Setembro Dourado alerta sobre importância do diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil
Mais de nove mil casos são diagnosticados no país a cada ano triênio, estima INCA; conheça sinais sugestivos
26/09/2022 11h15
Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA), para cada ano do triênio 2020/2022, mais de 9 mil casos de câncer em crianças e adolescentes de zero a 19 anos são diagnosticados no país, e a campanha “Setembro Dourado” busca alertar a sociedade sobre a importância de se atentar aos sinais sugestivos do câncer infantojuvenil.
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Cecília Maria, líder da oncologia pediátrica dos hospitais AC Camargo Câncer Center e Hospital Infantil Sabará, fala sobre a importância do diagnóstico precoce, sintomas e tratamento.
De acordo com ela, a leucemia - câncer que ocorre na formação das células sanguíneas - que é popularmente conhecida como câncer no sangue, é um dos tumores mais comuns na infância. Os tumores cerebrais, que podem ou não ser benignos, e os linfomas, que são um conjunto de cânceres que afetam o sistema responsável por ajudar a combater infecções, também estão entre os mais recorrentes.
Já no período da adolescência, os sarcomas - que são tumores malignos raros e que na maioria dos casos têm origem nas células que formam as chamadas partes moles do corpo - e os tumores ósseos são os mais frequentes.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce, que ocorre quando a doença é descoberta na fase inicial, é de grande importância, pois permite que o paciente tenha maior chance de cura e que a equipe médica utilize tratamentos menos tóxicos, o que consequentemente fará com que ele apresente menos efeitos, entretanto, a descoberta não é algo fácil, já que os sintomas podem se parecer com os de outras doenças.
“A maioria dos casos de câncer em crianças não tem sinais e sintomas em uma fase inicial. Na leucemia, por exemplo, a criança pode começar com sintomas semelhantes a de uma infecção, como febre, palidez e cansaço. EsseS sintomas podem ocorrer em várias doenças próprias da infância e que são mais frequentes, então é comum que o pediatra ache que é algo mais simples e não dê tanta importância, e quando o tempo vai passando ela vai ficando pior e aí já pode ser um diagnóstico mais tardio”, explica.
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No caso de tumores ósseos, que muitas vezes ocorrem entre os 12 e 15 anos, na fase em que a criança se encontra em crescimento, normalmente os sinais se confundem com a dor do crescimento, enquanto no caso de tumores cerebrais ela pode apresentar irritação, ter dor de cabeça com frequência e estrabismo - que consiste no desalinhamento do olho.
Para Cecília, o mais importante é que a criança ou adolescente seja acompanhada sempre pelo mesmo médico. “Infelizmente aqui no Brasil temos uma cultura de que quando a criança tem um sintoma ela não vai em um médico que a acompanhe, ela vai ao pronto-socorro e normalmente a próxima vez que for não é o mesmo médico [..] Se uma criança está com febre e palidez ele dá um remédio para ela achando que é uma infecção, mas no dia seguinte se o mesmo reavalia o caso ele pode se preocupar e pedir um exame de sangue, e em um simples já pode ser feita a suspeita de que é leucemia ou não”.
Tratamento
Diferente do que presenciou quando entrou para a área nos anos 90, a médica oncologista pediatra conta que atualmente seguem critérios clínicos, genéticos e moleculares que fazem com que eles entendam que um paciente, de acordo com sua característica clínica, genética e molecular da doença, tem uma chance de cura e de responder ao tratamento de forma diferente.
“Hoje em dia falamos que o tratamento é mais especializado, porque eu posso fazer um tratamento mais intenso para pacientes com fatores de prognóstico pior, e para pacientes que têm fatores de prognóstico melhor, podemos poupá-los de vários efeitos adversos, como da quimioterapia e radioterapia”, expõe.
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No momento, ela revela que o principal foco dos estudos se encontra em diminuir a toxicidade do tratamento do câncer pediátrico com quimioterapia com outras formas, como por exemplo, a imunoterapia, pois apesar de se apresentar eficaz, a quimio ainda é muito tóxica.
“Outro ponto importante é a humanização do tratamento. Com a sobrevida, a chance de cura melhorou muito e o nosso foco atual não é como era no passado. Antigamente pensávamos que tínhamos que curar os pacientes, mas agora não basta apenas curar, é necessário pensar em curar uma pessoa totalmente sadia, uma criança que será um adulto completamente normal, sem limitações”, destaca.
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