens de croissants com recheios coloridos comprados em uma padaria de Nova York. Apesar do preço salgado – quase dez dólares por unidade –, o vídeo fez o estabelecimento ser praticamente invadido pela clientela. Por dias, filas enormes se formaram diante do estabelecimento, que chegou a limitar a compra a dois croissants por cliente.
Em janeiro de 2024, o influencer suíço Steve Merson anunciou no TikTok que distribuiria kebabs de graça em uma lanchonete nos arredores de Zurique. A sensação foi tamanha que a polícia teve que dissipar a multidão duas horas depois.
Em Nurembergue, na Alemanha, um restaurante foi invadido por uma multidão após duas youtubers anunciarem a criação de um prato próprio. Em outra cidade, Regensburg, a cena se repetiu após três estrelas do universo gamer anunciarem nas redes sociais que distribuiriam guloseimas em outro estabelecimento.
A cena dos influencers de comida tem crescido cada vez mais nos últimos anos. Diversos tiktokers se firmaram nesse meio com pratos próprios – e absolutamente excêntricos, em alguns casos –, atraindo uma legião fiel de fãs que seguem e compartilham suas receitas.
Criações cada vez mais malucas
O que todas essas modas gastronômicas têm em comum é que elas vêm e passam com a mesma rapidez.
Também na Islândia a indústria de alimentos parece relativamente despreocupada: no mais tardar em uma semana o abastecimento de pepinos deve ser regularizado, tranquiliza uma porta-voz da associação de agropecuaristas.
No momento, o sucesso de Moffitt nas redes parece encorajá-lo a ousar cada vez mais em suas criações: em uma de suas mais recentes receitas, o "cara do pepino" mistura o vegetal com geleia de morango, manteiga de amendoim e mel. É improvável, porém, que essa combinação desencadeie uma nova crise de abastecimento na Islândia.
REDES SOCIAIS