O mês de setembro teve a menor incidência de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) desde o início da pandemia de Covid-19 no Brasil em março de 2020, entretanto, o cenário começou a apresentar mudanças com a chegada de outubro.
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Marcelo Gomes, pesquisador de Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenador do Boletim InfoGripe, explica que “esse é o melhor momento se olharmos a população de forma geral”, entretanto, expõe que observa-se um aumento de casos entre o público infantil nas últimas semanas.
“Temos observado alguns estados voltando a apresentar uma tendência de aumento, mas ainda é um processo recente, não atingiu patamares relativamente altos, mas está em crescimento [..] e isso pode estar associado a essa volta do vírus influenza em alguns estados”.
De acordo com ele, a SRAG, pode ser classificada como sindrômica, que se baseia em sintomas, na manifestação em si, e engloba diversas doenças que compartilham sinais e sintomas similares. “Fundamentalmente é um quadro em que a gente tem tosse, dor de garganta, saturação de oxigênio baixa, a própria sensação de dificuldade em respirar, e que além disso, precisou de hospitalização ou veio a falecer por conta desses sintomas, mesmo que não internado”, pontua.
De forma geral, são casos graves que precisam de um cuidado maior associados a infecções respiratórias, como a gripe, casos de internação pelo vírus influenza, pela Covid-19, o vírus sincicial respiratório (VSR), que hospitaliza principalmente as crianças de até dois anos, tem os coronavírus sazonais que são outros coronavírus, que não são preocupantes como o SARS-CoV-2, mas que também podem acabar causando uma internação”.
Apesar de ter sido naturalizada pela população ao longo dos anos, historicamente Marcelo destaca que a gripe é uma causa importante de internações e até mesmo de mortes. “Todos os anos, a gente se acostumou a viver com ela, como a gente naturaliza um monte de coisa, mas é preocupante, e agora se torna mais ainda [com a baixa adesão à campanha de vacinação que aumenta a cada ano]”.
H1N1 x H3N2
No momento, o H3N2 ganha força especialmente em São Paulo e no Distrito Federal, situação que preocupa a área da Saúde, já que por serem dois dos principais pontos da área nacional, traz consequências diretas para outros estados. Os casos crescem ainda em outros lugares do país, entretanto com menos intensidade, mas o que aponta para uma tendência de elevação. “Felizmente o vírus H1N1, que em geral é o que causa um impacto maior, nós já tivemos o retorno do H3N2, que causou aquele estrago no ano passado e voltou a aparecer novamente, mas historicamente o H3N2, em termos de casos graves, não é tão preocupante como o H1N1, em geral é menos problemático”.
Entretanto, a preocupação com o que virá a acontecer não deixa de ser grande. “Estamos preocupados de que mais cedo ou mais tarde tenhamos o retorno do Influenza A H1N1, e que se tivermos a combinação da volta desse vírus com esse cenário que temos vivido nos últimos anos, com baixa adesão à vacina da gripe, isso pode ser uma combinação realmente dramática em termos de internações e mortes”.
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Agora, ao falar sobre o que se espera com a chegada das festas de fim de ano, Marcelo explica que há preocupação, já que diferente da gripe, a Covid-19 ainda não apresenta um padrão sazonal claro de quando haverá maior incidência de casos, o que com que a área da Saúde trabalhe com a possibilidade de um aumento importante em decorrência das festas de fim de ano. “Embora pareça que a gente passou um tempão com a Covid-19, no ponto de vista da epidemiologia a gente ainda tem pouca informação para saber os períodos do ano em que temos aumento, entretanto nas viradas do ano acabamos tendo aumento de casos, distintos entre 2020-2021 e 2021-2022, eles tiveram diferenças importantes, mas foram períodos em que enfrentamos aumento de casos”.
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