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No início deste mês, a morte de Livia Gabriele da Silva Matos, 19, intrigou inúmeros brasileiros pela particularidade do caso. Ela apresentou uma ruptura na região genital durante uma relação com Dimas Cândido de Oliveira Filho, jogador do sub-20 do Corinthians, que a levou a óbito.

A jovem sofreu quatro paradas cardiorrespiratórias, uma delas a caminho do hospital, e deu entrada na unidade de saúde com sangramento intenso nas partes íntimas, no entanto, não resistiu.

O atestado de óbito revelou que houve uma "rutura [sinônimo de ruptura] de fundo de saco de Douglas com extensão à parede vaginal esquerda" e que exames complementares - necroscópico, toxicológico e sexológico - realizados no Instituto Médico Legal (IML) e que devem ser divulgados na próximas semanas, irão apontar a causa da fatalidade.

Por não saberem o que é o Saco de Douglas ou se o acontecimento se tratava ou não de algo comum, muitas mulheres se preocuparam com a possibilidade de passarem pela mesma situação.

Em entrevista ao site da TV Cultura, Carolina Fernandes Giacometti, ginecologista do Hospital Albert Einstein, conta que após o ocorrido, inclusive, atendeu pacientes aflitas e que relataram estar com medo.

Apesar do caso com a jovem, ela informa que as rupturas são raras, mas podem acontecer durante uma relação sexual com penetração. Exames para investigar a existência de uma possível predisposição ainda não existem, no entanto, de acordo com a especialista, fatores de risco podem aumentar a probabilidade, como, por exemplo, mulheres que já passaram por uma cirurgia nessa região ou que estão na menopausa e são mais ‘ressecadas’.

“Outra coisa que às vezes vemos associada à ruptura de saco de Douglas na relação é o uso, até mesmo abusivo, de álcool e drogas, nos quais a gente perde um pouco a sensibilidade de dor. Às vezes, também aparece associado ao uso de objetos, como, por exemplo, sex toys. Então, devemos tomar um pouco de cuidado quanto a isso, mas longe de gerar uma preocupação excessiva”, ressalta.

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O saco de Douglas não é um órgão, mas sim uma região que divide a parte posterior do útero e do reto, o intestino, e em exames físicos, pode ser examinado para que o diagnóstico de algumas doenças sejam feitas.

Ele também pode ser encontrado no corpo masculino, entre a bexiga e o reto, mas no caso dos homens, é ainda mais raro que um caso como esse aconteça. “Nunca falamos nunca. Então, por exemplo, se houver um acidente de carro com um trauma abdominal, uma ruptura pode acontecer, mas não na relação sexual. Porque no caso da mulher, como o fundo de saco se encontra na parte debaixo do colo do útero, na parte superior da vagina, acaba que na penetração esse fundo de saco sofre um impacto, enquanto nos homens não”, esclarece.

O que se atentar durante ou após ter uma relação?

De modo geral, as mulheres devem se atentar há alguns sinais de alerta, como dor, ou sangramento.

“Dor é algo que precisa ser conversado com o ginecologista. Se está tendo dor na relação ou se teve uma relação e está com uma dor muito relevante, precisa procurar um ginecologista naquele momento, se você tem sangramento abundante, também é uma emergência que precisa ser vista imediatamente, ou se está tendo sangramentos toda vez após ter uma relação, cabe uma investigação ginecológica”, afirma Carolina Fernandes.

A médica ainda expõe que as idas ao ginecologista devem ocorrer pelo menos uma vez ao ano. “Esse é o mínimo, e toda queixa, tudo que se sente de diferente deve ser valorizado. Se você apresenta uma cólica, dor, desconforto ou sangramento, isso precisa ser valorizado e conversado com o ginecologista. Às vezes as pessoas pensam que é algo normal, mas na verdade está à frente de uma patologia”.

Órgãos internos e externos

Os órgãos que integram o aparelho reprodutor feminino são divididos entre internos e externos, e podem ou não ser conhecidos por uma grande maioria das mulheres.

Entre os internos, estão:

Vagina, que dá saída ao fluxo menstrual, ‘recebe’ o pênis durante a relação sexual e forma o canal do parto;

Útero, que é dividido em colo do útero e corpo do útero e é o local onde o embrião implanta-se e o bebê desenvolve-se;

Tubas uterinas, que são as antigas trompas de falópio, e são responsáveis por captar o óvulo solto pelo ovário, encontrar com o espermatozóide e realizar a fecundação;

Os ovários, que são responsáveis pela produção dos hormônios sexuais, estrogênios e progestinas, além da formação e do armazenamento dos gametas femininos; e

uma série de ligamentos dentro da barriga - intra abdominal - que sustentam o útero, como, por exemplo, o ligamento redondo, que o sustenta principalmente na gravidez, para que ele não fique ‘muito solto’ na barriga.

“A gente ainda tem outros ligamentos ginecológicos que são muito importantes, mas que não são muito falados, como o ligamento largo, que une o útero nas tubas e no ovário, deixando tudo ‘próximo’, e o último ligamento que é o redondo, que fica do lado do colo uterino e que segura o colo uterino”, detalha.

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Entre os externos, estão:

Grandes lábios, que envolvem e protegem órgãos genitais externos;

Pequenos lábios, que protegem a abertura da vagina e da uretra, o clitóris, o períneo e o ânus;

Clitoris, órgão relacionado ao prazer feminino que pode ser identificado como o pontinho localizado no começo da vulva; e

Entrada da vagina.

“Tudo que a gente fala que é externo chamamos de períneo. Na entradinha da vagina existem duas glândulas importantes, as glândulas de Bartholin, que ajudam na lubrificação vaginal durante a relação sexual e eventualmente são faladas porque elas podem inflamar e fazer uma bolinha na região vaginal, e outras duas, denominadas de glândulas Skene, que também tem a função de ajudar na lubrificação”.

Além do Saco de Douglas, outra região que pode ser encontrada no corpo feminino é o monte de Vênus, que seria uma região suprapúbica, um pouco mais externa. Sem apresentar a responsabilidade de produzir algo, é na verdade um tecido adiposo, de gordura, que tem a função de diminuir o impacto da relação sexual.

Lesões nos órgãos também podem acontecer, como na vagina, na vulva e nos pequenos lábios, no entanto, são raras, principalmente se a relação sexual for consentida.

“Às vezes vemos mais lesões e lacerações em pessoas que foram abusadas e tem também uma associação desses casos com infecções sexualmente transmissíveis com as glândulas de Bartholin, o que pode causar uma inflamação”, finaliza.