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Reprodução | Arquivo Pessoal
Reprodução | Arquivo Pessoal

Confiança e média de 70 exercícios por dia. Essa foi a rotina de Ana Laura Aparecida Gonçalves, 24, natural de Patos de Minas (MG), para alcançar a nota 958,6 em matemática no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a pontuação mais alta na prova de Matemática e Suas Tecnologias.

A descoberta da nota aconteceu na última terça-feira (23) após a divulgação do Instituto Nacional Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Antes de entrar no sistema e verificar a sua nota, a jovem já sabia qual havia sido a maior pontuação em matemática.

“Eu estou vivendo um sonho. Não sei nem descrever. É um sentimento de gratidão mesmo. A gente teve uma desvalorização nas outras áreas. Eu já tinha visto nos dados do INEP a nota máxima. Quando eu olhei, foi um misto de emoções”, relembra.

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Das 45 questões, Ana Laura gabaritou 44. No entanto, uma delas não foi pontuada. Com isso, a jovem pontuou em todas as perguntas possíveis.

O caminho para alcançar a nota mais alta na prova de Matemática e Suas Tecnologias não foi simples. Ela fez a prova do Enem por nove anos consecutivos, iniciando a preparação no 1º ano do ensino médio.

“Foi uma loucura mesmo. Eu comecei a fazer o Enem no primeiro ano do ensino médio. Olhando e fazendo as contas, eu nunca tinha parado para pensar que eu tinha feito nove vezes. Não foi algo programado, se eu for olhar lá atrás, eu nunca tinha planejado ‘vou ficar o tempo que for preciso para passar’. Foi algo natural. Chegava o final do ano, antes mesmo de sair a nota, eu já sabia que não ia dar, eu chorava e falava ‘vou desistir’, mas no outro dia eu voltava atrás”, afirma.

Com seis anos de cursinho, a jovem conta que em 2023 precisou conciliar os estudos com o trabalho. A jovem trabalhava aos finais de semana e fazia cursinho preparatório presencial ao longo da semana. A rotina de preparação começava por volta das 8h30 da manhã e encerrava quase depois das 20h.

Nota de Matemática de Ana Laura / Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

A estudante diz que conciliar os dois não foi uma tarefa simples, mas que o sonho de entrar em uma universidade não deixou com que ela desistisse.

“Eu chegava na segunda-feira cansada para o primeiro horário de aula, mas seguia firme e com a cabeça erguida. Isso não me abalou. Foi difícil e cansativo, tinha dias que eu ficava me questionando sobre o tanto de coisa que eu estava fazendo e se estava funcionando. Eu chorava e me perguntava se tudo aquilo ali ia ser em vão. Mas não foi, realmente deu tudo certo”, aponta.

Após as aulas no cursinho, Ana Laura ressalta que chegava em casa e fazia em média de 70 a 80 exercícios de matemática todos os dias. Temida por muitos estudantes, ela conta que sempre teve facilidade com a área, mas que melhorou o empenho a partir do entendimento de conhecimentos básicos.

Mas não apenas isso foi importante para alcançar a nota máxima. Segundo ela, a autoconfiança foi muito fundamental para enfrentar a matéria, e principalmente, a prova do Enem.

“Eu acho que o diferencial foi realmente começar a ter confiança, que estava dando certo. À medida que eu ia fazendo os simulados, comecei a perceber que estava errando muito pouco, e os erros eram mais por falta de atenção. Foi ali que eu vi que poderia vir um resultado muito bom. Então, eu comecei a investir nisso e passei a focar em fazer acontecer realmente. Eu tenho um carinho muito grande pela matemática, mas não foi uma jornada fácil”, diz.

Nove tentativas

A jornada de estudo tinha um único objetivo: a aprovação no curso de medicina, o mais concorrido do país. A estudante conta que nem sempre pensou em ser médica, mas que o sonho se concretizou após um processo de autoconhecimento.

Depois de pensar em jornalismo e arquitetura, a escolha pela medicina ocorreu há cerca de três anos atrás.

“A minha escolha pela medicina foi mais um processo de autoconhecimento. Eu pensei em várias coisas antes de encontrar a medicina. Quando eu era criança, eu até pensava, mas era esporadicamente. Pensava em arquitetura, em ser dona de alguma loja. Foi realmente depois de três anos de cursinho, na metade ali da jornada, que realmente eu percebi. Comecei a pesquisar sobre medicina e vi que era realmente o que eu queria exercer. Não apenas fazer o curso, mas fazer a medicina na prática”, destaca.

Durante o processo para entrar na faculdade, Ana se comparou diversas vezes com os colegas que já estavam vivendo a vida universitária e teve momentos de altos e baixos. No entanto, apesar dos problemas, acredita que a aprovação veio no momento certo. A jovem foi aprovada no vestibular da Fundação Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

A estudante também aponta que a sua aprovação aconteceu em um momento de maior maturidade e que isso faz com ela tenha outro olhar sobre a medicina.

“Eu não estive bem o tempo todo, principalmente na pandemia. Precisei, inclusive, de acompanhamento psicológico. Independente do vestibular, foi uma época realmente difícil para todo mundo. Tive altos e baixos e tive momentos que eu me comparei bastante”. Em 2023, eu cheguei a ver ex-colegas do terceiro se formando e sem ter uma resposta foi algo, então, eu me cobrei muito. Mas na mesma semana saiu o resultado do vestibular da UFGD e eu passei, então acho que caiu tudo por terra”, diz.

“Foi no meu momento, no melhor momento para mim, que estou madura e que eu consigo encarar a medicina com um olhar melhor. Agora, passou toda aquela comparação, eles tiveram um momento deles, foram para o curso na hora deles e eu estou indo na minha e está tudo bem”, avalia.

Apesar de entender sobre o seu momento, em suas redes sociais, muitas pessoas questionaram Ana sobre a ‘demora’ para ingressar no ensino superior.

“Eu vi muita gente falando ‘nossa, eu não tentaria. Na segunda vez eu já desistiria’. Mas diante de todos esses comentários, eu encontrei também pessoas que falavam que me admiram e que me falaram que queriam desistir e que voltaram a tentar quando viram meu resultado e trajetória. Eu mesma fui uma pessoa que várias vezes pensou em desistir. Hoje eu tenho um sentimento de gratidão”.

Como gabaritar matemática?

A principal dica de Ana Laura é entender os conceitos mais básicos da matemática e ‘encarar’ os conteúdos desde o zero.

“Eu vejo muita gente negligenciando matemática, deixando para depois. Eu digo para as pessoas encarem a matéria. Comece ali do exercício simples, não tenha vergonha de começar ali do exercício mais fácil. Porque ali você vai criar confiança para ir para um exercício médio e depois ir para um exercício difícil. Precisa encarar onde está o problema porque você vai realmente conseguir melhorar. Eu acredito que qualquer pessoa se esforçando e fazendo muitos exercícios, pode conseguir uma nota boa”, completa.

As inscrições no processo seletivo para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2024 foram abertas nesta segunda-feira (22). Os candidatos podem se inscrever até a próxima quinta (25).

O programa é uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) e seleciona estudantes para universidades públicas em todo o país.

Agora, Ana Laura diz que vai avaliar as suas opções no SISU, mas que já está feliz com a aprovação na UFGD.

“Eu estou se, saber o que eu faço. Porque eu estou me apegando tanto a turma tipo. Vou ver consigo alguma mais perto de casa. Independente do resultado, eu estou muito empolgada e feliz com tudo que está acontecendo e feliz. Quero fazer medicina, seja lá onde for. O propósito é realmente a medicina em si, com as expectativas mais simples mesmo, de atuar na medicina e trabalhar com as pessoas”, finaliza.

Enem 2023

Segundo os números divulgados pelo Inep, o Enem 2023 teve mais de 4 milhões de inscritos. Do total, mais de 2 milhões e 700 mil fizeram efetivamente a prova, ou seja, 68% de participação.