Ainda é cedo para entender para que lado vai o mercado financeiro em 2021. Há muita coisa em jogo, do enfrentamento da pandemia ao rumo a ser dado à política econômica. Mas, a partir da fotografia que se tem deste momento, dá para enxergar que o mar está mais favorável para algumas empresas e setores – que podem ser boas escolhas para quem investe em ações.
Alguns exemplos disso são as ações que se saíram vitoriosas no balanço dos últimos 12 meses do Ibovespa. São empresas que se beneficiaram do real desvalorizado, surfaram na onda do e-commerce ou tiveram a sorte de produzir as commodities que uma China já em retomada necessitava.
Além delas, há outros papéis que os especialistas ouvidos pelo 6 Minutos recomendam neste momento. Eles podem ser adições interessantes a uma carteira diversificada. Mas é fundamental que o investidor mantenha-se informado ao longo do ano para que possa rebalancear seu portfólio de acordo com as oscilações do mercado. Ou antecipando-se a elas, se puder.
O fio condutor que percorre os prognósticos é a aposta em que a sociedade poderá retomar suas atividades normais à medida que a vacinação contra a covid-19 avançar.
“Isso permitirá a redução das restrições à circulação de pessoas. As empresas que foram mais afetadas pelo confinamento da população deverão ser beneficiadas”, acredita Pedro Serra, gerente de research da Ativa Investimentos. “Incluo nesse grupo desde varejo físico e combustíveis até educação. E, para quem tolera maior volatilidade, indico até o setor aéreo, principalmente a Azul”, complementa.
Construção civil deve ter bom ano
O setor teve um ano surpreendentemente bom em 2020, favorecido pela queda nas taxas de juros, que barateou os financiamentos imobiliários. “A extensão do auxílio emergencial trouxe ao mercado um receio que resultou na inclinação da taxa de juros [eles tendem a subir como reflexo do aumento do risco-país], mas mesmo assim a construção civil deve ter outro ano forte”, diz Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos. “E a Cyrela continua sendo uma das top picks [ações preferidas do segmento].”
Presente em 16 Estados brasileiros e no Distrito Federal, a Cyrela tem foco no público de maior poder aquisitivo, mas tem atuação indireta na classe média, por meio da Cyrela Urbanismo, e no segmento supereconômico, com a Vivaz, que opera em parceria com o programa Minha Casa, Minha Vida.
“Por ser focada nos segmentos de alto e médio padrão, que dependem menos das condições de financiamento e da retomada econômica no pós-pandemia, a Cyrela é uma boa oportunidade de investimento. E suas ações estão bem descontadas na Bolsa”, diz a economista Paloma Brum, analista da Toro Investimentos.
Boas oportunidades no setor de varejo
Paloma também vê boas oportunidades no varejo, com destaque para Via Varejo e Lojas Renner. A Via Varejo soube se adaptar rapidamente à nova realidade da pandemia. “Seu e-commerce bem azeitado ajudou a companhia a obter um lucro líquido de R$ 590 milhões no terceiro trimestre de 2020, revertendo os prejuízos do mesmo período do ano anterior”, explica a economista.
Já a indicação da Lojas Renner se dá tanto pela presença robusta de suas bandeiras Renner, Camicado e Youcom por todo o país como pelos bons números. “Ela atende às classes A e B, cujo consumo é mais resiliente em cenários de crise. Além disso, tem boa eficiência operacional e uma operação mais rentável que a dos pares do setor”, ela compara.
Recomendações entre as “blue chips brasileiras”
Dentre as ações mais negociadas da Bovespa, Esteter, da Guide, destaca o bom momento vivido pela Petrobras. “A recuperação do setor é bastante importante, com o preço do barril de petróleo Brent já superando a casa dos US$ 55. A perspectiva de retomada da economia com a vacinação também beneficia a empresa, assim como a postura menos intervencionista do governo, mesmo durante o protesto dos caminhoneiros”, analisa.
Paloma indica as ações preferenciais do Bradesco (BBDC4), que teve os últimos resultados impulsionados pelo crescimento de receita em quase todas as linhas de serviço e por um enxugamento eficiente de custos. “E os bons resultados devem se manter, graças à ampliação do processo de digitalização e à compra do BAC Florida Bank, visando o segmento de alta renda”, diz a economista. “Isso sem falar no seu histórico de bom pagador de dividendos.”
Outro papel de peso da Bolsa que ela recomenda é o do frigorífico BRF, dono de marcas como Sadia, Perdigão, Chester, Perdix, Claybom e Qualy e presente em 140 países. “Enquanto habilita novas fábricas no segmento internacional, no mercado doméstico ela vem investindo pesado em comércio eletrônico e no marketing de suas marcas, incluindo no portfólio produtos de maior valor agregado”, afirma a analista da Toro. “A BRF ganha com o aumento do consumo de processados no Brasil, o crescimento da demanda mundial por proteína animal e o câmbio favorável para as exportações”, resume.
Vale olhar também para a própria B3
Na opinião de Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, o investidor deve considerar as ações da própria B3. “Esse recente aumento na quantidade de pessoas físicas entrando na Bolsa é algo muito positivo para ela. O volume investido tem crescido e a quantidade de empresas abrindo capital também. A B3 ainda vai capturar muito dessa evolução de investimentos que o mercado está vendo”, prevê.
Outra aposta de Moliterno é no setor de saúde, que teve sua importância mais que comprovada durante a pandemia. “Planos de saúde devem ter novo fôlego neste ano. É aquela história: cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça. Ninguém quer que algo de mal lhe aconteça.”
Yduqs e Movida se mostraram exemplos de resiliência
A restrição à circulação de pessoas imposta no período mais grave da pandemia atingiu setores tão diversos como a educação e a locação de veículos. Mesmo assim, houve empresas dos dois ramos que enfrentaram as adversidades com resiliência e bons resultados.
Segundo maior grupo privado de educação superior do país e mais conhecido por sua bandeira Estácio, o Yduqs tem um plano claro de crescimento por aquisições. E vem focando em cursos de Medicina, que costumam apresentar evasão baixa e tíquete médio elevado, o que também reforça a lucratividade. “O setor de educação tem espaço para crescer no Brasil no longo prazo e a Yduqs está bem posicionada para se beneficiar dessa tendência”, avalia Paloma Brum.
Já a locadora Movida conseguiu manter bons resultados graças aos segmentos de seminovos e de terceirização de frotas, que compensaram a queda da demanda por locações de veículos – que, aliás, já está sendo revertida. “Ela apresentou novidades como o web check-in, a venda online de seminovos e até um serviço de carro por assinatura com cobrança mensal para pessoa física”, enumera a economista da Toro. “E, em uma avaliação por múltiplos, suas ações estão mais baratas que a dos principais concorrentes, o que indica que têm mais espaço para crescer, o que faz delas um bom investimento de longo prazo”, defende.
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