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Artistas periféricos no palco dos grandes festivais: representatividade ou apropriação cultural?

Mundo da música comemora espaços conquistados, mas ressalta que ainda não é o bastante


16/08/2022 06h10

Os grandes festivais de música atraem milhões de pessoas pelo mundo todo. Eventos como Tomorrowland, Lollapalooza e Rock in Rio têm conquistado um público cada vez maior no Brasil e a procura por essas festas tem aumentado constantemente.

O Rock in Rio já teve 20 edições em sua história e oito delas ocorreram no Brasil. O festival já recebeu Foo Fighters, Guns N' Roses, Beyoncé e Queen, por exemplo. Entretanto, o evento vem trazendo diversos estilos musicais com o passar dos anos.

Em 2019, o Rock in Rio inaugurou o Espaço Favela, com a ideia de reunir a diversidade das comunidades, segundo os produtores. Lellê, MC Carol Bandida, Tati Quebra-Barraco e MC Tchelinho foram atrações presentes na primeira edição do espaço.

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Na edição de 2022, que ocorrerá nos dias 2, 3, 4, 8, 9, 10 e 11 de setembro de 2022, no Parque Olímpico, na Zona Oeste do Rio, o Espaço Favela terá o cantor Ferrugem como embaixador. Além do pagodeiro, MC Hariel e MC Don Juan representarão o funk no evento.

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, MC Hariel contou sobre a expectativa de cantar no festival. “Vai ser o show mais importante que eu já fiz na minha vida. Eu ter sido convidado é uma satisfação total, porque tocar no Rock in Rio era o sonho do meu pai e da minha mãe. Me perguntar se era meu sonho é complicado. Eu nunca imaginei que cantaria em um evento deste tamanho porque não era algo viável para minha realidade.” afirmou o cantor.

Hariel também explicou qual sua motivação em subir no palco e disse ter consciência da quantidade de pessoas que se inspiram nele.

“Eu cheguei lá e quero subir no palco só para isso: representar os moleques que se espelham em mim e olha a minha vitória e acredita que também consegue. É o que eu costumo dizer, minha maior conquista foi a caixa d’água de casa, a partir dali eu já estava satisfeito. Isso não é pensar pequeno, é que para gente a realidade é outra.”

Reprodução / Instagram @mchariel

No entanto, desde a criação do Espaço Favela em 2019, muitas discussões acerca dessa proposta do evento aconteceram. A principal questão levantada é de que o evento não é inclusivo para pessoas de comunidade e de baixa renda e que a utilização do nome “Favela” é, na verdade, uma apropriação cultural.

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Também em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, o Articulador Nacional do Movimento Funk, Bruno Ramos, opina sobre o assunto.

“Me incomoda um pouco o nome do palco: Favela. Isso passa muito por uma estrutura de apropriação cultural e a minha preocupação é se realmente, de fato, estão inserindo as pessoas no evento. Será que realmente os moradores da favela estão frequentando esse espaço? O que me parece é que, mais uma vez, esse sistema de dominação está se apropriando da cultura periférica e não se preocupando se realmente pessoas periféricas que estão frequentando esse evento.”, analisou.

Reprodução / Instagram @zericardooficial

Entretanto, Bruno reconhece a importância de artistas vindos da periferia participarem desses eventos. “Ter um dos nossos nesses espaços é muito importante. É uma possibilidade de alcance e visibilidade para o movimento como um todo.”, ressalta.

O público dos grandes festivais de música é majoritariamente branco e de classe média. Por conta disso, os debates sobre a apropriação cultural do evento têm ganhado tanto destaque principalmente entre ativistas.

Para Bruno, o público que está presente nos festivais e ouve os artistas da periferia cantando suas músicas, são apenas consumidores do conteúdo, mas não vivem o que é cantado e, por isso, é difícil que as letras gerem uma reflexão nas pessoas.

O funkeiro MC Hariel, por exemplo, é um dos principais representantes do funk consciente, com letras de grandes críticas sociais. Porém, Bruno acredita que a romantização dessas músicas, também ajuda a criminalizar o movimento. 

“A música não é um manual de comportamento ético. Não é a partir da música que você vai se politizar. Você precisa de outros mecanismos e ferramentas de formação e politização. O problema nunca foi a letra, mas sim que está cantando.”, pontua.

Além disso, Bruno Ramos explicou que abrir espaço para um artista vindo da periferia não é representatividade. “Colocar um funkeiro em cima do palco não significa que toda a comunidade periférica esteja sendo representada. Isso não é representatividade máxima. Pensar de forma mais plural seria realizar um festival que seja totalmente e somente organizado por funkeiros. É vergonhoso um evento como um Rock in Rio não ter uma cota de cortesia nos camarotes para levar os periféricos. Já que eles se apropriam do nome "Favela" e de várias outras culturas marginalizadas, a cota social deles é fazer com que essas pessoas periféricas possam estar presentes nesses festivais.", ressalta.

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