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Montagem/TV Cultura
Montagem/TV Cultura

A organização da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo convocou todos os participantes a comparecer de verde e amarelo. A proposta é que a ação, marcada para este domingo (2) na Avenida Paulista (SP), atue como uma “celebração da retomada de símbolos” nacionais.

Criada após a Proclamação da República em 1889, a atual bandeira do Brasil vinha sendo utilizada desde 2018 na campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Enquanto alguns enxergam esse uso de elementos pátrios como um “roubo” por parte de grupos da direita, outros alegam que a esquerda é quem havia “abandonado” a bandeira.

Recentemente, durante o show da Madonna em Copacabana (RJ) no dia 4 de maio, a cantora norte-americana se uniu à drag queen brasileira Pabllo Vittar. Na apresentação, ambas as artistas subiram no palco estampando a camisa do Brasil e erguendo a bandeira do país.

Inspirados pelo gesto, os organizadores da maior parada LGBT+ do mundo decidiram por ato semelhante para a 28ª edição. Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Nelson Matias Pereira, sócio-fundador e presidente da associação responsável pelo evento (APOLGBT-SP), disse que a decisão foi unânime.

“Me parece que a sociedade estava querendo. A gente já estava trazendo um tema bem político, sobre o retrocesso no Legislativo. Nada mais justo do que resgatar junto com essa cobrança a bandeira nacional, que é um símbolo de todos nós brasileiros”, explica o representante.

Ainda que a Constituição Federal destaque a bandeira como elemento representante da identidade de uma nação, sair nas ruas nos dias atuais usando as cores que a compõem poderia indicar uma frente diante da polarização política.

“O pessoal fala ‘até que enfim vou tirar minha camisa da gaveta’, porque ninguém se sentia muito confortável. [...] Acredito que essa é uma ação que vai fortalecer novamente o sentimento de união”, argumenta o entrevistado.

É obrigatório ir de verde-amarelo?

Foto: Reprodução/Pexels 

Embora a convocação tenha sido feita a todos os participantes, o presidente da organização diz que o uso não é obrigatório e que também não houve exigências nesse sentido para os artistas que irão se apresentar nos trios. Entre alguns dos shows confirmados estão os de Gloria Groove, Pabllo Vittar, Filipe Catto e Minhoqueens.

“O chamado foi feito. Pelo que eu estou sentindo vai ter uma adesão muito espontânea. Então, assim, não é uma obrigatoriedade, as pessoas têm que se sentir à vontade, até porque tem gente que não gosta mesmo.”

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Além da Parada do Orgulho LGBT+, a 7ª Marcha do Orgulho Trans em São Paulo, marcada para esta sexta-feira (31), também fez a convocação para os participantes irem com as cores do Brasil.

“De uns tempos pra cá, as cores e a nossa bandeira foram sequestrados por grupos reacionários, que atacam nossos direitos e nossas existências. Muites de nós deixaram a camisa do Brasil no fundo do guarda-roupa, com tristeza e aversão. É hora de mudar isso. De devolver o Brasil a todas as pessoas”, escreveu a organização em publicação nas redes sociais.

Preocupação com grupos bolsonaristas?

Ainda que tenham sido positivas a maioria das reações e comentários na publicação da convocação, há quem afirme que as cores do Brasil ainda estão associadas à extrema direita.

A Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo, por exemplo, não aderiu ao movimento de resgatar o verde e amarelo. Marcada para este sábado (1º), a 22ª edição da caminhada pede pelo fim do lesbocídio e da bifobia. As cores que devem prevalecer no evento são o roxo ou lilás, que simbolizam o feminismo, e as do arco-íris, que representam o movimento LGBTQIAPN+.

Uma das preocupações de quem se mostrou contrário à decisão da Parada é do possível uso inadequado de fotos do evento para propagar fake news. Questionado sobre o tema, Pereira destaca que essa não é uma das preocupações da organização. 

“Nós estamos preocupados em colocar a Parada na rua e levar o nosso tema. Isso é inerente, a máxima bolsonarista são as fake news, independente da gente ter essa ação. Não fazer a ação significa que a gente, de fato, está entregando de vez para esse movimento reacionário que estamos abrindo mão de uma bandeira nacional.”

Em caso de infiltração bolsonarista, o presidente alega: “se tiver qualquer ação que seja fora da curva na parada, um atentado, uma violência, a gente já vai saber quem foram os grupos que estavam lá. Mas não me parece muito razoável imaginar isso, eles não conseguiram nem se organizar recentemente na Paulista”.

A importância da manifestação

Foto: Divulgação/Secom

Se engana quem imagina que o evento é só música e festa, a edição 2024 traz o tema “Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo: vote consciente por direitos da população LGBT+”. A pauta dá destaque para a necessidade de contar com representantes que compreendam e acolham as demandas da comunidade, comprometendo-se com leis inclusivas e favoráveis à diversidade.

“Mais do que o voto consciente, é importante um voto crítico. ‘Então porque eu sou gay eu tenho que votar em gay?’ Não precisamente. É interessante ter um LGBT+ mas que de fato me representa. Se for por essa linha, não adianta ter um vereador negro e gay que fala contra nossas pautas, tanto como LGBT+ quanto negro”, explica Nelson.

“A Parada movimenta toda uma discussão que não fica só na parada, ela permanece. [...] É uma manifestação que se tornou um grande evento da cidade, que abraça todas as pessoas que querem lá estar em nome do amor”, acrescenta.

As principais conquistas do movimento LGBTQIAPN+, desde o casamento até a criminalização da LGBTfobia, passaram pelas paradas. A primeira do Brasil aconteceu em 1997 na Paulista, reunindo cerca de duas mil pessoas. Desde então, o evento já alcançou quatro milhões de participantes.

“É um divisor de águas, a partir desse momento a bandeira passa a ser de novo de todo mundo.[...] Essa vai ser uma grande parada, dessa retomada desse sentimento de união nacional e de pertencimento”, finaliza o presidente.

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