A meningite é considerada uma doença endêmica, e casos são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. No início do mês passado, por exemplo, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo anunciou um surto de meningite na cidade.
De acordo com dados da SINAN/SVS/MS e e-SUS-VS, em comparação ao ano de 2017, o número de casos, óbitos e a incidência apresentaram queda no Brasil em 2022. Respectivamente, caíram de 1.138 para 272, 267 para 58, e de 0,5% para 0,1%, entretanto, apesar de também apresentar declínio, a taxa de letalidade não apresentou uma distância tão grande (23,5% para 21,3%).
Ainda segundo as informações atualizadas no dia 27 de outubro, durante este ano a faixa etária que apresentou maior incidência da doença foi abaixo de um ano. A cobertura da vacina meningocócica C (Conjugada) caiu drasticamente em cinco anos, de 87,4% para 47% neste público-alvo, de acordo com CGPNI/DEIDT/SVS/MS.
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Quais vacinas devem ser tomadas e em que época?
O Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde indica a vacinação de bebês e adolescentes contra a meningite, cobrindo vários tipos de bactérias causadoras da doença. O esquema vacinal é feito da seguinte forma:
Aos 2 meses e aos 4 meses de vida: primeira e segunda doses da vacina pneumocócica 10 valente (conjugada) - protege contra doenças graves causadas pela bactéria pneumococo, como a meningite, pneumonia e otite média aguda, causadas por Streptococcus pneumoniae de sorotipos 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A, 19F e 23F.
Aos 3 meses e aos 5 meses de vida: primeira e segunda doses da vacina meningocócica C (conjugada), que previne as doenças provocadas pela bactéria Neisseria meningitidis do subtipo C, causa de várias infecções graves, incluindo a meningite.
Aos 12 meses de vida: primeira dose de reforço das vacinas pneumocócica 10 valente (conjugada) e meningocócica C (conjugada). Para as crianças que por algum motivo perderam a oportunidade de receber a vacina nas idades indicadas, recomenda-se a administração de uma dose da vacina pneumocócica 10-valente até os 4 anos, 11 meses e 29 dias de idade e da vacina meningocócica C (conjugada) até os 10 anos, 11 meses e 29 dias.
Dos 11 aos 14 anos (para adolescentes de 13 e 14 anos, a vacina está disponível até junho de 2023): é feita a aplicação da vacina meningocócica ACWY, em dose única. Ela previne contra quatro tipos diferentes de bactérias causadoras da meningite. A vacinação é importante porque os adolescentes e adultos jovens são os principais responsáveis pela manutenção da circulação da doença na comunidade pois mesmo que de forma assintomática, podem ser portadores da bactéria.
Em casos nos quais os responsáveis apresentam dúvidas se houve a aplicação ou não do imunizante, o ideal é que a população procure um posto de saúde e verifique o que deve ser feito. Em caso de surtos, os imunizantes também são indicados para adultos, mas a verificação também deve ser realizada.
Em entrevista ao site da TV Cultura, Márcio Nehab, infectologista pediátrico do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), explica que a queda na cobertura vacinal não é recente ou surpreendente, mas que vem desde 2015.
De acordo com ele, a mãe brasileira gosta e tem o costume de levar seus filhos para vacinar, entretanto, com o sucesso das campanhas do Programa Nacional de Imunizações e consequentemente com doenças como a pólio, meningite e sarampo praticamente erradicadas pelo país nos últimos anos, a imunização deixou de ser uma preocupação das pessoas.
Para ele, outro ponto que se faz necessário destacar é a comunicação em saúde, que não é efetiva. “Não é problema de falta de vacina, é o que eu costumo dizer, não adianta ter se a pessoa não leva a criança para tomar a vacina, então o que a gente pode fazer para melhorar isso? Podemos primeiro promover uma campanha maciça nos meios de comunicação [...] Temos que ter duas frentes: Levar a vacina até a criança nas escolas, campanhas, clubes, parques e campos de futebol. É fácil de fazer? Não, não é, mas tem que ter vontade política para isso”, expõe.
O que é a meningite?
De forma epidemiológica, leiga e fácil de se entender, a meningite é a inflamação na meninge, uma inflamação no cérebro que é causada, na maioria das vezes, por uma infecção gerada por vários agentes infecciosos, entre eles o meningococo, que segundo o especialista, é uma bactéria que mora na garganta de 10 a 20 pessoas e na maioria absoluta delas não causa nenhum efeito, mas em alguns casos, entra na circulação sanguínea, vai até a meninge e atinge o cérebro.
“Pode causar uma série de sequelas e complicações, levar a problemas neurológicos como a surdez, déficit auditivo e visual, todo tipo de complicação que envolva o sistema nervoso central do cérebro, dar paralisia, causar perda de movimentos, convulsão, e morte”, pontua.
O quadro mais comum depende da idade. Os bebês mais jovens podem ficar irritados, sonolentos, ter febre, apresentar vômito, alteração do estado geral, e em alguns casos, convulsão. Entre os maiores, podem ter dor de cabeça, irritabilidade, sonolência, febre, vômito e manchas pelo corpo, que podem ser avermelhadas e roxas, de todo tipo e tamanho.
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A transmissão da doença ocorre pelo contato, por gotículas. Uma pessoa geralmente contaminada pode levar outras a se contaminarem, mas a transmissão é muito mais difícil que a da Covid-19.
Entretanto, Márcio destaca que o tratamento não é tranquilo e deve ocorrer em ambiente hospitalar, de preferência na unidade de terapia intensiva, onde pode-se oferecer todo o suporte para a criança, adulto ou adolescente. “Uma série de tratamentos é feita, e em alguns casos [ o paciente] tem que ser entubado, fazer uso de respiradores, anti-inflamatório, além do cuidado com todas as complicações que possam vir a surgir”.
A mortalidade varia de acordo com o agente infeccioso, mas de forma geral é altíssima, e em alguns casos pode chegar a 20%, como é o caso do surto em São Paulo causado pelo meningococo C.
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