Maior floresta tropical e maior reservatório de água doce do mundo, a Floresta Amazônica é conhecida por sua vasta diversidade de fauna e flora, por ser um laboratório natural de pesquisas, por ser fonte de alimentos, plantas medicinais e geração de energia, pela abundância de minerais na região e por abrigar diversas aldeias indígenas.
Além disso, a Amazônia é responsável por estabilizar o clima no mundo inteiro e, por meio do fenômeno dos "rios voadores", formados por massas de ar carregadas de vapor de água, a região leva umidade ao Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e influencia no regime de chuvas de países como a Bolívia, o Paraguai, a Argentina, o Uruguai e o Chile. Com isso, a umidade vinda da floresta alimenta regiões que geram 70% do PIB da América do Sul.
Nesta sábado (5), é comemorado o Dia da Amazônia, data escolhida como forma de homenagear a criação da Província do Amazonas por D.Pedro II em 1850. No entanto, não há muito o que ser comemorado neste dia. A floresta, que abrange nove países sul-americanos e nove estados brasileiros, tem enfrentado o aumento do desmatamento ilegal e o desmanche das estruturas de fiscalização de crimes ambientais.
Recorde de queimadas
A discussão em torno do assunto foi intensificada em agosto de 2019, quando os focos de queimada na região cresceram significativamente e o mundo inteiro direcionou os olhares para a Floresta Amazônica. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as queimadas no País aumentaram 82% desde o início do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), se comparadas com 2018.
O ano de 2020 também não chegou com melhores resultados, que foram ainda mais impactados pela pandemia do novo coronavírus. Em abril deste ano, o desmatamento da Amazônia foi o maior dos últimos dez anos, com 529 km² de floresta derrubada, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Já no mês de agosto, o volume de queimadas registradas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi o maior do ano e o segundo maior da década: 29.307 focos de calor. Segundo especialistas, o fogo foi resultado de incêndios criminosos e políticas anti-ambientais. Os municípios com mais casos foram Apuí, Novo Aripuanã e Lábrea.
Falta de políticas ambientais
A gravidade do problema ainda é intensificada pela diminuição das medidas contra o desmatamento pelo governo brasileiro. Em meio a polêmicas e exonerações, a política ambiental de Bolsonaro foi alvo, em junho, de ações protocoladas no Supremo Tribunal Federal (STF) e uma na Justiça Federal do Amazonas por congelamento de verbas destinadas à preservação ambiental e exportação de madeira sem fiscalização.
O governo federal ainda voltou a usar uma ação de Garantia da Lei e da Ordem que transfere para as Forças Armadas a responsabilidade de todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e incêndios na Amazônia, retirando a autonomia dos órgãos de proteção ambiental.
Recentemente, dois vídeos aumentaram os debates sobre o assunto. Em um deles, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu que a pandemia do novo coronavírus seria a oportunidade ideal para que o governo mudasse as regras ligadas à proteção ambiental e à área de agricultura, sem ser questionado pela Justiça.
Em outro vídeo que circulou nas redes sociais, o presidente Bolsonaro aparece durante a Sessão Plenária do Fórum Econômico Mundial de 2019 dizendo a Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, que "adoraria explorar os recursos da Floresta Amazônica" com os norte-americanos.
Consequências
O grande problema do desmatamento é que, conforme as florestas são derrubadas e aumentam os efeitos do aquecimento global, são quebrados os frágeis processos ecológicos, que levaram anos para serem construídos.
As queimadas e a exploração fora de controle ainda atingem as tribos indígenas da região, que estão entre as mais expostas durante a pandemia da Covid-19. De acordo com levantamento do Instituto Socioambiental, o território Yanomami, localizado entre Roraima e Amazonas, é um dos mais vulneráveis atualmente.
Um estudo realizado pela Nasa, a agência espacial norte-americana, mostrou que a Amazônia está cada vez mais seca. A pesquisa utilizou imagens do satélite Aqua para calcular as precipitações, evaporações e ciclo da água na maior floresta tropical do mundo, nas últimas duas décadas.
Segundo o climatologista José Marengo, em entrevista ao Repórter Eco, os impactos da mudança climática na Amazônia podem ainda se estender para todo o mundo. “Pode afetar, por exemplo, a frequência de furacões na América Central. Pode afetar, como consequência também, a chuva e a produção agrícola nos Estados Unidos [...] Não dissemos que isso é o que vai acontecer, isso é o que pode acontecer se nada for feito”, disse.
O Dia da Amazônia surge, assim, para reforçar os debates sobre o assunto e as cobranças por medidas de combate ao desmatamento. Nesta semana, a Articulação dos povos indígenas do Brasil (Apib), em parceria com o Observatório do Clima, promoveu uma campanha, batizada de Defund Bolsonaro, para pressionar investidores estrangeiros a não financiarem o desmatamento, com a expectativa de aumentar a pressão internacional a favor da preservação da floresta. “O fogo na Amazônia não é natural. É um ato criminoso incentivado por Bolsonaro e por grandes empresas”, afirmou o manifesto.
Confira a entrevista completa com José Marengo no Repórter Eco:
Saiba mais sobre os "rios voadores" da Amazônia:
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