O telescópio espacial internacional James Webb foi lançado ao espaço no final do ano passado e, há meses, divulga novas fotos do universo corriqueiramente. Além de planetas do Sistema Solar, como por exemplo Júpiter, Marte e Netuno, o dispositivo já reproduziu imagens da galáxia IC 5332, localizada a 29 mil anos-luz de distância da Via Láctea, e do exoplaneta HIP 65426 b, um gigante gasoso que fica a 355 anos-luz de distância da Terra.
Um dos objetivos do projeto é o de tentar identificar a chamada "bioassinatura", que seria um possível traço de vida, por meio substâncias na atmosfera de outro planeta. Ou seja, o aparelho pode comprovar a existência de vida fora da Terra.
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, Sérgio Sacani aborda a possibilidade de realmente haver vida inteligente em outros locais do universo e reflete se nós realmente estamos prontos para todas as descobertas que o James Webb pode proporcionar.
Graduado em Geofísica pela Universidade de São Paulo, Mestre em Ciências e Engenharia do Petróleo pela Universidade de Campinas e Doutor em Geociências pela Universidade de Campinas, ele é dono do Space Today, um site, blog e canal de notícias científicas, focado principalmente em astronomia, astronáutica, astrofísica e física. É, atualmente, a maior comunidade astronômica do Brasil. Ele também tem seu podcast, o Ciência Sem Fim.
(Credito: NASA, ESA and J. Olmsted)
"Uma delas (possíveis comprovações do telescópio) é a tal da bioassinatura, que é a grande pergunta: ‘Será que existe vida em algum outro lugar do universo?’ James Webb pode responder isso. Se existe, em algum planeta, algum tipo de vida que emita um determinado tipo de gás, o James Webb pode detectar ele", confirma Sacani.
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"Quem veio primeiro, o buraco negro ou a galáxia? A gente não sabe", reflete Sérgio Sacani
A principal razão pela qual diversas pessoas acreditam que haja outras espécies e sociedades se deve ao fato de que o universo seria infinito. No entanto, se a teoria do Big Bang, a mais aceita pelos cientistas, estiver correta, não há como o universo ser infinito. Logo, a questão parece ser um paradoxo. Por isso, o pesquisador explica melhor este conceito.
"O negócio do universo… não é que ele não tem fim. Se você pegar uma nave e tentar chegar onde o universo termina, quando você chegar ali perto ele já vai ter expandido para frente. Então é aquele negócio: Como é que eu viajo para o futuro se o futuro está sendo criado à medida em que o universo está sendo expandido? Quando o universo se expande, é como se ele criasse mais universo", conta Sacani.
Para o pesquisador, é difícil haver formas de vida inteligente como nós, seres humanos. Isso porque, mesmo com o tamanho do universo, as condições para que a vida exista e evolua em um local são muitas, e dificilmente há um planeta que apresente todas elas, ainda de acordo com o produtor de conteúdo. E, mesmo que tudo isso aconteça ao mesmo tempo, deveria acontecer ao mesmo tempo em que nós existimos.
(Credito: NASA, ESA, and J. Lotz, M. Mountain, A. Koekemoer, and the HFF Team)
"A gente fala que o universo pode até ser infinito, mas as condições para que a vida surja em um determinado lugar é outra história. Para existir uma vida inteligente como a gente conhece tem que ter um planeta do tamanho da Terra, com uma atmosfera que tenha determinados gases, e esses gases em determinada proporção, tem que ter uma Lua grande como a nossa - a nossa é muito grande com relação ao planeta -, você tem que ter uma estrela com a temperatura parecida com o Sol - não pode ser muito quente nem muito fria. Cada coisa dessas que você vai colocando elimina um monte de possibilidades. Então por exemplo, estrela parecida com o Sol. Já não são todas. Tem um monte grande demais ou pequena demais. Então se você tira todas elas, só sobra um determinado número de estrelas. A estrela tem que ter planetas, e não são todas que têm. Precisa existir um planeta parecido com a Terra, rochoso - já não são todos. Então você elimina tudo isso. Fora todas as outras situações", explica.
Sacani completa que já foram feitos "estudos que falam que o sistema planetário precisa ter um planeta grande como Júpiter em um determinado lugar para ajudar a equilibrar todas as órbitas, não deixar o planeta chegar muito perto ou muito longe da estrela, etc. Fora que eu não falei praticamente nada. São várias variáveis, e a gente talvez nem conheça todas elas (...) pode ser que outra civilização já tenha existido e se autodestruiu."
Apesar de parecer pessimista quanto a outras sociedades, o profissional em Geofísica se mostra confiante quanto à possibilidade de formas de vida mais simples que ainda não seja de nossos conhecimento: "A vida microbiana, a gente sabe que tem todos os ingredientes para que exista (...) acho que está cheio por aí".
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