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Foto: TV Cultura / Silvio Júnior
Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Muito além da folia, o carnaval é uma ferramenta múltipla de educação. O Desfile das Campeãs 2024 de São Paulo mostra que os enredos interdisciplinares colaboram na socialização e atuam em conjunto com o ensino teórico aprendido nas salas de aula.

Ao retratar figuras, lugares e ideias ligados à cultura brasileira, os enredos chegam até a virar tema dos principais vestibulares do país.

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Paulo Serdan, presidente da Mancha Verde, destaca que o efeito educacional do carnaval no Brasil deveria ter maior reconhecimento.

“Se parassem de observar só o lado da folia, o lado sensual e olhassem o que todas as escolas mostram na avenida acho que o nosso país ia valorizar muito mais o espetáculo que a gente tem. Quando as escolas passam, deixam um rastro de cultura e educação”, afirma.

Com o enredo “Do nosso solo para o mundo”, a escola que ficou em quinto lugar do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo participou do Desfile das Campeãs na noite deste sábado (17).


Foto: TV Cultura/Silvio Júnior

A escola campeã

Mocidade Alegre, grande campeã do desfile paulistano deste ano, ressaltou a figura e as viagens do poeta e escritor Mário de Andrade, com o enredo “Brasileia Desvairada”.

“O enredo da Mocidade só faz engrandecer cada vez mais o nosso carnaval e a cultura da cidade”, disse Solange Bichara, presidente da agremiação.

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O historiador Bruno Baronetti, comentarista da transmissão do carnaval pela TV Cultura, também destaca o resgate popular trazido pela escola vencedora.

“Cada ala foi pensada em trechos de livros do Mário de Andrade, poemas e ensaios, como o do Aleijadinho, representado na ala das baianas. Uma discussão de um projeto modernista de país, há todo um processo educativo por trás, de resgatar lendas, o folclore e as tradições brasileiras”, complementa.

Foto: TV Cultura/Silvio Júnior

Após o desfile final da temporada 2024, Stephanie, de apenas 14 anos, diz estar com o sentimento de dever cumprido. Embora seja sua décima participação na escola, essa é a primeira vez que a jovem sai da ala das crianças para desfilar no chão da avenida.

“Eu nem fazia ideia de quem era Mário de Andrade e a Mocidade trouxe esse enredo e me ensinou muito, você aprende um pouquinho da história com as escolas de samba. Ainda mais para saber o personagem que a gente vai fazer, esse ano a gente veio de Arlequim, que faz parte das obras de Mário”, conta a garota.

Foto: TV Cultura/Silvio Júnior

Ensino lúdico e interdisciplinar

O ensino também pode acontecer de um modo mais formal, no próprio processo de escolarização, por meio do uso dos sambas-enredo dentro das salas de aula. É recorrente o uso de citações dos desfiles em provas, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), maior vestibular do Brasil.

“Eu, por exemplo, uso bastante o samba-enredo como um dos subsídios, como fonte histórica para as minhas aulas. As canções do Cartola estão na lista da Unicamp e em vários outros vestibulares trechos de sambas-enredo são utilizados”, explica o historiador Baronetti.

O profissional também destaca que as escolas ainda vêm cumprindo um papel muito importante, de buscar enredos afro e indígenas que saiam de um ensino mais eurocêntrico, que antes apresentavam somente a perspectiva de reis e personagens brancos e europeus.


Foto: TV Cultura/Silvio Júnior

Capoeira e o ensinar a “viver bem”

A educação por meio das escolas de samba acontece ainda de um modo não formal, quando as agremiações se apropriam dos temas e constroem um processo educativo na própria comunidade.

Em meio aos carros alegóricos às 2h da manhã, três mulheres com mais de 70 anos esperavam ansiosas pelo momento de entrar no sambódromo. Todas desfilam na ala das baianas pela Acadêmicos do Tatuapé, que foi a penúltima escola a entrar na pista.

“O Tatuapé também ensina a gente a viver bem, não ter depressão [...] As crianças que assistem aprendem não só como ser educado, mas também sobre a arte, a como sambar e a jogar capoeira. A escola ensina de tudo um pouco, a escola é cultura”, enfatiza Elena, de 78 anos, sendo 41 deles em escolas de samba.

Foto: TV Cultura/Silvio Júnior

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A medalhista de bronze do carnaval paulista trouxe o enredo “Mata de São João - Uma Joia da Bahia Símbolo de Preservação!”.

“O carnaval é um livro que é colocado na avenida. As crianças que não sabem, aprendem. Eu, já mais velha, não sabia dessa cidade da Bahia, da Mata de São João, e agora eu sei. É a história do nosso país”, complementa uma das amigas de Elena, de 73 anos.

Dragões da Real ficou em segundo lugar e trouxe o enredo “África – Uma Constelação de Reis e Rainhas”. A composição deu destaque à história pouco contada sobre os reinados do continente africano.

Já a última escola a entrar na avenida falou sobre o poder da criatividade e da imaginação. A Gaviões da Fiel, quarta colocada, apresentou o enredo “Vou Te Levar Para o Infinito”, trazendo referências ao espaço sideral e às distintas noções sobre o tempo.

“É uma aula de história, mas também de geografia, de biologia, de matemática, é interdisciplinar. De maneira lúdica e divertida, os sambas-enredo são capazes de construir todo um processo educativo”, finaliza o historiador.

Foto: TV Cultura/Silvio Júnior

Assista aos principais momentos da transmissão: