Ouça o álbum completo:
O clarinetista francês Nicolas Baldeyrou, parisiense de 45 anos, ficou preso em casa como todos nós no planeta durante toda a pandemia. Ele, então, aproveitou para realizar um de seus sonhos secretos: fazer arranjos para cinco clarinetes de peças originais para piano e assinadas por Chopin. Ele gravou os cinco clarinetes e montou um vídeo em que aparece tocando ao lado dele mesmo multiplicado por cinco. Viralizou no Youtube. Foi assim que o escutei pela primeira vez, em 2021. E, de lá pra cá, tenho acompanhado este músico notável. Pois ele agora empreende outra jornada ambiciosa: gravar tudo que Mozart compôs para seu instrumento.
No primeiro volume, um álbum duplo que é o CD desta semana na Cultura FM, Baldeyrou interpreta três serenatas para sopros de Mozart com um ensemble de sopros que formou com alguns dos melhores músicos europeus.
As obras para sopros receberam forte impulso quando o imperador José II fundou, em 1782, um octeto de sopros, a Harmonia Imperial e Real. Estes grupos nasceram na Boêmia e se espalharam, primeiro como sextetos e depois como octetos com a participação de dois clarinetes. Para Mozart, escrever para esses instrumentos foi uma oportunidade de explorar novos sons e técnicas, numa época em que a fabricação de instrumentos de sopro estava evoluindo rapidamente.
As três Serenatas de Mozart que compõem este álbum foram concebidas para serem executadas ao ar livre ou em palácios. As duas primeiras serenatas deste álbum – K. 375 e K. 388 – diferem no seu objetivo. A primeira, de 1781, nasceu como sexteto e depois foi ampliada para octeto no ano seguinte. Já a Serenata K. 388 em dó menor é mais ambiciosa. Aqui Mozart explora ao máximo a expertise dos irmãos Stadler, virtuoses do clarinete.
No entanto, a grande estrela da gravação é a “Gran Partita”. K. 361 – a mais ambiciosa que Mozart compôs neste gênero: prevê 13 instrumentos (Mozart acrescentou um basset e um contrabaixo); possui sete movimentos; e seus 47 minutos de duração ultrapassam as duas serenatas anteriores somadas. Ela tem um número de catálogo mais baixo porque Mozart fez uma primeira versão em 1780 e em 1784 ampliou-a consideravelmente.
Talvez, porém, o maior diferencial desta gravação de Nicolas Baldeyrou seja o uso de instrumentos de época ou réplicas. Se, por um lado, os desafios técnicos crescem, por outro obtem-se um fraseado, sonoridades e dinâmicas absolutamente diferenciadas em relação a interpretações em instrumentos modernos.
REDES SOCIAIS