Ouça o álbum completo:
No século 18, as palavras “Harmoniemusik” e “Harmonie” eram praticamente intercambiáveis. Harmonie remete a um conjunto de sopros, enquanto Harmoniemusik tem duplo significado: é a música escrita para Harmonie e também designa um conjunto específico composto por quatro pares de instrumentos. Por exemplo, oboés, clarinetes, trompas e fagotes. Esta é a formação da Oslo Kammerakademi, Academia de Música de Câmara de Oslo. Mas nada é rígido. Também integravam estes grupos instrumentos como flautas. Harmonie eram tanto os grupos ancestrais das “marching bands” de New Orleans no começo do século 20 (que tocavam andando pelas ruas) quanto grupos atuando nas cortes europeias.
Em um recém-lançado álbum do selo norueguês Lawo Classics, a Oslo Kammerakademi joga uma lufada de ar fresco, rejuvenescendo três sinfonias clássicas em transcrições para harmoniemusik. Na verdade, além de terem uma função prática permitindo às famílias reproduzirem em casa obras de grande porte que raramente podiam ser escutadas em concertos, os arranjos e transcrições também passaram a frequentar as cortes com o grupos fixos. Isso aconteceu a partir dos anos 1780. Em 1782, por exemplo, o imperador José II decidiu ampliar a formação dos grupos de sua “tafelmusik”. Tafelmusik era a música executada durante as refeições na corte. Ela passou a ser executada por oito instrumentos: pares de oboés, clarinetes, trompas e fagotes. A moda logo se espalhou pela Europa devido à guerra do Império Austro-húngaro com a França que esvaziou a renda das cortes. Os grupos Harmonie eram uma alternativa mais barata que as orquestras completas. Além disso, eles também distraíam a plebe, nas ruas.
Houve uma avalanche de pedidos por transcrições de obras existentes. Carl Andreas Goepfert (1768–1818), clarinetista empregado na corte de Meiningen, estudou música com Mozart em Viena no final da década de 1780 e, em vida, foi admirado por suas composições originais. Mas seus habilidosos arranjos de obras para Harmoniemusik também lhe renderam bom dinheiro. Ele trabalhou para o editor Simrock, Bonn, transcrevendo, por exemplo, a “Gran Partita” de Mozart para octeto.
As três sinfonias que estão neste álbum delicioso enriquecem as transcrições do século 18, porque a Oslo Kammerakademi providenciou um reforço extra para esta gravação: nas sinfonias, um contrabaixo reforça o contrafagote. Isso era comum na época. Outro reforço foi manter a participação dos tímpanos.
Goepfert é o autor da transcrição da “Sinfonia no. 31, K. 297, “Paris”, de Mozart. Josef Tribensee assina a da “Sinfonia no. 92, ‘Oxford”, de Haydn; e Georg Schmitt a da “Sinfonia no. 1”, opus 21, de Beethoven. O interessante é que estas transcrições foram realizadas no período clássico. E funcionaram, sem dúvida, como um modo de se divulgar para públicos mais amplos estas obras-primas da tríade clássica vienense.
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