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É raro eu abordar um lançamento aqui na coluna Hábito de Quadrinhos. Normalmente, espero a HQ sair, leio e escrevo com calma sobre o que mais gosto – casos, por exemplo, das obras “Monstros”, de Barry Windsor-Smith; “Na Sala dos Espelhos”, de Liv Strömquist; ou “O Livro dos Insetos Humanos”, de Osamu Tezuka – para ficarmos em apenas três exemplos completamente diferentes entre si. Mas hoje vou abrir uma exceção e falar de “Terry e os Piratas: Dragon Lady, a Rainha dos Piratas”, de Milton Caniff, que está saindo no Brasil pela editora JBraga.

O norte-americano Milton Caniff (1907-88) é uma figura praticamente onipresente nas listas de melhores (ou mais influentes) quadrinistas de todos os tempos. Dois trabalhos dele, em particular, constam como obras-primas que influenciam até hoje profissionais dos quadrinhos: “Terry e os Piratas” (que criou entre 1934 e 46) e “Steve Canyon” (1947-88).

Paradoxalmente, embora seja tão importante, Caniff não é tão lido – ao menos, não aqui no Brasil. O Guia dos Quadrinhos, melhor catálogo online que conheço sobre as HQs publicadas por aqui, indica raras obras dedicadas a personagens dele saindo por editoras nacionais. O último livro dedicado a Steve Canyon foi um álbum da L&PM lançado em 1990; com Terry e os Piratas, é ainda pior – as últimas edições dedicadas à série foram publicadas pela Saber há mais de meio século, em 1973.

Então, se você não conhece Terry e os Piratas, vale aqui um pequeno resumo da obra e alguns comentários sobre pela qual é tão importante.

A premissa de Terry é ótima para uma série de aventura: um menino americano (o Terry, claro) herda do avô um mapa para um tesouro do outro lado do mundo – na China. Assim, Terry e dois amigos adultos partem para buscar essa misteriosa fortuna, sem nenhuma ideia do que encontrarão pela frente. Afinal, lembre-se que estamos nos anos 30, e não havia internet ou TV que simplificasse o mundo para os viajantes – e toda jornada era uma enorme descoberta.

“Terry e os Piratas” tem algo em comum com sua sucessora, “Steve Canyon”: as duas obras são tiras publicadas originalmente em jornais. São formatos pequenos, um espaço exíguo para publicar histórias, desenvolver personagens, elaborar tramas complexas. Não à toa, é mais comum que uma tira de jornal que faça sucesso seja do gênero humor, como “Garfield”, “Snoopy” (esta, com pitadas de lirismo) e tantas outras – os personagens são mais ou menos fixos, não envelhecem, e as histórias são curtas, concluídas em três ou quatro quadros.

Aproveitar um espaço tão pequeno e, ainda assim, oferecer uma aventura consistente e personagens cativantes é para poucos. E aqui está, talvez, o segredo para Caniff ser tão influente: ele era conciso. Não havia cena, fala, cenário ou situação desperdiçados. Tudo era em prol de um enredo de suspense e ação – para que continuasse com suspense e ação no dia seguinte.

Tanto em “Terry” quanto em “Steve Canyon”, a continuidade não é desprezada – inclusive, seus personagens evoluíam, o que também não é comum nas tiras. E as cenas de aventuras se conectavam, uma a uma, até formarem grandes sagas – como esta da Dragon Lady, a Rainha dos Piratas, que está saindo no Brasil. Eu li uma primorosa edição americana e não me decepcionei com esta aventura: Caniff era tudo aquilo que esperava dele. O talento do autor, condensando em tiras tão pequenas, transborda para o leitor.

Talvez este lançamento seja uma retomada de Caniff no Brasil. Talvez tenhamos mais aventuras de Terry, ou pode ser que vejamos mais uma vez Steve Canyon pilotando seu avião em uma edição brasileira. Tomara.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.