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Reprodução/Instagram @cienciasemfim
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O telescópio espacial internacional James Webb representa um avanço da astronomia mundial. Lançado há pouco menos de um ano, o dispositivo já capturou diversas imagens que mostram a realidade do nosso universo de maneira que nunca enxergamos antes. No entanto, com tantos problemas existentes na Terra, é difícil enxergar como esses estudos podem ajudar a sociedade a evoluir como um todo. Por isso, o site da TV Cultura conversou com Sérgio Sacani para falar sobre o assunto.

Leia mais: Sete curiosidades sobre as imagens do telescópio espacial James Webb

Graduado em Geofísica pela Universidade de São Paulo, Mestre em Ciências e Engenharia do Petróleo pela Universidade de Campinas e Doutor em Geociências pela Universidade de Campinas, Sacani é dono do Space Today, um site, blog e canal de notícias científicas, focado principalmente em astronomia, astronáutica, astrofísica e física. É, atualmente, a maior comunidade astronômica do Brasil. Ele também tem seu podcast, o Ciência Sem Fim.

(Credito: NASA, ESA, CSA, and STScI)

Como o James Webb pode ajudar a sociedade?

Em entrevista exclusiva, o influenciador digital explica que muitos avanços podem ser decorrentes dos processo de desenvolvimento necessário para os estudos, e não de seus resultados em si. Ele também conta que essas inovações são chamadas de "spin-off": "É o spin-off da exploração espacial. Você desenvolve uma série de tecnologias que depois têm utilidade na nossa vida prática."

"Do lado prático da nossa vida, ele já está ajudando. Talvez o pessoal não saiba, mas hoje é feita uma operação na vista das pessoas, nos olhos, que precisa de um grau de precisão muito grande para poder ajustar a retina e tudo mais, e só se atingiu esse grau de precisão com o James Webb. ‘Ah, mas por quê?’ Porque para você alinhar os espelhos dele, que é dividido em 18 segmentos - todos alinhados e funcionando como um só -, você tem que usar um sistema de laser de altíssima precisão para alinhar e ajustar isso. Então, com esse sistema, o pessoal viu que tinha uma aplicação em operações de vista. Aqui na Terra, no olho do ser humano", completa Sacani.

Para exemplificar em termos mais palpáveis, ele cita mecanismos desenvolvidos para o automobilismo que são usados em carros populares: "Hoje, a gente tem os carros híbridos, que têm aquela parte elétrica de combustão. A parte elétrica dele vem do desenvolvimento que foi feito na Fórmula 1. A tecnologia espacial parece muito distante da gente, mas ela está na nossa vida e a gente nem percebe."

Além do lado prático, há o lado científico. Para o pesquisador, o telescópio "é muito importante" pois "pode resolver muitas questões" ao ajudar os cientistas a entenderem "como as primeiras estrelas e as primeiras galáxias se formaram no universo".

(Crédito: NASA/ESA/CSA, A Carter, the ERS 1386 team, and A. Pagan)

Objetivos e expectativas

O principal objetivo do James Webb é descobrir como as primeiras galáxias do universo se formaram. Para isso, é fundamental que o telescópio possa identificar raios infravermelhos. "Quanto mais longe você olha no universo, devido à sua expansão, a luz das coisas que estão muito longe são desviadas para o vermelho. Isso a gente chama de efeito Doppler. Para poder observar isso, é preciso ter um telescópio que funciona no infravermelho. O James Webb foi concebido para isso. Ele vai chegar o mais próximo - que a gente consegue chegar hoje - do início do universo", conta Sacani.

De acordo com o entusiasta da astronomia, o universo passou por uma fase denominada reionização: "Foi quando os átomos começaram a se juntar e a emitir luz pela primeira vez. Ali devem ter começado a se formar as primeiras estrelas e as primeiras galáxias, e o James Webb pode ver isso. Então esse seria o objetivo principal dele." Vale lembrar que o período se encaixa na teoria que aponta que o Big Bang foi o evento que originou o universo.

Sacani também ressalta que "outro grande objetivo é estudar a atmosfera de exoplanetas. Quando um planeta passa na frente de uma estrela, a luz da estrela passa pela atmosfera e é filtrada pelos elementos químicos, e o James Webb tem um equipamento que consegue mostrar essa luz toda decomposta, para você saber qual é a composição química. Através disso, um dos grandes objetivos do James Webb é tentar encontrar a tal da bioassinatura, que seria basicamente a descoberta de vida em outro lugar do universo. Ele tem essa capacidade, e essas são as duas principais coisas que os astrônomos querem."

Apesar da empolgação dos astrônomos, o produtor de conteúdo não descarta a possibilidade de o James Webb mudar a forma com que as pessoas enxerguem o universo. "Será que nós erramos as medidas todo esse tempo ou será que existe alguma coisa que, em todo esse tempo, que a gente não conhece e está influenciando?", questiona. 

Ele ainda lembra da "constante de Hubble", que mede a velocidade de expansão do universo. Nas atuais contas dos cientistas, os resultados diferem quando são comparados, o torna a área "uma grande questão". "Será que tem uma nova física para ser descoberta? Será que nós medimos errado e tem algo que durante todo esse tempo a gente não sabia? Então tem coisas em que o James Webb pode ajudar, e pode ser preocupante. Imagina se ele descobre que tem uma nova física atuando no universo, e aí a gente tem que reescrever tudo para explicar isso", observa Sacani.

(Crédito: NASA, ESA, CSA, STScI)

Imagens já divulgadas pelo James Webb

O telescópio espacial internacional já havia traduziu sons traduzidos das imagens capturadas e divulgou fotos do primeiro planeta fora do sistema solar, bem como de Júpiter, de Marte e de Netuno. Também foi feita uma imagem da IC 5332, galáxia localizada a 29 mil anos-luz de distância da Via Láctea. Pela posição do corpo celeste, é possível observá-la "de frente", o que facilita os estudos.

"Para mim, aquela parte de estudar as galáxias mais distantes é uma das coisas mais interessantes, mesmo", opina Sacani. "O Hubble, que era o equipamento mais avançado até então (...) o James Webb já conseguiu ir mais afundo na história do universo, mais longe", justifica. 

"Tem um grupo que estuda essa área das galáxias mais distantes e outro que observa mais essas áreas aqui do Sistema Solar (...) São áreas distintas, difícil dizer qual a mais importante. Acho que vai ter muito mais coisa pela frente", conclui.

(Crédito: ESA/Webb, NASA & CSA, J. Lee and the PHANGS-JWST and PHANGS-HST Teams)

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