O aquecimento global é um problema da sociedade industrial que está presente há muito tempo e a cada dia que passa, isso piora. Um dos resultados desse fenômeno é a ocorrência mais frequente e com maior intensidade de eventos climáticos extremos, como invernos muito frios ou verões muito quentes, secas acentuadas ou enchentes e inundações.
O surgimento da Covid-19 tem potencializado os problemas decorrentes do aquecimento global pelo fato do foco ser outro. Agora a sociedade luta contra uma doença que tira vidas todos os dias. Em entrevista ao site da TV Cultura, Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de conhecimento da ONG SOS Mata Atlântica e mestre em engenharia ambiental, chama atenção para urgência em voltar o olhar para o meio ambiente. "Está tudo conectado e deveria haver políticas integradas que tratam do todo", sugere.
Ele ainda relata que tudo indica que o coronavírus passou a contaminar os humanos devido a um desequilíbrio ambiental, assim como tem ocorrido com diversas outras doenças e epidemias, como o Ebola, dengue, etc. Portanto, ter políticas e ações que protejam a biodiversidade e o clima também evitam doenças, inclusive novas pandemias, a falta de água, a fome, entre outros problemas.
Perspectivas para o futuro
Apesar de todo o alarme da ciência sobre a emergência da situação climática do planeta, as emissões de gases de efeito estufa continuam aumentando e como resultado, eventos extremos ficam ainda mais agudos. Isso gera um impacto direto na vida da população.
As emissões de gases nocivos aumentam, ao invés de diminuir. "A concentração de CO2 na atmosfera subiu de 370 ppm (partes por milhão), em 2000, para 417 em 2020. Enquanto no ano de 1960, foi de 317 ppm".
O ambientalista alerta que o futuro do planeta é preocupante. Pode afetar ainda mais a economia e o bem estar de todo ecossistema. "Pela trajetória atual, a temperatura do planeta deve aumentar em até 3 ou 4 graus celsius até 2100", aposta.
"Isto deve causar mudanças ainda mais drásticas para o clima da Terra, como o derretimento do gelo dos polos e o aumento do nível do mar. Só isto vai impactar países e cidades que estão a beira do mar, como é o caso da nossa Mata Atlântica e cidades da costa brasileira. Os eventos extremos devem se acentuar, afetando a produção de alimentos e as populações mais vulneráveis. Pode faltar água em muitos lugares", diz o especialista.
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Queimadas e desmatamentos
Para conter o aquecimento global, Luis explica que a primeira medida, e mais urgente, é acabar com as queimadas e o desmatamento no Brasil, que estão entre as maiores causas da emissão de gases. Isso pode ser feito com a aplicação da lei ambiental, já que a maior parte do desmatamento no país é ilegal.
"A Mata Atlântica, por exemplo, é protegida por uma lei especial e não pode ser desmatada. Mesmo assim, entre 2018 e 2019, houve um aumento de quase 30% no desmatamento do bioma", relata.
Para isso, o Código Florestal que regra quando, aonde e quanto pode ser desmatado em propriedades rurais, deve ser seguido. Outra medida importante é criar unidades de conservação, que protejam os remanescentes de florestas no país e a sua flora e fauna.
O último passo nessa luta é aplicar a lei de Pagamentos por Serviços Ambientais, para dar benefícios econômicos para quem protege a natureza. "Tudo isto é fundamental, pois as nossas florestas e ecossistemas nativos nos proporcionam serviços ambientais, que são fundamentais para termos água em nossas casas e comida no prato".
Todas essas medidas são necessárias para recuperar o que já foi perdido para o aquecimento global. Luís acredita na possibilidade de mudar este cenário com investimento em energia renovável e agricultura sustentável. "Temos conhecimento suficiente para entender o que está acontecendo, prever o futuro do clima e evitar os cenários mais graves. Temos que garantir que a temperatura do planeta não passe do aumento do 1,5 grau C. Para isto temos que inverter o rumo da curva das emissões e aquecimento".
O ambientalista explica ainda que o país está muito bem posicionado para dar uma enorme contribuição ao clima, sem comprometer a economia."Temos uma matriz energética relativamente pouco dependente do petróleo, muito potencial para energia solar, produzimos biocombustíveis renováveis e podemos fazer uma agricultura de baixo carbono. Mais do que isso, podemos produzir alimento e energia sequestrando carbono no solo", diz.
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