40.830 crianças e adolescentes perderam suas mães por Covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia do novo coronavírus no Brasil.
A conclusão faz parte de estudo inédito conduzido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) nesta segunda-feira (26). O artigo foi publicado no periódico Archives of Public Health, da Springer Nature, no dia 19 de dezembro.
Para Cristiano Boccolini, coordenador da iniciativa de divulgação científica e um dos autores do estudo, o impacto da pandemia na vida de crianças e adolescentes exige a adoção, em caráter de urgência, de políticas públicas intersetoriais de proteção à infância.
O estudo revela que, em 2020 e 2021, a Covid-19 foi responsável por um quinto de todas as mortes registradas no país (19%). O pico da pandemia ocorreu em março de 2021, com quase 4 mil mortes por dia, número superior à média de mortes por dia por todas as causas em 2019. “A faixa etária de 40 a 59 anos foi a que apresentou a maior proporção de vítimas da Covid-19, em comparação com a mortalidade por outras causas. Neste grupo, um a cada quatro brasileiros que morreram em 2020 e 2021 tiveram o óbito relacionado à Covid-19”, destaca.
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“É certo que a morte de um dos pais, em particular da mãe, está ligada a desfechos adversos ao longo da vida e tem graves consequências para o bem-estar da família, afetando profundamente a estrutura e a dinâmica familiar. As crianças órfãs são mais vulneráveis a problemas emocionais e comportamentais, o que exige programas de intervenção para atenuar as consequências psicológicas da orfandade”, avalia Celia Landmann Szwarcwald, pesquisadora do Laboratório de Informação e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
O levantamento foi feito com base nos óbitos registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) em 2020 e 2021 e nos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) entre 2003 e 2020.
A pesquisa calcula as taxas de mortalidade por Covid-19 de acordo com sexo, faixa etária e escolaridade. “Até os 30 anos de idade, a taxa de mortalidade é similar entre homens e mulheres, mas começa a se distanciar a partir desta faixa etária. No total, a taxa de mortalidade entre homens foi 31% mais alta que entre mulheres”, informa Cristiano.
Os autores do estudo concordam que a demora na adoção das medidas de saúde pública necessárias para o controle da Covid-19 no Brasil agravou a disseminação da doença, resultando em perdas de vidas humanas que poderiam ter sido evitadas. “Como consequência da gestão inadequada da pandemia, além de criar uma legião de órfãos, o Brasil perdeu cerca de 19 anos de vida produtiva devido à morte de adultos jovens por Covid-19”.
O estudo foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Bill, Melinda Gates e pela Fiocruz (Ideias Inovadoras).
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