Fundação Padre Anchieta

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A história da representação de negros, gays, asiáticos e mulheres no gênero dos super-heróis merece ser observada. Desde que personagens uniformizados com superpoderes começaram a voar pelas páginas dos quadrinhos, no final dos anos 1930, centenas de heróis surgiram e se destacaram, concentrados especialmente em duas editoras: as gigantes DC e Marvel.

Nos anos 60, tanto a DC quanto a Marvel pegaram seus principais personagens e os reuniram em supergrupos. Surgiram assim a Liga da Justiça, com sete membros, e os Vingadores, com cinco. Desse total de 12 grandes super-heróis, dez eram homens e dois, mulheres. Não havia negros, latinos ou asiáticos. Eram todos brancos, exceto por um, que era verde (um marciano).

Esta foi a toada do gênero dos super-heróis por décadas, com personagens aparecendo como coadjuvantes aqui e ali, especialmente nas histórias da Patrulha do Destino e dos X-Men. O primeiro grande movimento de mudança foi em 1993, com a criação da Milestone, uma empresa tocada por quatro artistas afro-americanos: Dwayne McDuffie, Denys Cowan, Michael Davis e Derek T. Dingle. Eles queriam ser um marco na inclusão de outras etnias nos comics americanos de super-heróis – e conseguiram. “Milestone”, aliás, significa “marco histórico”.

Os personagens da Milestone eram publicados pela DC Comics, mas em um universo à parte. Não interagiam, portanto, com Batman, Mulher-Maravilha e companhia ilimitada. Surgiram criações mais ou menos interessantes. Dentro das que se destacaram estão o personagem Static (Super Choque, no Brasil) e a saga Quando Mundos Colidem (em que ocorreu o primeiro encontro com os principais heróis da DC).

Corta a cena. Estamos no pandêmico ano de 2021. Em fevereiro, a DC anunciou a volta do conceito e dos personagens da Milestone, com uma minissérie digital. Todos os protagonistas são negros: Super Choque, Ícone, Rocket e Hardware.

Ainda em fevereiro, a mesma DC anunciou uma antologia para celebrar seus personagens com origem na Ásia e no Pacífico. Publicada agora em maio, a edição trouxe o Super-Man da China, Katana, OMAC e mais.

No mês seguinte, em uma mesma semana de março, tanto a Marvel quanto a DC anunciaram edições especiais para junho para celebrarem seus personagens LGBTQ+. A HQ da Marvel teve, entre outros, Estrela Polar, Arco-Íris, Daken (dos filhos do Wolverine) e o casal Wiccano e Hulkling. A edição da rival DC contou com Batwoman, Arlequina, Meia-Noite e Sonhadora. Uma informação bacana: a história da Sonhadora foi escrita por Nicole Maines, atriz que a interpreta no seriado “Supergirl”.

O movimento das gigantes Marvel e DC é claro: elas querem um público cada vez maior. Bom para elas e bom para os públicos-alvo, que se sentirão representados. Bom para todos, na verdade. Quanto mais gente envolvida, de editores a leitores, passando pelos artistas, maior a diversidade dos temas, da criatividade dos roteiros, dos estilos de arte. Ótimo para o leitor, qualquer que seja ele, se tudo isso resultar em bons quadrinhos – dando uma olhada nos autores reunidos nas obras que citei nos três parágrafos acima, apostaria que serão muito bons.

Este movimento também se dá nas versões audiovisuais da Marvel e da DC – ou seja, no cinema e nos seriados. O seriado “Luke Cage” (2016) e o filme “Pantera Negra” (2018), de 2018, são protagonizados por negros. A DC tem, no mesmo período, o seriado “Raio Negro” (estrelado por quatro negros), “Batwoman” (em que a personagem-título é lésbica), “Lúcifer” (protagonista bissexual) e “Patrulha do Destino”, equipe que tem entre seus membros um cadeirante, um gay e uma mulher com dezenas de personalidades.

A Marvel lançou neste pandêmico 2021 as séries “Falcão e o Soldado Invernal”, com um coprotagonista negro, e Loki, em que o personagem-título conta ser bissexual, e estão previstas, entre outras, as séries “Ms. Marvel” (protagonista negra e islâmica), “Coração de Ferro” (também por uma negra), uma ainda sem título focada na nação africana fictícia de Wakanda e outra, também sem título, estrelada por uma heroína indígena surda. E ainda há os filmes, claro. “Shang Chi”, com um protagonista asiático, estreia em 2021, e depois virão as sequências de “Pantera Negra” e “Capitã Marvel” etc.

Há alguns meses, escrevi uma coluna aqui na TV Cultura falando sobre diversidade. Houve uma reação nas redes sociais, com elogios e ofensas – eu preferia que tivessem sido elogios e críticas, pois críticas nos fazem refletir. Mas vieram ofensas, como “você não tem pais?”. Sim, tenho, e eles são meus ídolos. Se um dia eu tiver filhos, espero ser para eles metade do que meus pais foram para mim.

Sou a favor da diversidade nos quadrinhos, nas Artes, nos Esportes, na Ciência, na Política, em tudo. Mas esta é uma coluna sobre quadrinhos, então me restringi, neste texto, a apresentar apenas o que vem por aí no exterior. O Brasil, é importante dizer, não fica atrás. Por isso, na semana que vem vou falar um pouquinho sobre algumas iniciativas nacionais sobre diversidade e inclusão.