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Salman Rushdie recebeu o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão

Em fevereiro de 1989, em reação à publicação do livro "Os versos satânicos", o aiatolá Ruhollah Khomeini, então o guardião supremo da fé islâmica no Irã, emitiu uma fatwa contra o escritor Salman Rushdie. Khomeini impôs a sentença de morte a Rushdie e a todos os envolvidos na publicação do livro.

Rushdie passou a viver na clandestinidade, mas não se calou. Ele se sentia seguro em seu país de adoção, os Estados Unidos, mas o dia 12 de agosto de 2022 mostrou que essa sensação de segurança era um erro de avaliação – e que o ódio que há anos era dirigido contra ele não havia diminuído.

Um homem de 24 anos atacou Rushdie com uma faca num evento literário no estado americano de Nova York e o feriu gravemente. Na época, Rushdie disse que teve muita sorte. "Se o agressor tivesse me atingido em qualquer outra parte do corpo, seria o fim da minha história."

Até hoje o escritor de 76 anos, ganhador do Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, sofre com as consequências: ele ficou cego de um olho e não consegue mais mexer uma das mãos.

Rushdie: "Minha resposta à violência é a arte"

Lançado nesta terça-feira (16/04) em mais de 15 países (incluindo o Brasil), o livro Faca – Reflexões sobre um atentado é a sua maneira de "lidar com o que aconteceu e responder à violência com arte", explicou Rushdie, por meio de sua editora, a Penguin Random House.

"Rushdie empunha a espada mais afiada contra seu agressor: ele transforma esse ato inconcebível numa história sobre medo, gratidão e a luta por liberdade e autodeterminação", afirmou a editora.

Já em fevereiro de 2023 Rushdie havia falado à revista americana The New Yorker sobre seus planos de escrever um livro sobre o ataque. Ele disse que só poderia escrever essa história na primeira pessoa. "Quando alguém lhe esfaqueia com uma faca, então isso é uma história em primeira pessoa", afirmou.

Ele disse que esse não seria o livro mais fácil do mundo, mas ele teria que escrevê-lo como forma de lidar com o ataque e assim poder seguir adiante. "Não posso simplesmente escrever um romance que não tenha nada que ver com tudo isso", disse ele na longa entrevista. Nos anos imediatamente seguintes à fatwa, ele também teria se sentido assim.

Fatwa nunca foi revogada

Desde a fatwa, em fevereiro de 1989, o escritor vive sob o constante perigo de ser atacado por extremistas islâmicos – mas Rushdie nunca quis ceder ao medo.

O agressor de agosto de 2022 teve facilidade para agir no evento cultural, pois as medidas de segurança eram praticamente inexistentes. Ele foi posteriormente dominado e detido. Ele rejeitou a acusação de tentativa de homicídio e se declarou inocente. O julgamento contra ele deveria ter começado em janeiro de 2024, mas a defesa argumentou que o acusado teria direto a ver o manuscrito do novo livro, que seria uma potencial prova no processo. Uma nova data para o início do julgamento ainda não foi determinada.