O premiado musical “Querido Evan Hansen” chega ao Brasil pela primeira vez. Após temporada no Rio de Janeiro, o espetáculo estreia nesta sexta-feira (2) no Teatro Liberdade, em São Paulo.
No ponto central da narrativa, estão questões que abrangem a saúde mental dos jovens, passando por temáticas que vão desde a fobia social e o bullying até a pressão causada pelo ambiente virtual.
"A gente está tentando falar de seres humanos do nosso século, das dores e dos sentimentos. Nós somos uma das sociedades que mais usa rede social no mundo", afirma Gab Lara, que dá vida ao protagonista, em entrevista ao portal da TV Cultura.
No primeiro semestre de 2024, a Fiocruz da Bahia divulgou que a taxa de suicídio entre jovens brasileiros cresceu 6% por ano entre 2011 a 2022. Além disso, as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos aumentaram 29% a cada ano no mesmo período.
É diante desse cenário que a montagem teatral propõe, entre as discussões apresentadas, abordar sobre a importância de se ter uma rede de apoio.
Cena do espetáculo - Foto: Silvio Júnior
Sucesso na Broadway, o musical conta a história de Evan, um estudante do ensino médio que enfrenta transtorno de ansiedade e se sente invisível entre seus colegas, até que uma pequena mentira o coloca no centro das atenções.
"Por mais que no micro a história se passe nos Estados Unidos, tendo referências a beisebol e a líderes de torcida, no macro é universal. A peça ultrapassa esses limitantes estadunidenses, a gente está realmente abordando temas que são de fácil identificação para todo e qualquer jovem ou adulto do Brasil", explica Gab.
Em conversa com jornalistas, a atriz e humorista Thati Lopes, que interpreta Zoe Murphy, confirma esse sentimento com base no retorno do público durante a temporada na capital carioca.
"Todo mundo que vêm se reconhece em algum lugar. Seja na relação com a sua mãe, com seu pai, com seu irmão ou com quem você se relaciona amorosamente", conta a artista.
Dessa geração, para todas as gerações
A figura dos pais também é outro elemento crucial na história, tendo em vista que a relação familiar influencia, e muito, no bem-estar mental dos filhos.
"A gente precisa entender cada vez mais que os valores começam dentro de casa. [...] O respeito é fundamental e a criança é reflexo na escola e na vida do que ela vê em casa", destaca Renata Borges Pimenta, que assina a produção geral junto com Eduardo Bakr.
Foto: Silvio Júnior
As atrizes Vannessa Gerbelli e Flavia Santana ocupam os papéis das mães, Heidi Hansen e Cynthia Murphy, respectivamente.
"Tem muita gente que passa muito tempo com os filhos, mas não está lá de fato. E o filho sente a distância. Porque às vezes o pai está em casa mas não se interessa, não ouve, quer que o filho seja exatamente como ele quer", conta Gerbelli, que é também mãe fora dos palcos.
"A minha personagem traz uma consciência de que é preciso escuta, ter uma presença real e que é preciso olhar para o seu filho como um outro indivíduo", acrescenta.
Coletiva de imprensa - Foto: Silvio Júnior
Um toque brasileiro
Nos EUA, o espetáculo ficou conhecido por meio da interpretação de Ben Platt no papel-título. De acordo com o protagonista brasileiro, aqui o personagem ganha características próprias.
"Lá toda sessão imagino que deva ser igualmente exata. Mas eu acho que o brasileiro é um pouco emocionado, então eu quis trazer isso, de certa forma. Então se minha voz falha, se eu tropeço, eu deixo isso. Se o choro vem na garganta e a voz embola, isso tudo é a vida, é assim que seria. Eu quis deixar viva a instabilidade do personagem através da minha instabilidade", afirma o carioca Gab Lara, de 28 anos.
Cena do espetáculo - Foto: Silvio Júnior
Segundo o diretor Tadeu Aguiar, houve ainda críticas nas redes sociais quanto à idade dos atores escolhidos. E ele rebate: "quero dizer aos haters que eles são chatos".
"A gente precisava de atores experientes, que tivessem um trabalho muito pulsante e potente. [...] Eu vejo, sabe assim, o personagem tem 17 e ele tem 30. Não tem importância, é teatro, no teatro a gente pode fazer tudo", argumenta Aguiar durante a coletiva.
Possível gatilho?
Cena do espetáculo - Foto: Silvio Júnior
Ainda que o musical aborde questões bastante sensíveis, há um cuidado na abordagem empregada para não despertar sensações negativas.
"Quando eles criaram e desenvolveram essa peça já houve uma preocupação na forma da escrita e na forma como a história é contada, em não penalizar ninguém, o Evan não sai cancelado no final", afirma o responsável por dar vida a Evan.
"É uma peça que a gente se ‘cura’ um pouquinho aqui, quando faz, e a gente tem a expectativa que a plateia também, quando sai", comenta o ator Hugo Bonemer, que interpreta Connor Murphy.
Por fim, Vannessa destaca que "existe luz no fim do túnel" e que a peça aponta essa luz. Segundo a atriz, pessoas que passaram por situações de crise de ansiedade e até por tentativas de suicídio se dizem agradecidas por verem que não estão sozinhas e por se sentirem representadas.
"A gente oferece a saída. A solução é o relacionamento humano, é a gente sair do virtual e realmente nos encarar. Essa peça fala de acolhimento, do resgate do contato, tanto entre as pessoas, como de nós com nós mesmos", finaliza.
Cena do espetáculo - Foto: Silvio Júnior
Dos mesmos produtores de “A Cor Púrpura” e “Beetlejuice”, a montagem brasileira ficará em cartaz em São Paulo até 22 de setembro. O mês de encerramento da temporada também marca o Setembro Amarelo, campanha de conscientização sobre a importância da prevenção do suicídio.
Escrito por Steven Lenson e com músicas e letras de Benj Pasek e Justin Paul, o espetáculo chegou à Broadway em 2016, conquistando seis prêmios Tony, além do Grammy de melhor Álbum de Teatro Musical, o prêmio Laurence Olivier de Melhor Musical e um Emmy. Além disso, virou livro em 2017, ganhou uma versão para o cinema em 2021 e recebeu adaptações teatrais em inúmeros países.
Com direção musical de Liliane Secco, a peça em São Paulo já está com os ingressos à venda na plataforma Sympla e na bilheteria física do teatro.
Serviço
Local: Teatro Liberdade - R. São Joaquim, 129, São Paulo - SP
Data: 02 de agosto a 22 de setembro
Sessões: sextas, às 21h; sábados, às 16h e às 20h; domingos, às 16h
Valor: de R$ 60 a R$ 280
Vendas: Site Sympla (com taxa de conveniência) ou Bilheteria do Teatro (atendimento de terça a sábado das 13h às 19h. Domingos e feriados apenas em dias de espetáculos até o início da apresentação).
Duração: 2h30min (com intervalo de 15min)
Gênero: Musical
Classificação: 14 anos
Abaixo, é possível assistir ao "Arena dos Saberes", que recebeu parte do elenco em julho deste ano, bem como a edição do "Persona" com Tadeu Aguiar, exibido em maio:
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