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Foto: TV Cultura / Silvio Júnior
Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

O “Castelo Rá-Tim-Bum” você já deve conhecer. Originalmente exibida de 1994 a 1997 na TV Cultura, a produção se tornou uma das séries de maior sucesso da televisão brasileira. Quase 30 anos depois, duas personagens conhecidas do público voltaram a estampar os principais noticiários do país. Estreava “Morgana e Celeste”, em retorno nostálgico aguardado há tempos pelos fãs do programa.

A série derivada do Castelo foi lançada em outubro de 2023, na semana do Dia das Crianças. Ao todo, seis episódios estão no ar de segunda à sábado, às 11h40 e às 16h30. Outros 54 episódios devem começar a ser exibidos em breve.

Nesta reportagem exclusiva, o portal da TV Cultura acompanhou as gravações e conversou com o elenco e produção, coletando curiosidades e informações inéditas sobre os bastidores do Castelo mais famoso do Brasil.

Set de filmagem - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Se antes os espectadores estavam acostumados com o quarto de Morgana ou com a biblioteca, agora estarão diante de um cenário totalmente inédito, o porão! Aqueles que observarem bem, poderão notar que ele fica localizado abaixo do Hall do Castelo, já que as raízes da árvore central podem ser vistas ao fundo do novo cenário.

A cobra Celeste também passa a ter novos “buracos”. Se no Castelo ela tinha uma única saída na árvore, agora são ao menos oito espaços fixos adaptados especialmente para ela.

A ideia do “porão” surgiu justamente no início de todo o processo. Por meio de conversas, os artistas que dão vida às duas protagonistas compartilharam do mesmo desejo de reviver tanto Morgana quanto a cobra Celeste. Em seguida, manifestaram esse interesse a Henrique Moreira, que topou ser o roteirista do spin-off. Henrique foi também o diretor do “Castelo Rá-Tim-Bum: O Reencontro”, especial exibido em fevereiro de 2023.

Após aprovação da TV Cultura, os projetos cenográficos começaram a ser feitos em julho e as gravações foram iniciadas no dia 10 de setembro.

“Eu sempre quis fazer o Castelo em si, o sonho de todo mundo que fez o Castelo é refazer o Castelo. Mas é muito difícil, não existe dinheiro para tanto. Então a gente pensou em uma coisa menor, em que só nós dois estivéssemos presentes. Aí surgiu o porão, que tem uma identificação com o Castelo, um lugar que nunca ninguém tinha ido e que é repleto de lembranças”, conta Rosi Campos, atriz que interpreta Morgana.

Layout do cenário - Foto: Arquivo / Cenografia TV Cultura

De acordo com Tom Hamburger, diretor da série, os primeiros roteiros começaram a ser escritos depois dos cenários. Com uma proposta educativa, os episódios mostram a bruxa de mais de seis mil anos encontrando no porão os objetos que fizeram parte da história da humanidade.

“Primeiro escolhemos a história, depois pensamos os objetos, que posteriormente são criados pelo setor de arte. Já o roteiro a gente vai escrevendo ao mesmo tempo que estamos filmando”, afirma Tom.

No “Castelo Rá-Tim-Bum”, a Morgana já era uma contadora de histórias. No spin-off, essa personalidade foi mantida. Desse modo, a feiticeira relembra os eventos presenciados por ela a partir de objetos como a sandália de Aquiles, um dragão chinês ou até mesmo uma réplica do 14-bis.

Com a montagem e a gravação, cada episódio de cerca de três minutos demorou aproximadamente duas horas para ser produzido. A última etapa acontece na ilha de edição, onde o material é cortado de forma que a história não seja afetada.

Sobre os efeitos especiais, eles vão desde efeitos 3D, como o da abertura, até a criação de neve artificial em um dos episódios.

Adelaide foi trocada por Celeste?

Foto: Montagem / TV Cultura

Além do espaço do porão, outro diferencial da nova série é a interação da Morgana com a cobra Celeste, já que no Castelo a sua fiel companheira era Adelaide, uma gralha de estimação.

“É como se o Castelo continuasse ainda. Teoricamente, a Morgana ainda continua indo para o seu quarto conversando com a gralha e quando desce para o porão ela tem o momento dela com a Celeste. Uma coisa não elimina a outra, ela não trocou a parceria nem nada, são lugares diferentes onde a Morgana atua”, explica Álvaro Petersen, ator que dá vida à Celeste.

Mais alguém do elenco do ‘Castelo’ foi chamado?

Elenco do 'Castelo-Rá-Tim-Bum' (1994-1997) - Foto: Divulgação / TV Cultura

Em entrevista ao site da TV Cultura, ambos protagonistas do novo programa responderam de imediato que não. Embora Rosi Campos tenha dito que “interesse todo mundo tem”, reforçou na sequência que “não há condições de fazer com mais gente” e que “infelizmente não há estrutura para fazer uma coisa maior”.

“A gente [do elenco do Castelo] tem contato, mas temos vida própria. Todo mundo deseja, mas todo mundo também depende de um convite e de uma estrutura. Eu com a proximidade com a Rosi pensei ‘a gente consegue fazer isso’. Claro que coincidiu com a nossa disponibilidade nesse momento. E também tem que ser rápido, porque se não a ideia some”, complementou Álvaro.

Outra questão levantada por Petersen é que o formato pequeno, sobretudo de duração, “não atrapalha a grade de programação, não exige um grande orçamento e nem um deslocamento de equipe muito grande”. Segundo ele, esses fatores foram essenciais para a emissora aceitar a proposta.

Além do “Nosssaaa”: Celeste ganha um novo bordão

Cobra Celeste durante as gravações do spin-off - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Responsável por dar voz e movimento ao boneco criado pelo artista plástico Jésus Seda, Álvaro conta que precisou fazer adaptações na cobra-cor-de-rosa para o spin-off.

“A Celeste não falava muito, ela não tinha muito texto. Então tinha palavras que eu nunca falei com ela, textos que eu nunca construí. Assim como eu criei o ‘Nossaaaa’, eu criei o ‘Sériooo’, um novo bordão”.

Conhecida por seu caráter um tanto ranzinza e egoísta, a Celeste está um pouco mais “suave”, já que, por ela ter mais falas, o manipulador se preocupa em não tornar a personagem arrogante: “a percepção é que você está conhecendo melhor a Celeste agora, e eu também”, afirma Petersen de forma bem-humorada.

Quem vê o boneco em cena muitas vezes se esquece e nem percebe que por trás existe um profissional fazendo tudo aquilo acontecer. Seja do outro lado de uma parede cenográfica, debaixo de uma mesa ou de uma estante de livros, Álvaro manipula a Celeste com o braço na horizontal.

Álvaro Petersen durante as gravações de 'Morgana e Celeste' - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Onde as câmeras não mostram, ficam dois monitores, exibindo a imagem que é captada ao vivo, e o roteiro, que pode ser lido pelo ator. Ao mesmo tempo que ele lê o texto, faz também as falas e manipula a cobra, mexendo a boca e piscando cada um dos olhos através de um mecanismo manual.

“Uma coisa que eu tenho que fazer toda vez que eu vou entrar para fazer a Celeste é lembrar que ela é sempre um pouco chateada pelo fato de o Castelo ter sido construído em volta da árvore dela. Eu entro com a personagem pensando nisso, por isso o pessoal fala que ela é meio ranzinza”, revela o ator.

Bastidores de 'Morgana e Celeste' - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

“De pai para filho”: spin-off é comandado pelo filho do criador do ‘Castelo’

O “Castelo Rá-Tim-Bum” foi criado pelo dramaturgo Flávio de Souza e pelo diretor Cao Hamburger. Na série derivada, quem assume a direção é Tom Hamburger, o filho de Cao. Ambos já realizaram inúmeros projetos audiovisuais em conjunto.

Embora Cao não tenha tido nenhum envolvimento nas gravações, o portal questionou se o diretor da série dos anos 90 costuma dar algum palpite.

“Ele sempre dá palpite, não tem nem como. Ele sabe que eu estou fazendo, está achando super legal, quer saber, quer ver. Ele viu quando os episódios saíram e deu sugestões. Ele também é muito preocupado com os filhos”, afirmou o diretor do spin-off.

Tom Hamburger, à esquerda, na direção de 'Morgana e Celeste' (2023) e Cao Hamburger, à direita, na direção de 'Castelo Rá-Tim-Bum' (1994) - Foto: Montagem / TV Cultura

Nos bastidores, as semelhanças dos dois também é notada pela equipe formada por cerca de 50 pessoas.

“Eu fico fazendo força para não chamar o Tom de Cao, porque eles são muito parecidos. No jeito, na voz e na forma de dirigir também. Quando a diretora de produção foi falar sobre as diárias e, nem tínhamos começado a gravar, o Tom falou ‘mas a gente pode falar de algumas diárias extras?’. Eu morri de rir, parecia o Cao pedindo mais tempo”, contou Petersen.

O clima no set

Set de filmagem - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

No estúdio, o ambiente é de concentração sem deixar de ser uma atividade divertida. Para Tom, além de filmar dentro do tempo fornecido, uma das preocupações é a de manter o astral e o padrão do Castelo.

“A gente está seguindo o roteiro, mas temos que deixar a Rosi e o Álvaro à vontade para trazer a interação dos dois personagens, essa parte criativa eles estão superlivres para fazer. Tem jeitos de falar o texto e piadas que surgem na hora”, afirma o diretor.

Álvaro Petersen e integrantes da produção durante as gravações de 'Morgana e Celeste' - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Também não é difícil de notar o envolvimento de quem trabalha no set.

“Nos bastidores, o câmera, o contrarregra, o cara do áudio e da luz, eles são apaixonados por esse trabalho que a gente faz. Isso é uma coisa rara, é um bastidor difícil de se achar. O pessoal tá agradecendo que a gente está fazendo isso, porque há tempos isso era esperado”, diz o intérprete de Celeste.

A criação de uma bruxa

Rosi Campos em camarim da TV Cultura durante as gravações de 'Morgana e Celeste' - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Para os 60 episódios do spin-off, foram produzidas golas, detalhes na peruca e 30 capas com texturas e aparências variadas para serem utilizadas pela Dona Morgana. Nada que era do figurino do Castelo foi utilizado na nova série.

“Igualzinho ao Castelo não foi porque a gente não tinha o mesmo tecido. Eu fiz uma releitura trazendo o mais próximo do desenho original”, contou Edson Braga, figurinista do programa infantil.

Fernanda Lima da equipe de figurino junto às vestimentas usadas por Morgana - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Outro elemento essencial é a maquiagem, produzida por Eliseu Cabral, o mesmo que fazia o trabalho artístico há 30 anos. Segundo o caracterizador de personagens, antes Rosi era maquiada com base de cor lavanda, desde o rosto e decote, passando pelas costas e braços. Agora, a bruxa vem num tom mais realista, se aproximando da cor da pele da atriz. 

“Tirar toda a maquiagem também era quase impossível, muitas vezes ela saía do camarim ainda com algum vestígio dos produtos”, conta Cabral.

Eliseu Cabral e Rosi Campos no camarim durante a maquiagem - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

A transformação de Rosi Campos na famosa feiticeira de mais de seis mil anos leva em média 1 hora e 15 minutos. No camarim, o som de uma música clássica se torna o ambiente ideal para uma conversa de quem já se conhece há um bom tempo e é apaixonado pelo que faz.

“Fazer parte da equipe do Castelo foi e ainda é a melhor experiência profissional que eu pude ter na vida!”, revela o maquiador.

A preocupação com a imagem: “não posso cair bêbada”

Conhecido por sua temática e estética atemporal, o Castelo não só impactou os espectadores que se tornaram fãs e admiradores da produção, como também mudou a vida de todo o elenco.

“Esse projeto é realmente uma loucura. Vai fazer 30 anos e já tiveram vezes que eu estava com máscara à noite e me reconheceram, chamam pela Morgana e eu fico ‘como é que isso é possível?”, conta Rosi Campos.

Rosi Campos durante as gravações de 'Morgana e Celeste' - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Os protagonistas do novo programa também relatam as responsabilidades atreladas ao reconhecimento do público.

“A gente sabe o que a gente representa. Eu não posso cair na bêbada na rua, isso não tem condição. Eu nunca tiro uma foto se eu tiver com um copo na mão, só se for um copo de água”, enfatiza a atriz que dá vida à Morgana.

Álvaro Petersen também compartilha da mesma preocupação com a própria imagem:

“Eu sou um comunicador, então não posso sair vendendo tal cerveja na minha foto pessoal. Você nunca vai achar, nem em fim de ano eu com um champanhe sequer. Eu tenho consciência que isso é importante para minha carreira e para a verdade do que eu estou fazendo”, revela o ator.

Rosi Campos e Álvaro Petersen durante as gravações de 'Morgana e Celeste' - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

Reconhecido nas ruas mesmo sem aparecer na tela, Petersen afirma que se trata de um “projeto de vida”.

“Quando me perguntam ‘por que não tem mais?’, eu respondo ‘porque você não faz, porque eu já fiz’. Você fazer um programa desse pique nessa idade envolve comprometimento, responsabilidade, envolvimento, sofrimento e luta. Nós fizemos e continuamos fazendo isso, porque a gente veste a camisa quando a gente não faz propaganda de cigarro e bebida, por exemplo. A gente se comprometeu há muito tempo, por isso estamos aqui fazendo de novo”, destaca a “alma e voz” da cobra Celeste.

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O retorno do Castelo

As gravações da nova série chegaram ao fim no dia 13 de dezembro. Com o término das filmagens, fica em toda a equipe o sentimento de satisfação por ter feito parte do projeto, que deixa um “gostinho de quero mais”.

“As pessoas acham que ‘Morgana e Celeste’ é um retorno, mas não é bem um retorno do Castelo. É um retorno pequeno, é uma lembrança”, afirma Rosi.

Set de filmagem - Foto: TV Cultura / Silvio Júnior

“A gente está torcendo para que o programa abra caminho para que se produza mais coisas do Castelo”, complementa Álvaro.

Em 2024, o Castelo completa 30 anos. Em entrevista exclusiva ao site, Eneas Pereira, vice-presidente executivo e diretor de programação da TV Cultura, contou que a emissora trabalha em um filme e em uma outra série do “Castelo Rá-Tim-Bum”.

O longa-metragem, com a direção de Cao Hamburger, deve estrear em 2025. Já a série, de 26 episódios, ainda não possui previsão de lançamento.

Cenário 'Castelo-Rá-Tim-Bum' (1994) - Foto: Divulgação / TV Cultura

Assista a um dos episódios de Morgana e Celeste:

Esta reportagem especial contou ainda com o apoio de Giseli Malafronte, coordenadora de produção de 'Morgana e Celeste', Natasha Leonello, coordenadora de cenografia da TV Cultura, e Bruno Azevedo, estagiário da equipe de cenografia. 

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