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Na semana passada, conversamos aqui sobre Vertigo, o selo editorial da DC Comics voltado para adultos. Após 26 anos de existência, oscilando entre publicações que iam de medianas a memoráveis (mas com um saldo bem positivo), a Vertigo foi extinta em 2019 – e ressuscitada no mês passado.

Há material da Vertigo que não só já foi publicado no Brasil como tem sido constantemente republicado, visando novos leitores – “Sandman”, “Preacher” etc. Mas muita coisa permanece inédita. Por isso, na semana passada eu escrevi sobre cinco HQs da Vertigo que adoraria que fossem publicadas por aqui: quatro de edição única e uma minissérie em quatro números. Ou seja, obras curtas.

Deixei para esta semana as séries da Vertigo que ainda não tiveram o prazer de serem publicadas no Brasil. São títulos que foram inicialmente pensados para edições mensais, e depois, eventualmente, reunidos em encadernados. Alguns retomam personagens que são velhos conhecidos nossos, como a Patrulha do Destino, enquanto outros são pura novidade.

Aqui está a minha lista, com um discreto cruzar de dedos para que alguma editora brasileira se interesse em publicar qualquer um deles.

Air”, de G. Willow Wilson e M. K. Perker

Na semana passada, eu sugeri “Cairo”, graphic novel escrita por G. Willow Wilson e ilustrada pelo turco M.K. Perker. Era a estreia da G. Willow Wilson nos quadrinhos (diretamente em um selo prestigioso como este!), e a dobradinha deu tão certo que posteriormente foram escalados para uma série mensal: “Air”. Publicada originalmente em 24 números entre 2008 e 2010, a série traz uma intricada trama que envolve terrorismo, pitadas de magia e uma aeromoça com... fobia de altura.

Greek Street”, de Peter Milligan e Davide Gianfelice

Peter Milligan é um escritor constantemente original. “Skreemer” é incrível, e mexeu com meus parcos neurônios de adolescente quando saiu por aqui; “Enigma” e “Egypt” (ambas minisséries da Vertigo inéditas no Brasil) são surpreendentes; e até sua abordagem para os mutantes, na revista “X-Force” (que depois mudou de nome para “X-Statix”) permanece única. Em “Greek Street”, ele e o ilustrador italiano Davide Gianfelice recontam mitos gregos, mas ambientados em uma Londres contemporânea – com direito à presença de Dédalo, das Fúrias e do trágico Édipo.

Kid Eternity”, de Ann Nocenti e vários ilustradores

Ann Nocenti é uma grande roteirista, com criatividade e fôlego para lidar com títulos mensais sem deixar a peteca cair. Sua longa fase com o Demolidor foi marcante, com direito a homenagens a personagens antigos e criação de ótimos novos coadjuvantes – sem falar numa interação incrível com o Justiceiro. Kid Eternidade (Kid Eternity, no original), por outro lado, é um personagem difícil de ser escrito. Criado na leva de inocentes super-heróis da editora Fawcett lá nos anos 40 (como o Shazam e o Abelha Vermelha, aquele personagem que combatia o crime com Michael, uma abelha adestrada [!!]), Kid Eternidade tem um poder estranho: ele consegue invocar os mortos, como o bíblico Sansão, para lutarem a seu lado. Como criar boas histórias em cima dessa premissa tão peculiar? Estou curioso para ver a resposta da talentosa Ann Nocenti.

The Un-Men”, de John Whalen e Mike Hawthorne

Os Não-Homens (Un-Men, no original) surgiram como coadjuvantes nas histórias de terror do Monstro do Pântano lááá em 1973. Criados por um cientista-feiticeiro maléfico, são arremedos de seres humanos, bem deformados. Este conceito pode servir de base para boas histórias de terror, claro, mas também para reflexões como “e se esse ser criado artificialmente tiver alma?”. A Vertigo recuperou estes personagens duas vezes: primeiro, em uma minissérie lançada em 1994, “American Freak: A Tale of the Un-Men”. Depois, nesta revista mensal que durou dois anos e explora uma “colônia” destes não-homens vivendo longe do domínio de seu criador.

Seekers Into The Mystery”, de J.M. DeMatteis e vários ilustradores

Esta, confesso, é a que mais quero ler em português. J.M. DeMatteis é um dos meus escritores favoritos, seja escrevendo terror (“Blood”), super-heróis (“Homem-Aranha – A Última Caçada de Kraven”) ou obras autorais (“Moonshadow”). Esta série, lançada em 15 números, se encaixa neste último tipo e retrata um escritor lidando com seus traumas internos em uma jornada de autodescobrimento.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romance “Venha me ver enquanto estou viva” e da graphic novel “Púrpura”, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.