Coluna Hábito de Quadrinhos

A importância da inclusão e da diversidade nos quadrinhos


30/08/2021 10h01

Na semana passada, comentei sobre iniciativas sobre a diversidade nos quadrinhos norte-americanos – especialmente por parte de suas maiores editoras, DC e Marvel. Este é um tema importante, e há muitas iniciativas sobre diversidade e inclusão aqui no Brasil. Nesta coluna, falaremos apenas a respeito de duas dessas iniciativas. No futuro, voltaremos ao tema.

Em vez de eu mesmo falar sobre projetos tão bacanas, resolvi passar a palavra a dois de seus criadores. Os entrevistados são:

Separei aqui três temas abordados pelos dois, mas a entrevista completa com cada um está no site Hábito de Quadrinhos, irmão desta coluna.

*** Apresentação do projeto em que trabalha ***

Mário César: A POC CON é uma feira de quadrinhos e artes gráficas na qual todos os expositores são LGBTQI+. Os artistas não precisam necessariamente abordar questões de gênero e sexualidade em seus trabalhos, precisam apenas ser autores assumidamente LGBTQI+ produzindo quadrinhos e/ou artes gráficas.

Em 2020, por conta da pandemia, tivemos que fazer o evento de forma virtual. Divulgamos os perfis e lojas virtuais dos artistas, fizemos um concurso de cosplay nos qual os competidores enviaram seus vídeos gravados em casa, realizamos vários bate-papos disponibilizados em nosso canal de YouTube e criamos uma gibiteca digital com diversos títulos disponibilizados gratuitamente pelos autores.

Kelly Priscilla Lóddo Cezar: O projeto institucional “HQ’s Sinalizadas” é um trabalho amplo de várias etapas metodológicas seguindo a perspectiva do bilinguismo para surdos. É visto como uma metodologia de criação de histórias em quadrinhos sem o uso corriqueiro de “balões”. Os destaques são nas expressões faciais e na comunicação visual de sinais. As características das personagens são baseadas na cultura.

Todas as HQs têm vídeos em Libras (sinalários, glossários, história da história) que transmitem as ideias na primeira língua para os surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais. Trabalhamos com temas transversais dos artefatos da cultura surda que envolve sua história, sua língua, sua cultura e abordamos a área da saúde. O aluno-orientado tem a liberdade de escolher o tema a ser desenvolvido na temática do projeto. Depois dessa etapa, iniciamos as pesquisas bibliográficas e, após o roteiro pronto, iniciamos os convites para criação da equipe de especialista que irá compor a HQ criada. Junto a isso, realizamos um levantamento etnográfico dos principais conceitos que será na temática investigada sobre os sinais/registros existentes sobre os conceitos. Isso se dá em função de as línguas de sinais não terem muito registro dos sinais em diferentes áreas do conhecimento. Dessa forma, criamos sinalários e glossários como forma de quebrar a barreira linguística do tema que está sendo estudado.

Depois da criação da HQ sinalizada, os alunos, como última etapa, elaboram sequências didáticas bilíngues para propor a forma como os professores poderiam utilizá-las em suas aulas na perspectiva teórica que adotamos, o bilinguismo para surdos

*** Iniciativas para melhorar a diversidade no mundo dos quadrinhos ***

Mário César: As iniciativas que mais gosto são as que geram renda e visibilidade para os autores LGBTQI+, como foram o caso do convite para e organizar uma coletânea para a editora Skript ["Sob a luz do arco-íris"], o convite do Twitter para lhes apresentar autores que eles podem convidar para criar artes para campanhas ou o convite da TeleCine para alguns autores criarem artes inspiradas em filmes com temática LGBTQI+ que entraram em sua grade de programação.

Foi muito importante também na última CCXP presencial o destaque que deram para autores LGBTQI+ interagindo com a apresentadora Lorelay Fox no centro do Artist's Valley e a criação dos banheiros sem gênero.

Kelly Priscilla Lóddo Cezar: Como alguém apaixonada pelos quadrinhos, é difícil citar projetos específicos na área da diversidade, pois a nona arte além de estar presente como forma de resistência, valores e cultura (luta cultural) em todas as sociedades não há tema que os quadrinhos não abordem de forma fantástica e de promoção às mudanças.

Na área de acessibilidade digital e inclusão, o que tenho percebido são iniciativas, ainda muito pontuais, na área do Web quadrinhos que utilizam as ferramentas digitais para incorporar audiodescrição e Libras, o que para o suporte impresso encarece demais a produção.

*** Sugestões de quadrinhos ***

Mário César: Vou indicar aqui um trabalho que me emocionou muito recentemente que é o "Cartas para Ninguém", da Diana Salu, minha conterrânea lá de Brasília. É um trabalho poético e muito sensível no qual ela fala de seu processo de transição. A edição é caprichadíssima. Acabou de ganhar uma reedição pela Padê Editorial.
Outro que recomendo muito é o "Cara-Unicórnio", do Adri A., um autor gaúcho muito talentoso. É um dos gibis nacionais mais divertidos da atualidade. Trata-se de uma paródia de super-heróis com pitadas de terror. Conta a história de um cara que foi picado por um unicórnio radioativo e trata de diversidade com muita sensibilidade ao mesmo tempo que te faz rir com muito humor e entreter com cenas de ação empolgantes.
Pra encerrar a lista, vou recomendar uma obra-prima recente dos quadrinhos nacionais cham,ada "Roseira, Medalha, Engenho e outras histórias" do sensacional Jefferson Costa. O Jefferson conta a história da família dele que é do sertão nordestino com uma arte espetacular e um roteiro pungente e visceral. A edição da Pipoca e Nanquim ficou caprichadíssima, bem à altura do material.

Kelly Priscilla Lóddo Cezar: Eu gostaria de citar várias histórias em quadrinhos, pois a cada dia são lançadas uma mais interessante que a outra:
Indico a HQ Saudade, de Melissa Garabeli e Phellip Willian, pois as temáticas e as ilustrações são encantadoras, não há como não se “apaixonar”.
Seguindo mais especificamente na linha de meus trabalhos, eu indico a HQ do Fulvio Pacheco Relatos Azuis,que tem uma abordagem sobre o autismo.
Eu também não deixaria de indicar a mais nova de nossas HQ’s sinalizadas Séno Mókere Káxe Koixómuneti”. O principal intuito da criação da HQ é promover reflexões acerca da elaboração de materiais bilíngues/plurilíngues para surdos brasileiros com o intuito de promover acessibilidade linguística, divulgar, registrar e valorizar as línguas de minorias como patrimônio histórico e cultural da humanidade.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.

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