A campanha "Machado de Assis Real", encabeçada pela Faculdade Zumbi dos Palmares, visa resgatar a identidade negra de um dos maiores escritores da história brasileira.
"O embranquecimento do Machado de Assis vem de um processo do racismo estrutural da sociedade, que é muito antigo. O Machado, de alguma maneira, foi aceito, mas não como negro", explica o jornalista Tom Farias, que já faz, ao longo de 30 anos, o trabalho de resgate de personalidades da cultura e da literatura afro-brasileira.
A ideia de recuperar a negritude do autor de clássicos como "Dom Casmurro" (1899) e "O Alienista" (1882) nasceu de debates no ambiente literário acerca de sua invisibilidade. "Quando você pega os escritos negros, você vai ter uma história do Brasil. A literatura é dominada por uma elite branca que não permite o aparecimento, a projeção e a promoção destes valores", continua Farias.
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Para o publicitário Rodrigo Tortima, o projeto é fundamental para estimular jovens negros a acreditarem que podem chegar ao patamar que Assis chegou. "Faz um bem imenso para a sociedade como um todo. Você passa a incentivar crianças negras a de fato poderem almejar isso, porque o maior escritor da nossa história era negro", diz.
Farias reitera que ainda existe uma série de autores negros do passado a terem suas histórias e obras recuperadas. Ele cita Teixeira e Sousa, fundador do romance no Brasil. "Ele está completamente apagado, deveria ser um homem muito valorizado na literatura brasileira", comenta. Ainda, aponta para a primeira romancista brasileira, Maria Firmina dos Reis: "Ela está sendo resgatada agora, mas muito timidamente".
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"A sociedade brasileira nunca vai ser digna de uma sociedade civilizada enquanto não tiver esse olhar sem discriminação. O Brasil precisa passar por isso", completa o jornalista.
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