Ouça o programa completo:
Hoje nosso radar estará apontado para Brasília, onde surgiram ali pela metade dos anos 80 várias bandas que equilibraram o eixo musical-criativo no rock brasileiro e chamaram a atenção para si, dando ares a um novo movimento dentro de outro que surgira um pouco antes no início da década.
Nessa edição da série, diferentemente dos episódios anteriores, ao invés de uma organização na sucessão de fotos que construíram a trajetória do rock feito no Brasil em seus diferentes estilos, trago antes um relato, um testemunho de alguém que acompanhou de dentro de uma emissora de rádio, toda a explosão do rock de Brasília e consequentemente a tomada da programação musical em meados da década. A essa altura da vida, eu, já estava realizando o sonho de trabalhar em comunicação e em especial com música. Sonho, que continuo sonhando pelo simples fato de ainda estar por aqui. Então, não me acordem!
Eu tinha 17 anos quando me vi dentro de uma emissora de rádio em Campinas, minha cidade natal. Comecei em 1981 como operador de áudio, o cara que ficava do outro lado do “aquário” cuidando para que tudo acontecesse dentro do esperado. Fosse para rodar as músicas nos discos de vinil, dar o play nos tapes de rolo com os programas gravados e nas cartucheiras com os comerciais ou abrir o microfone para o locutor. Era um garoto absorvendo e aprendendo tudo o que aquele parque de diversões poderia me oferecer.
Eu já estava encantado com os primeiros artistas e bandas do início da década, curtindo o som divertido da Blitz, o rock pulsante do Lulu, o frescor e o humor da Gang 90 quando recebi em mãos do programador da rádio, dentro do estúdio, o primeiro single de uma banda chamada Legião Urbana com a música “Será”, estranhei, embora tenha curtido a sonoridade. Mas não me pegou de primeira, achei um tanto séria aquela indagação idealista, sonhadora: “Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer? ”, afinal, essas ainda não eram questões para aquele jovem aprendiz que já se via realizando seu sonho e de certo modo já estava vencendo.
A ditadura e a opressão do regime naquele momento ainda não me atravessavam. Talvez, até inconscientemente, as letras do Renato Russo tenham me sacado da alienação gerada pela exaltação por parte das escolas públicas às quais frequentei, daquele momento de exceção no país. Havia uma dissimulação calculada em favor de um pensamento ufanista no ar. Mas vamos adiante.
Para me ajudar a percorrer esse momento do rock brasileiro, três caras que estavam lá na outra ponta fazendo tudo acontecer, enquanto minha vida ia ganhando um novo sentido pessoal e profissional.
Neste programa vamos ouvir depoimentos de Dado Villa Lobos, Dinho Ouro Preto e Phillipe Seabra, integrantes da Legião Urbana, do Capital Inicial e da Plebe Rude.
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