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Especialista usa exemplo de bebê Alice e explica se excesso de informação interfere no desenvolvimento de crianças

Co-fundadora da Educacross, Erica Stamato compartilha formas para avançar a pronúncia dos pequenos em casa, sem ficar refém da tecnologia


30/07/2021 12h28

Oftalmologista, propositalmente, tiranossauro Rex e proparoxítona são algumas palavras faladas por uma garotinha chamada Alice. Com apenas 2 anos, ela viralizou nas redes sociais ao aparecer em vídeos pronunciando palavras consideradas difíceis para a sua faixa etária.

Seu sucesso começou com uma brincadeira, que depois foi filmada. Sua mãe, Morgana Secco, dizia palavras "complicadas" e a filha repetia com facilidade. Bastou apenas um vídeo para Alice conquistar o coração das pessoas da internet.


Para a especialista em psicopedagogia e co-fundadora da Educacross, empresa que cria plataformas de aprendizagem para escolas, Erica Stamato, a genialidade da pequena Alice vem da sua capacidade linguística, mas também do estímulo educativo e lúdico feito pela sua mãe.

O vídeo mostra uma simples brincadeira entre as duas, sem o uso da tecnologia. A fim de explicar como excesso de informação pelo digital interfere na comunicação de crianças, o site da TV Cultura entrevista a psicopedagoga, que também fornece dicas para o desenvolvimento da fala.

"O vício na tela gera a diminuição da pragmática, da capacidade discursiva e do diálogo. Isso só pode ser exercitado com a conversação. A síndrome do afastamento social já acontece. Em eventos, há pessoas que ficam com o celular e não tem uma troca com os outros", afirma. Segundo ela, essa atitude resulta na imaturidade, uma vez que as relações sociais treinam a pessoa para lidar com frustrações e reflexões pessoais.

A entrevistada considera que o uso excessivo de conteúdos digitais e televisivos, que causam excesso de informação, são prejudiciais para a evolução da fala. Embora ainda seja um meio de conhecer novas palavras, é preciso usá-las na prática para aderir ao vocabulário diário. Caso a família perceba um atraso ou dificuldade em idade já avançada, é importante buscar um fonoaudiologista, principalmente para ter um diagnóstico e fazer exercícios corretos de desenvolvimento.

Veja como estimular a fala e diminuir o uso da tecnologia em casa

Organização da rotina da criança

Organizar a rotina da criança - para além da tecnologia - e permitir que ela visualize qual será a próxima atividade, é uma maneira de amenizar sua ansiedade ao longo do dia. Erica afirma que essa fórmula é muito usada nas escolas, na educação infantil.

"O aluno tem dois aninhos e está ansioso e inseguro por se separar dos pais ao ir para a escola. Uma forma de diminuir isso é escrever na lousa a rotina do dia, da entrada até a hora da saída. Quando ele está mais inquieto, mostramos o que já foi feito, o que ainda irá acontecer e quando ele vai encontrar seus pais. A criança fica confortável e tem uma noção de tempo importante".

Para a psicopedagoga, é essencial sinalizar o tempo de cada tarefa. Quando a criança estiver pintando, avise quanto tempo falta para partir para o próximo tópico, assim, ela não é surpreendida e não fica brava por parar de fazer o que estava interessante.

O cronograma deve ser feito junto com o filho, para estimular sua criatividade e fala, mas principalmente por ele ser a pessoa certa para dizer o que gostaria de fazer ao longo do dia. A especialista também cita que é fundamental permitir que ele fale por si, sem ocorrer um atropelamento dos seus desejos e sentimentos, como por exemplo "você quer dormir, né?", antes mesmo dele comunicar essa vontade.

Atividades para estimular a fala

Na rotina criada, é necessário adicionar tarefas que estimulem a comunicação do pequeno. "Pedir para ele passar um recado para a vovó, ligar para outro parente ou pegar uma encomenda com o porteiro, são situações simples do dia a dia, que ajudam".

Além da "hora da história", considerada por Erica um momento essencial no desenvolvimento da fala. A contação de uma literatura enriquecida, traz novas palavras para o vocabulário do filho e perguntar o que ele está achando e o que pensa que irá acontecer, também é indispensável, segundo ela.

Outro estímulo para a pronúncia, é incluir a criança na cozinha. Levá-la para observar os alimentos sendo preparados, explicar de onde vieram e permitir que ela experimente algo e diga o que achou. "Além de cozinhar, tem a refeição em família. O filho que tem a alimentação em conjunto é culturalmente melhor. Compreende mais, é menos estressado, é mais confiante e sociável, são situações privilegiadas", ressalta.

Onde entram as telas?

De forma controlada, as telas podem fazer parte das brincadeiras. Com dois anos, é permitido expor as crianças à tecnologia com supervisão, de acordo com a especialista. Mas sabendo que com apenas um clique, o filho pode entrar em conteúdos que não façam parte de seu universo, é fundamental que os responsáveis busquem os "gerenciadores de conteúdo" e dessa forma filtrem o que ficará disponível nos sites, lembra Erica.

Além da observação, o momento em família para consumir algum desenho ou filme, garante novas informações e um diálogo aberto com a criança. "É um momento de construir uma narrativa com seu filho, entender o que ele pensa e o que gosta de fazer. Mas também pode ser a deixa para mostrar que algo é errado".

A especialista sugere que os pais não reajam de forma brusca caso o filho veja algo inadequado. "O 'susto' não é a melhor forma de ensiná-lo, diga 'estou olhando aqui e isso não é bom para você. Vem cá, vou te mostrar algo bem legal', sempre de forma passiva", termina.

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