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Fevereiro Laranja: Doação de medula óssea salva a vida de pacientes com leucemia

"Não há benefício maior no mundo. É para poder ajudar alguém. A satisfação com a alegria do paciente é indescritível"


27/02/2023 07h55

Fevereiro Laranja é o mês dedicado ao combate à leucemia (um tipo de câncer no sangue), bem como à conscientização sobre a importância de doação de medula óssea. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que, entre 2020 e 2022, o Brasil registrou mais de 10 mil casos da doença.

Assim como na maioria dos diagnósticos, este tipo de câncer tem como tratamento a quimioterapia, que pode ser um procedimento invasivo e até mesmo lesivo ao paciente. No entanto, a cura definitiva só pode ser obtida através do transplante de medula óssea.

O transplante

Coronel Veterano da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Carlos Eduardo Falconi foi diagnosticado com Linfoma Não Hodgkin (LNH) há pouco mais de 10 anos. Após sessões de quimioterapia e radioterapia, a doença entrou em remissão no início de 2013. No entanto, pouco mais de oito anos depois, em 2021, ele descobriu que tinha uma Leucemia Linfocítica Crônica (LLC).

A descoberta fez com que o militar passasse por diversas sessões de quimioterapia. Foi então que, com uma nova remissão da doença em 2022, ele teve a indicação do transplante. “Não foi indicado o transplante autogênico (do próprio paciente), mas sim o alogênico, sendo necessário a medula de um doador”, conta.

Responsável médico pelo Laboratório de Histocompatibilidade (HLA) do Hemocentro da Santa Casa de São Paulo, o médico hematologista e hemoterapêuta Denys Fujimoto explica como funciona o transplante de medula óssea. “Se dá pela máquina de aférese, que faz a separação das células do sangue. No sangue, a gente tem a parte vermelha, com as hemácias, e a amarela, composta pelo plasma e pelas plaquetas. Essa máquina consegue separar as células e captar aquilo o que eu quero. Mas como a gente tira a medula óssea pelo sangue periférico? Você precisa aplicar uma medicação. É uma injeção muito segura - você pode até sentir uma sensação de febre, mas nada mais - que estimula os glóbulos brancos a entrarem na corrente sanguínea e, com isso, a medula também entra”, explica.

Outra forma de obtenção - esta mais antiga - também é uma opção. “Inicialmente, era coletado diretamente no osso, onde fica a medula óssea. Esse método pode ser utilizado até hoje. Você vai ao centro cirúrgico, faz uma anestesia. Aí então é feita uma pulsão - geralmente, no quadril. Aí você retira em torno de 400ml ou 500ml de medula óssea. Essa medula óssea precisa ser tratada, precisa ser filtrada. Então, no final, chega em torno de 200ml ou 250ml. Aí ela é infundida no paciente.

Doadores compatíveis

Falconi também fala sobre o processo de achar um doador compatível. “Inicialmente o médico prescreve uma série de exames, sendo o principal o Antígeno Leococitário Humano (HLA), exame realizado para se determinar a identificação da variante de cada subtipo do HLA.”

“Cada indivíduo possui duas variantes de cada subtipo de HLA, um herdado do pai e outro da mãe, que no caso de transplantes, pode ser de indicação bem ampla e depende do órgão/tecido a ser transplantado. Determinado o HLA do receptor, testa-se pessoas da família (ascendentes, colaterais e descendentes)”, completa.

“Como meus pais têm mais de 80 anos, não foram testados. Testados meus irmãos, foram compatíveis 50%, índice excelente. Como minha irmã é mãe, a preferência para o transplante é de meu irmão, não havendo necessidade de testar meu filho. Caso não houvesse compatibilidade, entraria na fila para verificação de outras pessoas”, diz o coronel.

“Há uma chance de 25% de se encontrar um doador na família - um irmão que seja filho da mesma mãe e do mesmo pai. Fora dessas condições, as proporções são de 1 em 100.000. Então, fora da família, fica mais difícil”, ressalta Fujimoto.

Apesar de, atualmente, a localização de doadores compatíveis ter sido facilitada, ainda há casos em que o paciente não consegue encontrar ninguém, lamenta o médico.

Impedimentos

Apesar de conseguir "o mais difícil - ter uma medula compatível para doação - e estar com o transplante programado" para setembro de 2022, Falconi alega que sua seguradora de saúde negou o procedimento duas vezes, o que o obrigou a judicializar o caso.

"O transplante foi finalmente autorizado pela Justiça, entretanto, apesar de a doença ter entrado em remissão, o fato de não ter sido feito o transplante logo em seguida, infelizmente, foi confirmada, em dezembro de 2022, a recidiva da doença", aponta o militar.

"Ficou claro que obtemos de definição e autorização dos procedimentos é fundamental e deveria haver uma definição legal para obrigar as operadoras de saúde a autorizarem de imediato o transplante quando indicado pelos médicos", conclui.

Agora, o coronel passará por mais um tratamento, que pode ter uma duração máxima de até dois anos. Caso as novas sessões sejam submetidas, ele passará pelo transplante e terá - possivelmente - a cura definitiva da doença.

Como doar?

"Para ser um doador de medula, basta ligar para algum hemocentro e buscar informações", afirma Fujimoto. "Se for por pulsão, que é feita com anestesia, a pessoa não sente nenhuma dor. Vai embora no dia seguinte normalmente. Não tem muitos pontos negativos. Pela aférese, menos ainda. É uma furada de agulha, aí a pessoa faz o curativo e vai para casa. O da coleta pela veia - apesar de o processo ser um pouco longo (dura de quatro a seis horas, depende) - é tranquilo também", destaca.

Muitas pessoas têm medo de possíveis efeitos colaterais de uma eventual doação de medula óssea. Para eles, o hematologista garante: "Ao doar, nós salvamos pessoas da leucemia. A comunicação sobre a importância é algo que nos deixa felizes. Para quem está com a doença, pode ser a cura. Pode ter certeza de que não há benefício maior no mundo. É para poder ajudar alguém. A satisfação com a alegria do paciente é indescritível."

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