Ouça o álbum completo:
Christina Pluhar, nascida 59 anos atrás em Graz, na Áustria, fundou no ano 2000 o ensemble de música barroca L’Arpeggiata, que vem promovendo uma verdadeira revolução no vasto mundo da música antiga. Ela ampliou o conceito de liberdade criativa e improviso reinante na prática da música historicamente informada, assumindo cada vez mais um papel a cada projeto mais atrevido, mais convicto, no sentido de que intérpretes não foram feitos para só tentar reproduzir o que as notas no pentagrama indicam.
Quem a assistiu num palco – e ela e seu grupo se apresentaram anos atrás no Festival Sesc de Música de Câmara --, ora tocando violão barroco, ora alaúde e ora a gigantesca teorba, testemunhou a mágica da Arpeggiata de injetar vida na música antiga e fazê-la pulsar como se tivesse sido composta ontem, anteontem, ou melhor, hoje mesmo.
O CD desta semana é mais um dos feitos extraordinários da Arpeggiata. Leva o título “Wonder Women”. Não pense nas mulheres-maravilhas das telonas do século 20, mas nas incríveis e revolucionárias mulheres que, nos séculos 16 e 17, assumiram-se como compositoras – num tempo em que isso era inconcebível segundo a ideologia machista que até hoje assola boa parte dos condutores da música clássica ocidental. Elas atendem por Francesca Caccini, Antonia Bembo, Francesca Campana, Isabella Falconieri e Barbara Strozzi, entre outras. Viveram e atuaram sobretudo em Florença e Veneza.
Uma frase da alaudista, cantora e compositora italiana do século 16 Maddalena Casulana, citada no folheto interno do álbum, dá o mote da empreitada de Christina: “Desejo também mostrar ao mundo o erro tolo de homens que se consideram senhores [a palavra certa seria proprietários exclusivos] de elevados dons intelectuais a ponto de que estes dons não podem ser igualmente comuns entre as mulheres”.
Com a palavra, Christina Pluhar numa das várias entrevistas recentes sobre “Wonder Women”: “Uma das razões para a existência deste álbum é porque eu queria trazer para a nossa consciência a vida destas compositoras do século 17, mas também porque eu própria fui uma maestra de música antiga durante muitos anos, e não são tantas! Vejo uma grande mudança hoje – há jovens regentes com grandes carreiras e começando a ficar famosas, o que há trinta ou quarenta anos seria muito raro. E há também uma mudança na atitude e na autoconfiança das jovens instrumentistas e cantoras. Acho que todo o movimento #MeToo melhorou a situação. As mulheres jovens de hoje têm muito mais autoconfiança e são muito mais corajosas do que eram há algumas décadas, e isso é ótimo”.
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