O novo currículo escolar da rede estadual foi anunciado em 2018 e ainda está sendo adaptado para entrar em vigor. De acordo com a reforma, em 2022, alunos dos 2º e 3º anos do ensino médio não teriam a disciplina de educação física na grade de atividades.

Pela proposta, o primeiro ano contemplaria a formação geral básica. Nessa etapa, o aluno tem as disciplinas normais de formação geral: Língua Portuguesa, Matemática, Inglês, Artes, entre outras. Além de carga horária destinada a seu Projeto de Vida. 

"Hoje já sabemos que a prática de atividade física contribui para a qualidade de vida, para ter o melhor panorama em relação a saúde", comenta Victoria Gagliardi, nutricionista especializada em esportes, formada pelo Centro Universitário São Camilo. 

Victoria ainda afirma que a falta de incentivo a prática de atividade física ou a própria descontinuidade, vai contribuir para o aparecimento de obesidade, ansiedade e sedentarismo. De acordo com um estudo feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 2020, revela que quatro em cada cinco adolescentes no mundo são sedentários. Os dados do Brasil apontam que 84% dos jovens entre 11 e 17 anos não praticam nem uma hora diária de atividade física. 

"Nós temos aulas na faculdade que estudam a fisiologia e métodos de ensino. Nessas aulas, por exemplo, conseguimos dizer se algum aluno tem problema motor, TDAH ou algum outro diagnóstico pode ser identificado no exercício físico", comenta o estudante de Educação Física, Endrew Santos Santana. 

"Os adolescentes ainda estão em fase de formação, eles não têm todas as aptidões formadas, então, precisam ainda dessa dessa experiência, e saber o que é o esporte ou o que pode ser para cada um", afirma Victoria Gagliardi. 

Atividade Física

Um levantamento feito pelo Ministério da Cidadania em 2021 aponta que quase metade das escolas de educação básica do país não têm nenhum espaço para os alunos praticarem esporte. Os dados, computados a partir do Censo Escolar da Educação Básica 2020, mostram que, de 135.263 escolas do ensino fundamental ao médio, 47% não possui nenhuma instalação para a prática. "Cadê o incentivo ao esporte? Como vamos levar atletas às Olimpíadas se eles não tem onde e como praticar?", indaga Eduardo Santana, educador em práticas de educação física. 

"O governo quer tirar a educação física, deixar não obrigatória ou reduzir o tempo de aula. Isso vai fazer o professor da rede pública ser dispensado. Mas, os colégios particulares, que costumam ter mais recursos, vão contratar um professor e aqueles adolescentes vão ter uma oportunidade de conhecer o esporte", afirma Santana. 

A nutricionista Victoria Gagliardi, ainda ressalta que os itinerários previstos para o novo ensino médio — com núcleos de linguagens, ciências exatas e ciências da natureza — não contemplam amplamente a formação dos alunos. E diz que é preciso pensar em estratégias de melhoria na educação que não anulem matérias como a prática de esportes físicos. 

Ainda de acordo com o estudo feito pelo Ministério da Cidadania, 95% dos colégios de rede pública têm docentes que dão aula de educação física, mas só 69,9% das aulas dessa disciplina são ministradas por professores especializados. "Quanto custa para formar um piloto de Fórmula 1? Ou um jogador? Levar um adolescência para ganhar uma olimpíada, colocar a bandeira do Brasil. Quanto custa se ninguém especializado ensinou a ela?", questiona Santana, e ainda diz: "Como vamos ter grandes grandes atletas olímpicos no país que não tem atividade física?". 

"Não vejo como como algo positivo a retirada ou seletividade da atividade física. Precisamos de uma educação que contemple melhorar o jovem, em amplos sentidos", diz Victoria Gagliardi. 

Em 2003, foi criado um programa do antigo Ministério do Esporte para incentivar a prática esportiva nas escolas. O "Segundo Tempo" atende crianças e adolescentes no contraturno escolar. Em outubro de 2021, existiam apenas 78 convênios ativos.