Cego e diabético, Renan Henrique tem o fisiculturismo como um propósito de vida
Ao abordar a representatividade no esporte, o atleta reconhece a responsabilidade de ser um exemplo: “a gente consegue, pouco a pouco, fazer a diferença”
02/10/2023 09h58
Treinos exaustivos, dietas restritivas e uma vida dedicada ao esporte. Esses são alguns componentes do que é necessário para ser um fisiculturista. Renan Henrique, 23, faz tudo isso mesmo convivendo com diabetes mellitus tipo 1, atrofia do nervo óptico e bexiga neurogênica.
O atleta de Louveira, cidade de São Paulo que conta com pouco mais de 50 mil habitantes e fica localizada a cerca de 72 quilômetros de distância da capital, leva o fisiculturismo como um propósito.
Representatividade
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Renan aponta que seus problemas não são um acaso: “foi um propósito que Deus me encaminhou”.
“Conheci muitas pessoas - que tinham diabetes - revoltadas, depressivas: ‘não posso fazer isso, não posso fazer aquilo’. Eu estou aqui para dizer: ‘pode sim’. Nunca diga que você não pode fazer algo. Se você diz que não consegue, já colocou uma barreira muito grande, uma limitação no seu comportamento”, completa o atleta patrocinado pela Darkness, empresa brasileira voltada ao ramo de suplementação esportiva.
Para o fisiculturista, “todo mundo vai ter dificuldades na vida. Várias. Mas elas não vêm para derrubar a gente. Vêm para te mostrar que você consegue”.
Ao abordar a representatividade dentro do esporte e ser colocado como um espelho para pessoas que compartilham dos mesmos problemas, Renan alega sentir a “responsabilidade” que leva consigo: “não posso deixar de passar isso para as pessoas (...) se eu conseguir ser exemplo para duas pessoas, e cada uma delas for exemplo para outras duas, já são quatro. Assim, a gente consegue, pouco a pouco, fazer a diferença”.
Fisiculturista cego
Uma parte importante dentro do fisiculturismo é a visão do atleta sobre seu corpo. Um fisiculturista precisa se autoavaliar para saber quais serão seus próximos passos, quais são seus pontos fracos, etc. Mas como um cego consegue saber o que precisa ser feito?
Por mais que não conte com a visão, Renan tem diversos outros sentidos. Ou seja, ele sente aquilo que não pode ver: “consigo sentir o fluxo sanguíneo, sentir o músculo aquecendo. Costumo dizer que é até uma vantagem (...) meus adversários estão vendo o que fazem. Como eu não vejo, às vezes preciso fazer algumas séries a mais para me concentrar na região que eu quero atingir.”
“Quando eu comecei a treinar, eu enxergava. E, às vezes, você se olha no espelho e isso te motiva. Ou seja, há uma certa limitação. Sem a visão, eu não sinto nenhuma limitação. Eu estou sempre impulsionado a ir além. Consigo sentir que ainda tenho margem para treinar mais”, explica o fisiculturista.
“Quando você perde um sentido, os outros são aflorados. Então a questão de mentalizar o exercício melhora demais. Eu até dou dicas para pessoas que têm dificuldade em ativar certas musculaturas: ‘fecha o olho e tenta sentir a contração dessa região’. Isso ajuda muito”, ressalta.
Diabetes
Embora muitas pessoas enxerguem a doença como um fator limitante, o fato de Renan ser um atleta o ajuda na contenção do problema. Atualmente, ele se encontra em preparação para competir no Musclecontest Sorocaba, campeonato que acontecerá no dia 14 de outubro.
“Tenho uma deficiência com relação à produção de insulina, então o nível de glicose no meu sangue é elevado. Isso faz com que eu tenha problema para absorver diversos nutrientes. No entanto, se eu faço meu tratamento, consigo ter uma vida ‘normal’ (...) mas olha como a musculação é maravilhosa: por eu estar em preparação, a carga do treinamento começou a se elevar tanto que meu corpo, por si só, parece estar ‘puxando’ mais glicose, e aí eu preciso menos da medicação. Com isso, eu vou fazendo adaptações”, alega o fisiculturista.
Caso não faça o controle e a manipulação necessários de sua glicemia, Renan pode ter seu trabalho prejudicado. Os ajustes são diários. No entanto, ele não utiliza insulina durante o dia desde que iniciou sua preparação, há cerca de dois meses.
“Justamente por eu estar em uma carga tão alta de treinamento, eu estou forçando o meu corpo a absorver mais glicose, então eu não preciso mais de tanta medicação”, conclui.
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