Um coletivo de artistas nos Estados Unidos destruiu uma obra original do pintor espanhol Pablo Picasso com a finalidade de "eternizá-la" como NFT.
Batizado de The Burned Picasso (O Picasso Queimado, em português), o projeto envolveu a aquisição da gravura Fumeur V, de 1964, em um leilão. Depois de ficar exposta por meses numa galeria em Denver, no Colorado, a obra original foi colocada à venda novamente, desta vez como um token, e queimada.
Com a destruição do objeto físico, segundo os realizadores, a obra passa a existir exclusivamente no universo digital. "Viverá para sempre no blockchain", diz o site do projeto. O vídeo que mostra a destruição da gravura foi publicado no YouTube no último dia 15.
Assista:
"Fumeur V (Pablo Picasso, 1964), comprada na casa de leilões Christie, em Londres, foi eternamente preservada por meio deste NFT. A obra original foi queimada em 29 de junho de 2021 e está sendo leiloada como NFT. O vencedor também receberá os restos da gravura e a moldura original", diz a descrição do vídeo.
"Todos estão tentando traçar analogias do mundo da arte do passado para o mundo em que estamos entrando agora. O Picasso Queimado ilustra essa transição perfeitamente", afirmam os responsáveis pelo projeto em uma nota à imprensa.
NFTs
Um NFT (non-fungible token, ou "token não-fungível", em tradução livre) é um certificado digital e único que pode ser atrelado a um arquivo, como uma imagem na internet. Mas o que significa gastar milhares de dólares para "ser dono" de uma imagem que qualquer pessoa pode salvar com um clique?
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Entrevistado pela Cultura em maio, Alex De Vries, fundador do site Digiconomist, explicou que um NFT dá ao comprador, basicamente, o "direito de se gabar".
"Quando você compra um NFT, o que você ganha? Qualquer um pode salvar uma cópia e você ainda é o dono. Ironicamente, foi o que aconteceu quando uma obra de arte foi vendida como NFT por 70 milhões de dólares. Todos os portais usaram a imagem da obra para dar a notícia. [...] Na maioria das vezes, você só ganha o direito de dizer 'isso pertence a mim'", afirmou.
Além de questionar o valor atribuído a uma espécie de certificado de exclusividade, de Vries ressaltou que a tecnologia que torna os NFTs possíveis também tem consequências para o meio ambiente: "Você pode estar comprando uma coisa que não é de verdade, mas a compra tem um impacto bem real no mundo".
As emissões de carbono têm a ver com o uso do blockchain, o sistema que possibilita o registro de NFTs e precisa de grandes quantidades de energia e equipamentos para funcionar, sem parar, 24 horas por dia.
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