Ninguém discute que Matrix é uma das maiores obras de ficção científica de todos tempos. O que nem todos sabem é como se deu a trajetória das mentes por trás desse universo cinematográfico, cheio de significados ocultos e analogias, até o sucesso.
Lilly e Lana Wachowski nasceram em 29 de dezembro de 1967 e 21 de junho de 1965 respectivamente, ainda com os nomes de Andrew Paul "Andy" Wachowski e Laurence "Larry" Wachowski.
Enquanto estavam na universidade (Lana na Bard College e Lilly na Emerson College), as duas deram um start na carreira do meio nerd escrevendo para a Marvel Comics. Elas trabalharam em edições da série de quadrinhos ‘Ectokid’, personagem do escritor Clive Baker. Paralelamente, as irmãs também trabalhavam juntas com carpintaria para alavancar a renda.
No início dos anos 1990, a dupla começou a trabalhar com o primeiro projeto cinematográfico. O ator e produtor Mel Gibson convidou as autoras de HQs para roteirizarem o longa ‘Assassinos’, de 1995. Mesmo com astros como Sylvester Stallone e Antonio Banderas no elenco, o filme não foi bem de crítica nem de bilheteria. Posteriormente, as irmãs chegaram a declarar que a culpa do “flop” da produção seria do diretor Richard Donner (‘Superman – O Filme’, ‘Os Goonies’ e ‘Máquina Mortífera’). Ele teria ignorado trechos relevantes do roteiro no corte final.
Diferente da primeira participação em um longa, o próximo projeto das duas recebeu uma aprovação bem maior da crítica. ‘Ligadas pelo desejo’, de 1996, contou não apenas com o roteiro, mas com a produção e direção da dupla. Na trama, um casal lésbico formado por uma ex-presidiária e uma ex-esposa de um mafioso planeja fugir e dar um golpe na máfia.
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O próximo filme dirigido pelas duas mudaria tudo. ‘Matrix’ (1999) brincou com conceitos filosóficos, construiu um mundo digno das melhores ficções científicas já feitas e abusou de sequências de ação inspiradas nas produções clássicas de artes marciais. A mistura deu tão certo que rendeu três sequências: ‘Matrix Reloaded’ e ‘Matrix Revolutions’ (ambos de 2003) além do mais recente ‘Matrix Resurections’ (2021). A franquia também originou a animação ‘Animatrix’ (2003), que conta com diversas histórias ocorridas no mundo criado pelas Wachowski.
Além do impacto brutal na cultura pop com o lançamento da franquia Matrix, a dupla voltou às origens e trabalhou no roteiro de um longa baseado em histórias em quadrinhos, e não foi qualquer uma. ‘V de Vingança’ (1989), de Alan Moore e David Lloyd, foi adaptado para os cinemas em 2005 e teve roteiro das Irmãs. As duas também trabalharam na direção, roteiro e produção de ‘Speed Racer’ (2008), adaptação dos clássicos mangás e animes japoneses.
Outro projeto muito querido das Wachowski é a série ‘Sense8’. Na produção, um grupo de pessoas em diferentes lugares do mundo são interligadas mentalmente e precisam se proteger de grupos que desejam sua eliminação.
Mesmo com a aprovação de uma legião de fãs, depois de apenas um mês do lançamento da segunda temporada, a série foi cancelada pela Netflix, porém após grande mobilização dos amantes da produção, a plataforma de streaming voltou atrás na decisão e anunciou que iria produzir um episódio final de duas horas da criação das Wachowski. O material foi lançado em 8 de junho de 2018.
Apesar da parceria entre irmãs, Lily não retornou ao lado de Lana para participar de Matrix Resurections. Talvez não tenha sido esse o motivo principal da diretora não assinar o quarto filme da franquia, mas Lili Wachowski já se mostrou irritada pela apropriação da metáfora das pílulas azul e vermelha, parte emblemática da franquia, por parte de grupos conservadores de diteira.
Ela chegou a xingar a filha do ex-presidente dos EUA Donald Trump, Ivanka Trump, e o empresário magnata Elon Musk em uma conversa no Twitter em que os dois faziam referência à cena das pílulas em Matrix.
Atualmente, Lily produz e dirige alguns episódios da série ‘Work in Progress’, em que a temática LGBTQIA+ é central para a história. O seriado acompanha a história de uma mulher lésbica que se apaixona por um homem trans.
Transição de gênero
Lana foi a primeira a passar pela transição de gênero. Ela começou o processo durante a elaboração de Matrix. A diretora se assumiu para o público como mulher trans em 2010 e passou a assinar suas obras como “Lana Wachowski” ao invés de “Larry Wachowski”.
Em entrevistas, Lana já afirmou que a mudança para uma escola católica durante a infância foi um ponto chave em sua vida para o questionamento sobre identidade de gênero, por causa das constantes divisões entre meninos e meninas que aconteciam lá.
Se descobrir uma pessoas trans não foi fácil para Lana. Após receber o prêmio de Visibilidade em um jantar de arrecadação de fundos para a Campanha dos Direitos Humanos em São Francisco, em 2012, a cineasta revelou que cogitou tirar a própria vida durante a juventude. Ela chegou a ir para um metrô tentar concluir o que tinha em mente, mas quando percebeu que estava sendo encarada por um estranho, desistiu do objetivo.
“O homem então me encarou como um animal encara o outro. Não sei por que ele não desviou o olhar. Tudo o que sei é que, porque ele não o fez, ainda estou aqui”, declarou Lana.
Já Lily, passou pela transição de gênero em 2016. Ela afirmou que o processo pela qual passou a irmã a ajudou na nova fase. As duas já relataram experiências conturbadas com a imprensa durante os períodos de transição.
Lily inclusive já revelou que Matrix também é uma alegoria à transsexualidade. Ela declarou que inicialmente o personagem Swich seria uma mulher dentro da matrix e um homem fora dela. A ideia foi descartada.
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