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Reprodução/Instagram @ibirapueraoficial
Reprodução/Instagram @ibirapueraoficial

Eram quase 17h do último domingo (18) quando eu chegava às proximidades do Parque Ibirapuera, zona sul da capital paulista. Uma imensa fila revelava que algum grande evento estava para ocorrer. Um pedestre interrompeu meu passo acelerado para despretensiosamente perguntar: “o show é de quem?”. Veio então um sorriso discreto e a minha resposta: “é da Fernanda Montenegro”.

Em pouco tempo, cerca de 800 pessoas passaram a se acomodar no lado interno do Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer, construído em 2005. Do lado de fora, aproximadamente 15 mil espectadores. Um detalhe prévio também me chamava a atenção: todas as entradas gratuitas.

A proposta de democratização da apresentação, e da arte como um todo, só não foi ainda maior pela agilidade daqueles que ansiavam pela peça. Os 15 mil ingressos disponibilizados na plataforma Sympla haviam sido esgotados em menos de 30 minutos.

O evento único, organizado pelo Itaú em celebração ao seu centenário, contou ainda com a distribuição de cobertores para os que estavam no gramado.

Já imaginando se encontraria fãs dispostos a lutar pela grade, deparei-me com uma calmaria em pleno pôr do sol. Apesar do clima de festival, o maior público da carreira da dama do teatro brasileiro esperava sentado serenamente o alardear da campainha.

Foto: Reprodução/Instagram @fernandamontenegrooficial

Pouco antes das 19h, vídeos começaram a rodar numa projeção de alta definição na parede branca dos fundos do auditório. Eram trechos de filmes com participações da artista. Entre eles, “Central do Brasil” (1998), em que o reconhecimento a tornou a primeira latino-americana e a única brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz.

Aqueles que estavam na área externa sabiam que iriam assistir tudo em tempo real pela projeção. O que ninguém imaginava é que Fernanda Torres, filha da atriz homenageada, subiria ao palco no lado de fora para anunciar o início da apresentação.

Foto: Silvio Júnior

Era o momento. Fernanda Montenegro na tela. Ora transmitida em cores, ora em preto e branco.

Pausadamente, colocou os óculos e então leu, subindo o rosto de modo a evidenciar seus olhos bastante sensibilizados: “A Cerimônia do Adeus, Simone de Beauvoir”.

A leitura dramática, com base na obra de 1981 da filósofa francesa, passou a ecoar por meio da irreconhecível voz da imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Princípios da luta feminista, do existencialismo, da liberdade sexual e das angústias diante do envelhecimento chegavam aos ouvidos atentos do público presente.

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A celebração

Foto: Silvio Júnior

Decorridos 70 minutos, os aplausos. Muitos aplausos. O portão entre o palco do teatro e o público do gramado se levantou. Montenegro, prestes a completar 95 anos, levou a mão direita à boca por quase 20 segundos, enquanto admirava os milhares de espectadores.

A multidão se aproximou da grade. Uns gritavam “a maior”, outros se contentavam a clamar um singelo “obrigado”.

“São 80 anos de vida pública e 70 anos de vida ligada a São Paulo. [...] Os teatros do Brasil estão lotados. É uma arte arcaica, primitiva. O ser humano diante de outro ser humano, trazendo a presença de uma possível terceira dimensão [...] Isso está acontecendo, o que eu posso fazer senão: obrigada São Paulo. É a minha grande festa de aniversário”, celebrou a atriz.

Foto: Silvio Júnior

As cortinas fecharam.

A lua brilhante sobre o auditório já indicava que dali viria uma Superlua e que, sem dúvida nenhuma, aquela apresentação entraria para a história da dramaturgia brasileira.


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