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Adão Negro: o trailer é ótimo, mas e o personagem?

O trailer do filme do Adão Negro promete muita ação, bons efeitos especiais e um tanto de humor


20/06/2022 08h13

O trailer do filme do Adão Negro promete muita ação, bons efeitos especiais e um tanto de humor. É a fórmula de alguns dos poucos filmes da DC Comics (editora do personagem) que se saíram bem no cinema nos últimos anos, como “Shazam”, “Aquaman” e o primeiro da Mulher-Maravilha. Mas acho que vale uma pequena reflexão sobre este personagem, e as três encarnações tão diferentes que teve nas HQs.

O Adão Negro surgiu em 1945, na Era de Ouro dos quadrinhos de super-heróis. Nesta época, as HQs do gênero eram bem simples: heróis poderosos derrotavam vilões idem. Um dos mais famosos personagens de então era o Capitão Marvel (hoje conhecido como Shazam), um herói tão cheio de recursos que era quase invencível. Aí os artistas Otto Binder e C.C. Beck vieram com um vilão e tanto: Adão Negro, uma espécie de versão maligna do herói.

Shazam era uma criança (inocente, pura) que dizia uma palavra mágica e ganhava poderes divinos. Quem o ensinou esta palavra mágica e o designou como super-herói foi um antigo mago egípcio. Mas ficamos sabendo que este mago concedeu os mesmos poderes a outra pessoa antes: o egípcio Adão Negro, que vivera cinco milênios atrás. Entretanto, este fez mau uso dos poderes, tornando-se um vilão, e foi banido por 5.000 anos.

Tudo na história era simples. As motivações, as cenas de ações, o desfecho – Adão Negro morreu. Era para ser só mais um vilão de uma aventura só. Mas naqueles tempos inocentes, tudo era possível – inclusive ressurreições, claro. E Adão Negro voltou e chegou a fazer parte de um supergrupo chamado Sociedade dos Monstros Malignos – o que pode ser mais supervilão (e inocente) do que isso?

As décadas passaram sem mudanças relevantes para o personagem: supervilão, poderoso, eternamente derrotado pelo Shazam...

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A trajetória do Adão Negro tomou novo rumo já no século 21, nas páginas da revista do supergrupo Sociedade da Justiça – uma equipe da DC Comics menos famosa que a Liga da Justiça, mas que a antecedeu por duas décadas. Se na primeira aparição ele se revelou maligno assim que ganhou os poderes, isso mudou e o personagem ganhou mais contexto e profunidade.

Teth-Adam, príncipe da fictícia nação africana de Kahndaq e filho de um faraó egípcio, atuou por anos como super-herói no norte da África de mais de 3.000 anos atrás. Mais uma vez corrompido por seus poderes, Teth-Adam também é banido. Mas estamos no mundo dos super-heróis, e Adão Negro reaparece no futuro dele – nosso presente. Orgulhoso, arrogante e altivo – afinal, antes de virar superpoderoso, era um príncipe – este Adão Negro atua como um super-herói, embora pairem dúvidas sobre seu caráter. É aceito na Sociedade da Justiça, o que é praticamente um atestado de “confiável” – atua, inclusive, ao lado do Shazam. Mas seu comportamento errático o coloca como um dos heróis mais dúbios da editora – bem diferente do supervilão completamente superficial que existiu por mais de cinco décadas.

Essa segunda versão do personagem, um anti-herói, durou poucos anos. Em uma história publicada em 2007, Adão Negro vira algo muito diferente do vilão inocente dos anos 40 e do relutante aventureiro do início do milênio: um genocida.

Após uma série de acontecimentos horríveis, o todo poderoso Adão Negro ataca, sozinho, uma nação fictícia do Oriente Médio chamada Bialya. E ele massacra a população: assassina todos os homens, mulheres e crianças. Torna-se um dos piores vilões não só da DC, mas de todo o gênero.

Como uma editora redime um genocida? Obviamente, não redime. Mas, para sorte do personagem, a DC Comics “zera”, de tempos em tempos, sua cronologia. Ou seja, apaga tudo o que fez anteriormente, dando chance a novos leitores – e eliminando eventuais erros editorias com os personagens. Fez isso em 1986, 2011 e 2017, e o atual Adão Negro dos quadrinhos lembra mais a sua segunda versão – o anti-herói (fez parte, inclusive, da Liga da Justiça).

Qual dessa versões será levada ao cinema? Eu apostaria na segunda, a julgar pelo trailer – há destaque para uma cena em que o Adão Negro, interpretado pelo carismático Dwayne Johnson, se define como um “herói que mata”.

Eu, particularmente, não gosto de “heróis que matam”. Por outro lado, gostei de o ver como um homem que morreu escravo e renasceu como um deus. Estes opostos podem vir a resultar em um bom personagem – ou não. Apenas magos egípcios que dão poderes divinos a humanos sabem o que virá deste novo filme.


Pedro Cirne
é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.

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