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Reprodução/Instagram @isapereiranunes
Reprodução/Instagram @isapereiranunes

Isa Pereira Nunes é, atualmente, uma das melhores fisiculturistas do Brasil e do mundo. Com apenas 26 anos de idade, a atleta da Wellness já se consagrou como campeã do Arnold Classic Ohio e terceira colocada no Olympia (tido como a "Copa do Mundo" do fisiculturismo, o show mais importante do circuito profissional).

Neste ano, a vida de Isa não foi fácil. Além de ter que lidar com a morte de sua mãe, ela teve que se recuperar de uma lesão que sofreu na academia em 2021. A atleta de apenas 1,53m e 54kg viu 250kg caírem em sua perna após a trava de um aparelho falhar.

Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, ela explica os parâmetros de sua categoria, conta sua trajetória no esporte, fala sobre histórias de superação e revela o que se passa na cabeça de um atleta ao receber um troféu de Arnold Schwarzenegger, o maior nome da história do fisiculturismo, pessoalmente. 

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"O esporte me resgatou"

Mais coxa e bumbum. Era isso que a até então jovem de 15 anos almejava quando entrou na academia. Mal sabia que, uma década depois, a garota que sequer gostava de fazer dieta seria uma das melhores atletas do mundo. "Quem me apresentou a musculação foi meu namorado, que hoje é meu esposo. Meu maior objetivo na época era conseguir pernas e glúteos, nem conhecia o fisiculturismo. Meu objetivo era ser a famosa ‘panicat’. Ter pernão, ter bundão", diz Isa.

Com o tempo, a jovem começou a se apegar mais aos treinos. No entanto, nunca foi fã de fazer dieta. Suas pretensões, até os 18 anos de idade, não eram de ser uma atleta de fisiculturismo e subir em um palco para competir. O que mudou sua visão com relação à musculação e ao estilo de vida foi uma fase ruim.

"Em 2014, passei por uma situação muito difícil da minha vida, na qual quase entrei em depressão. Estava muito triste, sem ânimo para nada. Uma menina jovem, com apenas 18 anos, sem expectativa de vida, sem se amar. Foi quando meu esposo me convidou para assistir a uma competição de fisiculturismo aqui no Rio de Janeiro. Quando eu vi a categoria Wellness, aquelas meninas em cima do palco, algo me chamou a atenção. Meu coração bateu mais forte e eu falei: ‘Tá aí. Isso vai ser a minha saída, a minha salvação. Vou tentar focar nisso para eu voltar a me amar, a ver sentido na minha vida", lembra a fisiculturista.

Foi então que Isa passou a se dedicar ao esporte e viver a vida de uma atleta, de fato. Meses após se preparar, ela finalmente estreou: "Quando eu subi no palco, eu tive a certeza de que era aquilo que eu queria. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Não ganhei, mas parecia que eu tinha ganho. Na verdade, ganhei. Ganhei minha autoestima de volta, minha segurança, minha alegria, meu sentido. Quando eu pisei num palco, eu me senti em casa."

"O esporte me renovou, me resgatou. Voltei a enxergar sentido na vida e achei meu propósito", ressalta. Para ela, o fisiculturismo "traz uma dedicação, uma maturidade que, muitas vezes, quando a gente é adolescente, não tem. Quando você aprende a ser atleta, aprende sobre disciplina, determinação. Quando você quer uma coisa, precisa batalhar para conquistar aquilo, não vai chegar até você… O esporte salva e transforma vidas".

Wellness

No ano passado, a Wellness se juntou a Bikini, Figure, Women's Physique e Women's Bodybuilding no hall de categorias femininas do Olympia, o campeonato mais importante e difícil do fisiculturismo.

As categorias diferem no padrão exigido pelos árbitros. Enquanto a Bikini conta com atletas mais magras e parecidas com modelos, por exemplo, a Women's Bodybuilding apresenta as mulheres mais musculosas e condicionadas do planeta. 

"Na minha opinião, as mais ‘vendáveis’ são Bikini e Wellness", explica Isa. Para ela, sua categoria é a ideal para as mulheres brasileiras, em média: "A bikini é uma estrutura bem magrinha, como se fosse uma modelo. Talvez uma brasileira, que já tem no biotipo um quadril mais largo, quadríceps (músculo que fica na parte anterior da coxa) maior, talvez tenha mais dificuldade de se enquadrar. Você tem que contar mais com a sua genética, com seu biotipo".

"Na Wellness, você pode ter um pouco mais de perna, de glúteo, não precisa chegar tão seca, tão ‘slin’. Por isso acho que é uma categoria mais vendável, mais atraente - grande parte das mulheres quer ter pernas e glúteos torneados… a tendência é crescer cada vez mais… vai bater de frente com a Classic Physique (na popularidade)", completa.

Ainda de acordo com Isa, "a tradução de ‘Wellness’ para português é ‘bem-estar’. Essa é uma categoria que prioriza muito a feminilidade e a beleza das atletas. São atletas que têm mais desenvolvimento nos membros inferiores do que nos superiores. Ou seja, a atleta vai ter mais desenvolvimento nas pernas e nos glúteos, cintura fina, ombros e dorsais trabalhadas (nada muito chamativo), uma leve desproporção entre pernas e tronco. Também conta muito o desfile, a aparência, todo o conjunto. Não é uma categoria na qual apenas o músculo é avaliado. Coisas como a apresentação e o carisma da atleta também são levados em consideração".

Mulheres no fisiculturismo

Apesar de as mulheres - pelo menos até o momento - serem mais bem-sucedidas que os homens no fisiculturismo (enquanto diversas brasileiras já conquistaram o Olympia, nenhum brasileiro conseguiu se tornar o Mister Olympia), a maior parte dos grandes influenciadores do meio no país são do sexo masculino

"Os atletas masculinos vendem mais e atraem mais público. Têm muito mais visualizações nas redes sociais. Para você ter ideia, o campeão da categoria Open recebe 400 mil dólares. Sabe quanto a campeã da Wellness recebeu no ano passado? 30 mil dólares. Olha a discrepância. Então, com certeza, o fisiculturismo masculino é muito mais valorizado do que o feminino", aponta Isa.

A atleta reconhece a diferença entre os gêneros, mas acredita que a situação, aos poucos, está melhorando: "Isso, aos pouquinhos, está mudando. Uma prova disso é que hoje a categoria Wellness está no Olympia. Quando eu comecei, não existia Wellness profissional. Acho que a tendência é crescer mais. Tenho fé de que, algum dia, todas as categorias femininas serão tão valorizadas quanto as masculinas. Mas, para isso, nós precisamos conquistar o público".

"É o público quem dá o retorno, quem assiste às competições, aos vídeos, que compram os produtos dos nossos patrocinadores. Então acredito que as mulheres precisam se aproximar do público, levar e divulgar o esporte para atrair mais pessoas", completa a fisiculturista.

Arnold Classic Ohio e Olympia 2022

Em março deste ano, Isa protagonizou um momento que, para grande parte dos atletas e fãs de fisiculturismo, é o ápice do reconhecimento. Em Columbus, Ohio (EUA), ela venceu o segundo campeonato mais importante do mundo, que foi criado por Arnold Schwarzenegger e leva seu primeiro nome. Com o título, ela recebeu o troféu diretamente das mão do "The Terminator".

"Fico até arrepiada, só de lembrar. O Arnold Schwarzenegger é muito mais que o ‘pai do fisiculturismo’. Ele é ator de Hollywood, foi governador da Califórnia, é um astro de cinema. Quem não conhece Arnold Schwarzenegger? É uma pessoa que eu só via pela televisão, pelo computador, e, de repente, ver aquele homem na minha frente, me entregando o troféu e sorrindo para mim, foi indescritível. Eu não consigo mensurar em palavras… parece que eu estava em outra dimensão… foi muito emocionante, tive que segurar muito o choro", afirma.

Para conquistar o campeonato, a fisiculturista bateu Angela Borges, que ficou com a segunda colocação no Olympia 2021. Com a vitória, muitos especialistas e espectadores apontam Isa como a principal rival de Francielle Mattos, atual detentora do título.

De acordo com Isa, "cada campeonato é um campeonato. Não garanto que, se eu ganhar de uma atleta, não posso perder para ela depois. Mas eu confio muito no meu trabalho e do meu treinador. Eu estou evoluindo para poder bater de frente com qualquer outra atleta, porque nós buscamos a minha melhor versão."

Ela ainda diz que sua vitória no Arnold Classic Ohio 2022 foi como um “incentivo a mais para brigar pelo título do Olympia”.

O Olympia deste ano acontece entre os dias 15 e 18 de dezembro. Ou seja, Isa Pereira Nunes fará a competição mais importante de sua vida em menos de três semanas. Para o show, ela pretende desenvolver mais sua parte superior, como dorsais e ombros. Para bater de frente com a atual campeã, ela também promete um maior volume de glúteos.

Apesar de destacar o potencial de suas adversárias, a fisiculturista deixa claro: "Sou eu mesma que eu tenho que superar. Eu não aceito competir com um físico inferior ou igual ao do campeonato passado. Meu maior objetivo é mostrar uma nova versão. Se a minha melhor versão for o suficiente para vencer o Olympia, que assim seja."

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